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Investimento de meio bilhão prepara chegada do suco de laranja “Made in MS”

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Grupo Cutrale, um dos líderes globais na produção e exportação de suco de laranja, vai investir R$ 500 milhões no plantio de laranja entre Sidrolândia e Campo Grande.

Por Agência 24h

Desde 2018 as maiores indústrias de suco de laranja estão com as atenções voltadas a Mato Grosso do Sul. Por três boas razões – clima propício ao cultivo de laranja, muita água e condições sanitárias. No cenário atual, o Estado está menos vulnerável à pressão da doença que ataca pomares em São Paulo. Por isso, tem potencial para abrigar os projetos de produtores e da indústria em fuga das áreas mais afetadas.

A doença é o Greening. De acordo com a Embrapa, o Greening, inicialmente chamado de “doenças do ramo amarelo”, e posteriomente huanglonbing (HBL), doença do dragão amarelo, é considerada a praga dos citros de maior impacto no mundo, em função da dificuldade de controle, da rápida disseminação e por ser altamente destrutiva.

A doença já foi relatada em MS, mas sem pressão, com casos isolados em pomares não comerciais na divisa com SP. Então, o foco dos investidores do setor está nas regiões  onde já estão sendo desenvolvidos projetos de citricultura com rígido protocolo de defesa sanitária.

Termo de acordo entre áreas de gestão, assistência e defesa sanitária prepara entrada de MS no mercado de suco de laranja (Foto: Mairinco de Pauda –Semadesc)

No dia 12 o governo do Estado obteve a confirmação de novos investimentos, além do grupo Cutrale, um dos líderes globais na produção e exportação de suco de laranja, que já havia anunciado projeto de R$ 500 milhões no plantio de 30 mil hectares da fruta, entre Sidrolândia e Campo Grande, sinalizando ainda com uma fábrica de suco de laranja. Ou seja, a produção local vai agregar valor à agroindústria no Estado.

A migração para MS, em movimento que marca a expansão da indústria citrícola para regiões com menor pressão da devastadora doença, reforça a política de diversificação da economia do Estado e por ser um produto de exportação, é mais um fator a contribuir com a visibilidade de MS no mercado global, que está em alta devido a força do agro. Hoje as principais commodities são minério de ferro e grãos. Na balança comercial se agregou a celulose e logo será a vez da laranja.

Segundo a Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), hoje a citricultura tem 2 mil hectares cultivados em Mato Grosso do Sul e deverá saltar para 10.300 hectares nos próximos anos. A meta foi reforçada durante reunião na governadoria para assinatura de um termo de acordo com  empresários da citricultura que estão investindo em MS, como a Cutrale (Sidrolândia e Terenos), o grupo AgroTerenas (Bataguassu), Grupo Junqueira Rodas (Paranaíba e Naviraí), e um produtor tradicional de laranjas de mesa de Três Lagoas.

O acordo prevê a cooperação técnica, científica e de mobilidade entre as instituições visando o desenvolvimento e execução de programas e projetos e o intercâmbio de informações, dados técnicos, experiências, pesquisas e o estabelecimento de mecanismos para sua realização, que visem o desenvolvimento da Citricultura no Estado, de forma sustentável e economicamente viável.

De acordo com o titular da Semadesc, Jaime Verruck, há um ano o Governo do Estado iniciou as tratativas com ações para atrair os investidores. “Nossa ideia assim como a e captação de indústria, foi a de buscar neste momento a base produtiva da citricultura no MS por entendermos que temos grandes potencialidades. Além do clima, solo e áreas disponíveis, notamos em especial a migração de produção de laranjas de São Paulo para MS em função da doença do “Greening”. Por isso iniciamos ano passado os contatos com o setor, tivemos as primeiros reuniões e a partir de lá as coisas avançaram”, destacou.

Segundo ele, com a assinatura do termo de cooperação, mais um passo foi dado para a operacionalização do processo. “Agora com este termo de acordo a ideia é absorver o know-how com a Fundecitrus, para a execução de projetos para desenvolver a cadeia no Estado”, acrescentou.

Durante o encontro, empresários que já estão investindo no Estado e iniciando projetos também falaram de suas perspectivas. Recentemente o Grupo Cutrale anunciou investimento no valor de R$ 500 milhões no plantio de 5 mil hectares de laranja na Fazenda Aracoara, propriedade localizada às margens da rodovia BR-060, na divisa de Sidrolândia com Campo Grande.

De acordo com a Cutrale, (conglomerado de empresas que lidera as exportações brasileiras de laranja), serão 5 mil hectares irrigados com o plantio de 1.730 milhão de pés de laranja, considerando a média de 346 pés de laranja.

A previsão, segundo o diretor agrícola da Cutrale, Valdir Guessi, é iniciar o projeto ainda em agosto. Serão 30 mil hectares plantados, garantindo o nível de produção que viabilizaria a instalação de uma futura indústria de processamento da laranja em suco.

Repercussão

(Foto: Paulo Whitaker – Reuters)

O assunto foi reportagem da agência Reuters, reproduzidas pelo Estadão e Revista ForbesAgro. Para Reuters, a Cutrale disse que “confirma que esteve reunida com o governo do Mato Grosso do Sul para tratar de investimentos na citricultura da região”.

Como as principais indústrias de suco estão instaladas em São Paulo, maior produtor e exportador de suco de laranja, pode não ser econômico transportar as frutas até a tradicional área produtora do cinturão citrícola paulista e de Minas Gerais, por isso a eventual necessidade de se construir uma indústria processadora em Mato Grosso do Sul.

Por outro lado, o plantio seria instalado em uma região de menor pressão do Greening, doença da citricultura que não tem cura e que reduz a produtividade, um dos fatores da redução da produção de laranja no Brasil, mas principalmente nos Estados Unidos, o que tem levado os preços globais do suco para patamares recordes.

Outros investimentos – Em paralelo a essas ações, o governo do Mato Grosso do Sul afirmou que iniciou contato com os investidores de São Paulo, na área da laranja. Jaime Verruck diz que a Cutrale já havia iniciado, há cerca de dois anos, o plantio de 145 hectares em Sidrolândia, a fim de verificar como seria o comportamento dos pomares.

O secretário disse que o movimento da Cutrale “foi importantíssimo, porque nós fechamos há poucas semanas um projeto de 1 mil hectares de laranja irrigada no município de Paranaíba e temos outro iniciando em Santa Rita do Pardo”. Além da Cutrale, o setor é concentrado em grandes empresas como a Citrosuco e a Louis Dreyfus Commodities.

“Nesse momento, nós temos a sinalização de praticamente 6,5 mil hectares de laranja plantada em Mato Grosso do Sul, em sistema irrigado.”

Verruck opinou que “a citricultura vai bem nas áreas mais arenosas, com menor teor de argila e isso é importante”. “Como a laranja está vindo com sistemas de irrigação, nós temos aí uma perspectiva de investimentos altos, mas com alta produtividade”, disse ele, lembrando que tais projetos terão prioridade no financiamento via fundo constitucional (FCO).

Mato Grosso do Sul não tem tradição na produção de frutas, mas nos últimos três anos passou a adotar uma política de diversificação da base econômica que tem estimulado a instalação de grandes, médias e pequenas indústrias de alimentos, incentivando o plantio de culturas temporárias. Hoje a soja, o milho e a cana de açúcar respondem por 94,9% do Valor Bruto da Produção no total das 29 culturas permanentes e temporárias do setor agrícola.

Plano Estadual de Fruticultura

Clima e terra com valor agronômico ideal podem sim se decisivos nos investimentos da indústria de suco de laranja. É o que aponta o Plano Estadual de Fruticultura. De acordo com a engenheira agrônoma da Semadesc, Karla Nadai, responsável pelo projeto, atualmente no Estado a fruticultura ainda é incipiente, mas já possui plantios isolados. “A atividade, apesar de muitos pensarem, não necessariamente está sendo tocada pela agricultura familiar. Temos fruticultura nestas pequenas propriedades como mais uma opção de diversificação da produção. Mas existem pomares de porte empresarial e comercial”, esclarece.

Segundo ela, Mato Grosso do Sul conta com regiões que são produtoras de goiaba, mamão, abacaxi, abacate, manga, banana e citrus. “São regiões importantes que vem atendendo o entorno de Campo Grande. Mas principalmente temos produção saindo do Estado e que não passa pela assistência técnica da Agraer. Alguns são atendidos pelo SENAR no interior e outros têm assistência técnica particular”, acrescenta.

Por isso os dados sobre o perfil do setor estão sendo sistematizados. Em fevereiro equipe técnica da Semadesc visitou um citricultor de Três Lagoas que tem plantio comercial de 200 hectares de cítricos. “Estamos saindo a campo visitando esses produtores. Estou conversando com atores principalmente da assistência técnica privada e com o Senar”.

Outra visita técnica ocorreu em Costa Rica. “No município eles têm um programa onde adquiriram mudas e estão disponibilizando para o produtor assistência técnica custeada pela prefeitura. Além disso temos plantios de frutas em Figueirão, Paraíso das Águas e Camapuã, cuja produção está sendo comercializada no estado de Goiás. Não estão passando pelo Mato Grosso do Sul”, afirmou destacando que a meta é justamente cativar mercados.

A Semadesc fez também contato com a Coopgrande (Cooperativa Agrícola de Campo Grande) que tem um número expressivo de produtores de frutas da região de Jaraguari, Campo Grande, Terenos e Dois Irmãos do Buriti. “Já identificamos também algumas variedades que eles já vêm produzindo. Por isso acreditamos que, somente aqui no entorno de Campo Grande tenhamos uns 150 produtores de frutas”, destaca.

Questão sanitária

Greening, inicialmente chamado de “doenças do ramo amarelo”, e posteriomente huanglonbing (HBL), doença do dragão amarelo, é considerada a praga dos citros de maior impacto no mundo,

“Iniciando com um pomar em lugares livres da doença, adotando o manejo correto, com rigor no controle do psilídeo (inseto transmissor da bactéria causadora da doença), não deixar aumentar as plantas doentes e eliminá-las desde o início, isso certamente vai facilitar o controle do Greening nessa região. A pressão é menor, pois não tem o mesmo índice de Greening, psilídeo e plantas contaminadas, como no cinturão citrícola, isso vai favorecer o manejo, segundo pesquisadores do setor.

A agrônoma esclarece que a questão sanitária vegetal é uma grande preocupação que já existe no Estado. “No Plano Estadual a nossa prioridade é colocar a questão sanitária em consonância com a Iagro, para que as doenças não se espalhem aqui no Estado. Então, dentro do plano estadual vai ter toda uma ação de manejo sanitário tanto dos viveiros de mudas, quanto próprios pomares”.

Um dia de Campo em Costa Rica, no mês de fevereiro, tratou da questão sanitária. A gerente de Inspeção e Defesa Vegetal da Iagro, Glaucy Ortiz e a coordenadora Karla Nadal conversaram com os produtores locais. O engenheiro agrônomo José Loreto, especialista na área, também apresentou soluções práticas para ganhos de produtividade e qualidade, junto com representante do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura).

Sobre os protocolos relacionados ao Greening, Glaucy Ortiz, falou do controle de mudas, coibir o comércio irregular, um risco à disseminação.

Uma produção só pode ser certificada para fora do estado e mercado externo com das as medidas de controle sanitário. Segundo o engenheiro agrônomo Sérgio Nascimento, do Fundecitros, é fundamental que os produtores tenham conhecimento do poder destrutivo do Greening. “Sabemos que o Greening tem causado grandes prejuízos no estado de São Paulo, e o Mato Grosso do Sul também já tem relatos da presença da doença, segundo Iagro. Mesmo com incidência baixa, os produtores precisam adotar estratégias rigorosas de manejo para que os pomares permaneçam saudáveis e produtivos”.

(*) Com informações de Rosana Siqueira – Semadesc)

(Foto do destaque – Divulgação Cutrale)

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