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Com mais de 12,5 mil “gatos”, Corumbá ‘joga fora’ 70% da água tratada

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Mais de 10% da população de Corumbá consome água tratada por meio de ligações clandestinas. Prejuízo dos furtos acaba sendo transferido para quem paga tarifa

Operação contra “gatos” começou na segunda-feira em Corumbá
Agência 24h

A Empresa de Saneamento Básico de Mato Grosso do Sul (Sanesul) registra em Corumbá um dos maiores índices de desperdício de água tratada de que se tem registro em todos os serviços de abastecimento. Segundo a empresa, em Corumbá já foram identificadas 12.555 ligações irregulares no município. As ligações clandestinas, chamadas de “gatos”, representam perdas de controle e tarifação e correspondem a mais de 10% da população de Corumbá. As perdas vem de muito tempo e somente agora a Sanesul decidiu uma ação mais incisiva pra resolver o problema, que acaba caindo no colo dos contribuintes que pagam pelo consumo.

Segundo a Sanesul, o índice de perdas é grande devido aos “gatos”. No mês de abril, a concessionária produziu 1,3 milhão de m³ de água e foram utilizados de forma irregular 350 mil m³. Para a empresa, as ligações irregulares significam perdas de 60%, índice que aumenta para 70% com os vazamentos na rede.

Para coibir o furto de água a Sanesul iniciou na segunda-feira operação com apoio da Polícia para identificar os fraudadores. Em Corumbá a situação chegou a um momento insustentável. A população da cidade, segundo o censo de 2022, é 96.268 pessoas. Houve uma queda de 7,14% em comparação com a estimativa de 2020. Para a Sanesul, o número de ligações irregulares no conjunto de toda população é “alarmante” e a operação coincide com a recomendação de se economizar água em razão da crise hídrica que se avizinha no Pantanal. A água limpa distribuída na cidade é captada no rio Paraguai.

“O uso irresponsável da água prejudica não apenas os consumidores que pagam regularmente, mas também impacta nas tarifas e no fornecimento adequado de água para toda a comunidade”, diz o diretor-presidente da empresa, Renato Marcílio. “Estamos totalmente comprometidos em resolver essa questão das ligações irregulares em Corumbá. É fundamental garantir que a população tenha acesso a um serviço de qualidade”, afirma.

Polícia é acionada para combater furtos de água

Redes Clandestinas

De acordo com o gerente da unidade regional da Sanesul em Corumbá, Marcos Martins, foram identificadas 12.555 ligações irregulares clandestinas na região. Segundo ele, é preciso regularizar a situação não só do ponto de vista legal, mas também político, já que o marco legal do saneamento estabelece a universalização do abastecimento e o fornecimento de água tratada precisa atender a conformidade do marco legal. Se isso não ocorrer o Estado pode ficar sem investimentos públicos na educação e saúde. Os índices de saneamento são usado entre os critérios para liberação de recursos públicos.

O alto índice de desperdício de água é contraproducente, “especialmente devido às dificuldades hídricas no rio Paraguai”. Sem o uso racional, Corumbá pode enfrentar o risco de desabastecimento.

O gerente regional explica que a Sanesul tem investido em equipamentos e tecnologia para redução de perdas, principalmente combatendo vazamentos. No entanto, mais de 60% das perdas são atribuídas a fraudes, conhecidas como “gatos”. Diante desse cenário, a Sanesul uniu forças com a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública para conscientizar a população de que o furto de água é um crime que será punido.

Martins enfatiza que a ação não tem como objetivo principal a punição, mas sim regularizar a situação das ligações clandestinas. Ele ressaltou que a empresa está promovendo um mutirão para identificar e corrigir as 12.555 ligações inativas na região, as quais indicam desvio de água.

Além das medidas punitivas, a Sanesul está realizando campanhas de conscientização para incentivar a regularização das ligações clandestinas. O delegado da Polícia Civil de Corumbá, Fillipe Araújo, disse que o furto de água na região é um crime permanente e a pessoa que for identificada será conduzida até a delegacia. Ele disse que somente na investida iniciada na segunda-feira durante visita em 10 residências foi identificada a prática de furto de água por meio dessas ligações clandestinas.

“É um crime que se propaga e está se consumando a toda hora, e a pessoa pode ser presa em flagrante”, avisou o delegado, advertindo que além das punições previstas em lei o fraudador também está sujeito a multas.

Crise hídrica

Captação de água no rio Paraguai para estação de tratamento em Corumbá

Devido a situação de estiagem e iminente escassez hídrica, o corpo técnico da ANA (Agência Nacional de Águas) preparou uma nota para emissão de ‘declaração de escassez hídrica’.

Com a ‘declaração de escassez hídrica’ as empresas concessionárias de distribuição de água podem, inclusive, impor tarifas emergenciais para custear obras ou serviços adicionais a fim de evitar o desabastecimento, diz o superintendente da ANA, Patrick Tadeu Thomas.

“Assim, considerando a atual situação hidrometeorológica da bacia do Alto Paraguai (Pantanal), que encerra o período chuvoso com o rio Paraguai apresentando níveis d’água transitando entre os mínimos valores registrados para época, e a perspectiva de chuvas abaixo da média para o período de abril a junho, em que, de acordo com a normal climatológica, são esperados valores baixos de precipitação, considera-se importante instituir uma Sala de Crise com o objetivo de acompanhar e viabilizar medidas para mitigar os impactos da seca sobre os usos da água até o início do próximo período chuvoso na bacia”, afirma a nota técnica da ANA.

O parecer também considerada que entre os possíveis impactos da seca sobre os usos da água estão o comprometimento de captações para abastecimento humano, como é o caso das cidades de Porto Murtinho, Corumbá – que é abastecida pelo Rio Paraguai – e Ladário, além da navegação comercial no rio, que poderá ser prejudicada por falta de calado (profundidade de água). Outra preocupação é que a possibilidade do aumento de focos de calor, o que aumenta a possibilidade a ocorrência de incêndios florestais na região durante o período seco.]

(*) Com informações do Governo do Estado, Sanesul e ANA

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