Avanço do fogo sobre o Pantanal já supera em área afetada as taxas registradas em 2020, ano mais destrutivo da série histórica.
Por Agência 24h
Bombeiros de bases avançadas instaladas no Pantanal resgataram no final da tarde de sexta-feira, 14, uma família que estava ameaçada por incêndio. Uma mulher e três crianças que moram no Sitio Pioval, a uma hora e meia de Corumbá, foram retiradas do local por bombeiros de uma das 13 bases avançadas que operam desde 2 de maio em áreas de difícil acesso.
O foco de incêndio se alastrou rapidamente por causa do vento e da vegetação seca, mas os bombeiros conseguiram evitar que o fogo atingisse a casa dos moradores resgatados. A proteção foi feita com barreira úmida com água bombeada do rio Paraguai.
O avanço do fogo sobre o Pantanal já supera em área afetada as taxas registradas em 2020, ano mais destrutivo da série histórica. De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ), as áreas pantaneiras queimadas nos cinco primeiros meses de 2024 somaram 332 mil hectares, extensão 39% superior à registrada no mesmo período há quatro anos.
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Os números parciais para junho aumentam a preocupação. Dados do INPE indicam que só nos 12 primeiros dias de junho o Pantanal já registrou o maior número de focos de incêndio para o mês inteiro em toda a série histórica – 733 focos, número que supera, de longe, aquele registrado em junho de 2020 (406 para todo o mês).
Desde o início do ano, até sexta-feira (14), o bioma já teve 2.019 focos de incêndio, segundo a plataforma BD Queimadas, do INPE. Em relação a 2020, apesar de a atual área de devastação ser maior, havia mais focos no mesmo período de quatro anos atrás, 2.206.
“Essa alta está em grande parte associada às condições meteorológicas decorrentes do efeito do El Niño. O segundo semestre do ano passado teve um período muito grande em que a quantidade total de chuva foi abaixo da esperada, e, no início deste ano, o estresse da vegetação favoreceu a ocorrência e propagação do fogo”, explicou Fabiano Morelli, chefe do Programa Queimadas do INPE.
A rapidez do fogo pega de surpresa os animais, que não têm tempo suficiente para escapar das chamas. O cenário que fica depois da devastação é dramático: carcaças incineradas de macacos, cobras e jacarés já são visíveis em meio às extensões carbonizadas do bioma.
“Tudo isso, quer dizer, a mudança climática mais queimada, eles acabam mudando completamente o ambiente e, a longo prazo, a redução da biodiversidade, perda de habitat”, observou Délcio Rodrigues, diretor do Instituto ClimaInfo. “Os animais não têm para onde ir”.
FORA DE CONTROLE
Mas este é somente um dos focos de incêndio que estão atingindo a região pantaneira, segundo reportagem do Correio do Estado. Ao todo, são 96 militares dos bombeiros em diferentes regiões do Pantanal. Três deles são responsáveis pela operação da aeronave Air Tractor, que atua principalmente no reconhecimento dos focos.
Além disso, segundo nota emitida na manhã deste sábado (15) pelos bombeiros, eles passaram a contar com o apoio de dez militares do Exército.
O comando do Exército, por sua vez, informou na sexta-feira que cerca de 90 militares estavam atuando no combate às queimadas, já que havia um foco próximo ao Forte Coimbra, onde os militares têm uma base. Em Mato Grosso do Sul e em parte de Mato Grosso o Comando Militar do Oeste tem em torno de 15 mil homens.
De acordo com os bombeiros, o foco próximo ao forte continuava ativo até a manhã deste sábado. Do lado boliviano do pantanal, outra grande queimada estava fora de controle. Na região, onde não chove desde meados de abril, os fortes ventos dos últimos quatro dias estão dificultando os trabalhos de combate.
Além do foco próximo ao local onde a família foi retirada e da região do forte, nesta sexta-feira os bombeiros também atuaram em um incêndio no Assentamento São Domingos e às margens da BR-262, com apoio de caminhão-pipa da empresa de mineração J&F. A BR-262 é a única via asfaltada de acesso a Corumbá e Ladário.
No município de Miranda, um foco surgiu no dia 12, na região da fazenda Caimã. Os funcionários da propriedade estavam combatendo, mas o fogo se alastrou foi solicitado auxílio do Corpo de Bombeiros. Na região do Paraguai Mirim, ao norte de Corumbá, apesar da implantação de uma série de aceiros, as chamas continuavam se alastrando nesta sexta-feira. E, em vez de conseguir fazer o controle, uma das equipes teve de abandonar a região porque corria risco de ser atingida pelas chamas. Só restou eles se abrigarem na sede de uma fazenda e impedir que o fogo destruísse a propriedade.
Bem ao sul do pantanal, em Porto Murtinho, uma das equipes realizou reconhecimento de um incêndio que ocorreu em uma propriedade no dia 13, que possivelmente foi ocasionado após arrebentar um fio de energia, devido aos ventos fortes. Mas, com ajuda de moradores da região, o foco foi extinto.
(*) Com informações do ClimaInfo, Agência Brasil, Governo de MS e jornal Correio do Estado
Fotos: Divulgação – CBM-MS