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A fundo. Disque denúncia amplia investigação de desvio na FFMS

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Francisco Cezário, acusado de desvio de R$ 6 milhões, já teve uma condenação por usar dinheiro da FFMS em benefício próprio, mas continuou comandando o futebol estadual por complacência de autoridades e da própria CBF.

Por Agência 24h*

Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Mato Grosso do Sul abriu um canal direto exclusivo para receber denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro, e outros crimes de desvio e corrupção que envolvem a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS). O número do disque denúncia é  67 99825-0547 (WhatsApp), tanto para mensagens quanto chamadas de voz. O MPMS vai receber denúncias anônimas por um período de 30 dias, para coletar eventuais novos dados da gestão de Francisco Cezário na FFMS.

O presidente da entidade finalmente está preso suspeito de desvio de R$ 6 milhões, lembrando que ele já foi condenado por usar dinheiro da FFMS para campanha eleitoral. Cezário era, até então, considerado o único “cartola” do futebol estadual. Embora seja dirigente de entidade e não de agremiação ou time de futebol, ele se encaixaria na figura do “cartola”, que em uma das definições da literatura trata-se de integrante da classe dos dirigentes esportivos que enriqueceram – muitas vezes ilicitamente – administrando entidades e clubes de futebol. Na decisão da Justiça que manteve a prisão preventiva, são alegadas provas robustas contra o presidente da FFMS, muitas delas “assombrosas”.

Não se sabe como ele continuou no comando do futebol estadual mesmo se suspeitando de movimentações frequentes de dinheiro em benefício próprio. Cezário foi prefeito de Rio Negro pelo PSDB. O partido ainda não se manifestou sobre a sua permanência na legenda. Agora a pergunta é se Cezário chegou até onde chegou por complacência de autoridades e político ou ele de fato tinha o poder de manipular a opinião pública.

Seguindo o jornal Correio do Estado, a procura de cidadãos no órgão de investigação ligado ao Ministério de Público de Mato Grosso do Sul tem sido grande. O telefone estará disponível para os próximos 30 dias, período em que as investigações continuam.

Dirigentes de clubes

A investigação do Ministério Público sobre a suposta organização criminosa que comanda a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS) aponta que os dirigentes dos clubes tinham conhecimento e eram coniventes com a corrupção, fazendo até uma espécie de “rachadinha” com Francisco Cezário e seus familiares.

Prova disso é que Aparecido Alves Pereira, ou Cido, um dos presos na terça-feira (21), “recebeu em sua conta pessoal mais de R$ 450.7331 de clubes de futebol entre os anos de 2019-2023 sem qualquer justificativa aparente”, diz o texto do Gaeco ao pedir a prisão dele e de outros seis “cabeças” do esquema.

Os repasses da Federação aos clubes são feitos da conta oficial da instituição. Pagamentos dos clubes, porém, eram depositados em outra conta, de uma pessoa física.

E, ao depositarem dinheiro na conta pessoal de Aparecido ficava claro que havia algo de errado, a não ser que os diretores destes clubes fossem extremamente ingênuos ao ponto de não saberem que estes depósitos teriam de ser feitos na conta oficial da Federação

A Operação Cartão Vermelho, do Gaeco, foi desencadeada na terça-feira, 21. Na ocasião foram cumpridos mandados de busca e apreensão.

As investigações já levam 20 meses, os desvios passam dos R$ 6 milhões, e os saques rastreados, dos R$ 3 milhões.

Para escapar de órgãos de controle, como o Coaf, os envolvidos faziam sempre saques de valores inferiores a R$ 5 mil. Alguns destes saques foram fotografados e filmados pelos policiais do Gaeco. Durante a busca e apreensão na casa de Cezário, mais de R$ 800 mil em espécie foram apreendidos.

As investigações continuam, e o próximo passo é fazer uma devassa nos celulares das seguintes pessoas: Aparecido Alves Pereira, o Cido, um dos funcionários mais antigos da Federação de Futebol; do próprio Cezário; de Francisco Carlos Pereira; Francisca Rosa de Oliveira; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira; do vice-presidente da FFMS Marcos Antônio Tavares; Marcos Paulo Abdala Tavares; Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira e de Rudson Alves Pereira.

PRISÕES MANTIDAS

O juiz da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, Eduardo Eugênio Siravegna Junior, em audiência de custódia, manteve a prisão preventiva do presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS)Francisco Cezario de Oliveira, e dos sobrinhos dele: Francisco Carlos Pereira, Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira, Umberto Alves Pereira e Valdir Alves Pereira, além de Rudson Bogarim Barbosa.

Cezário e os demais envolvidos são suspeitos da prática de crimes como peculato (desvio de dinheiro público), lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e demais delitos correlatos. A Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, órgão que tem voto e assento na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), era o principal meio para a prática destes crimes.

Siravegna também determinou a busca e apreensão dos telefones celulares de Aparecido Alves Pereira, o Cido, um dos funcionários mais antigos da Federação de Futebol; do próprio Cezário; de Francisco Carlos Pereira; Francisca Rosa de Oliveira; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira; do vice-presidente da FFMS, Marcos Antônio Tavares; Marcos Paulo Abdala Tavares; Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira e de Rudson Alves Pereira.

O magistrado ainda autorizou uma devassa nos aparelhos e nos computadores, além de informações armazenadas em nuvem, sinal de que o Gaeco deve continuar com as investigações.

Desvio de dinheiro

Na mira dos investigadores está o convênio entre a Federação de Futebol e a Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte), que bancava o transporte e a hospedagem dos jogadores nos campeonatos de futebol. Era deste convênio que parte dos recursos eram desviados, conforme aponta o Gaeco.

André Borges e Juliezar Barbosa, advogados de Cezário e de seus familiares, enviaram a seguinte declaração: “Os investigados irão exercer regularmente a defesa, garantia de todos; mas pedirão o direito de responderem ao processo em liberdade, como é assegurado pelo direito; no devido tempo, os esclarecimentos cabíveis serão prestados ao Judiciário”.

PRIMEIRA CONDENAÇÃO

Francisco Cezário de Oliveira, já teve uma condenação por desviar recursos da FFMS, conforme foi noticiado pelo site Campo Grande News..

Em 2009, o juiz Paulo Afonso de Oliveira, que atuava na 1ª Vara Criminal de Campo Grande, condenou Cezário a 4 anos e 5 meses de reclusão no regime semiaberto por apropriação indébita. Ele havia desviado recursos da FFMS, conforme investigação da PF (Polícia Federal) à época, para uma conta bancária pessoal e para a coligação de sua candidatura a prefeito de Rio Negro, cidade que governou entre 2001 e 2004.

O inquérito, que virou denúncia há 15 anos, foi aberto em 2001, a partir da CPI da Nike, na Câmara Federal. Ele já havia ocupado o cargo de prefeito no município, entre 1976 e 1983, e foi eleito novamente, em 2000, pelo PSDB, com 1.656 votos – 48% do eleitorado rio-negrense que foi às urnas. A suspeita surgiu porque, patrocinada pela marca mais valiosa do mundo esportivo, a CBF aportou R$ 15 mil – o equivalente a 32 salários-mínimos da época – para a campanha de Cezário para prefeito da cidadezinha a 150 km da Capital sul-mato-grossense.

Cezário também teria feito, entre 1999 e 2000, transferências em benefício próprio. O prejuízo comprovado, conforme decisão judicial, era de R$ 56.610,00 – 121 vezes o valor do salário-mínimo.

O presidente da FFMS foi condenado ainda a ressarcir os cofres da entidade do montante e ao pagamento das custas processuais. “Os motivos do crime, como é próprio dos delitos de apropriação indébita, são egoístas e atingem o patrimônio alheio”, afirmou o magistrado na sentença, conforme publicado pelo Campo Grande News, em 2 de setembro de 2009.

A culpabilidade do condenado ultrapassou os limites normais do tipo, em razão do alto valor apropriado, e ainda pelo fato de a vítima tratar-se de uma federação que tem por fim zelar pelo desporto, direito constitucionalmente garantido no artigo 217 da Constituição Federal”, completou o juiz Paulo Afonso de Oliveira.

Naquele mesmo ano, o homem que acumulava mandatos à frente da federação desde a década de 80, alternando-se no cargo de presidente e vice-presidente, ganhou “de presente” da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) mais 5 anos de permanência no comando da entidade.

Com a justificativa de garantir a continuidade nas ações voltadas a Copa do Mundo no Brasil, a CBF orientou a prorrogação dos mandatos dos presidentes das federações das então candidatas a sediar jogos do evento. Cezário havia sido eleito dirigente pela última vez em 1998 e depois, foi reeleito pelo menos duas vezes antes de ter o mandato prorrogado.

A Capital foi uma das candidatas a sediar partidas da Copa do Mundo de 2014, mas perdeu a disputa para Cuiabá, no Mato Grosso.

Cezário não foi preso em 2009 e recorreu da condenação. Em junho de 2010, às vésperas do julgamento do recurso no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), o dirigente disse em entrevista ao Campo Grande News que não estava preocupado. “Isso é um problema da Justiça. Se me acusam, devem provar. Mas não tenho informação sobre o andamento do processo, nem de data de julgamento”, segundo o Campo Grande News.

(*) Com informações do MPE, Correio do Estado e Campo Grande News.
Foto do destaque: Henrique Kawaminami/Campo Grande News

 

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