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A tecnologia às avessas

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A tecnologia às avessas enriqueceu os planaltinos e condenou os pantaneiros ao desterro e à vida nas periferias das cidades.

Por MANOEL MARTINS DE ALMEIDA

Quando o pantaneiro, em solitária batalha contra o assoreamento do rio Taquari, tapava os pequenos arrombados permitindo que o pulso de inundação acontecesse de maneira regular desejável, a cultura à época era a mesma herdada aos antigos habitantes da planície e o Pantanal era, então, um paraíso.

Mas, as outras tecnologias, aquelas que vieram para destruir boa parte deste território, a duras penas conservado por sua gente “atrasada”, deixaram marcas indeléveis em grande parte da sua antiga e bela paisagem e na alma da gente pantaneira que assistiu à destruição dos sonhos e do futuro do seu povo.

A tecnologia às avessas enriqueceu os planaltinos e condenou os pantaneiros ao desterro e à vida nas periferias das cidades.

É fato notório a condescendência do poder público com esse crime bárbaro.

Os pantaneiros foram e continuam sendo processados por tentarem salvar suas propriedades.

Mas essa nossa “cultura ultrapassada” teve que ceder lugar às tecnologias às avessas.

Hoje, o país sofre com o fanatismo ambiental que, de certa forma, tenta dominar o mundo todo. Verdade que em alguns importantes países europeus acontece uma grande reação contra esse radicalismo esperto e mal intencionado. Suas populações estão acordando para a terrível realidade, a mesma que, por todos os meios, tentam nos impor a realidade do atraso e da fome.

A pressão que alguns biomas brasileiros vêm sofrendo com essa política que sabidamente nada tem a ver com a preocupação ambiental, mas com a questão econômica e a dominação global, chegou com força aqui em nosso Estado.

Coagido pelo governo federal, a mando da ministra militante, o nosso governo estadual, sob total influência do Partido dos Trabalhadores, este muito desejoso, assim como a própria militante globalista, de atrapalhar os produtores rurais, vem, através do seu super secretário de todas as pastas possíveis e imagináveis, decretar que a cultura pantaneira e a ciência devem ser desprezadas em nome da tecnologia às avessas.

Da multisecular cultura pantaneira, no que diz respeito ao uso do fogo, sabemos que a natureza dita as normas de acordo com o clima e o regime das águas.

Em períodos de grande estiagem, o fogo deve ser evitado, isso é ponto pacífico. Não há barreira para o fogo nessas circunstâncias.

Os rios pantaneiros não impediram que fogo nas reservas da margem direita passasse para a outra. Nem mesmo o Rio Paraguai.

Não necessitamos da tecnologia às avessas para esse conhecimento.

Entretanto, por séculos, o pantaneiro utilizou o fogo com muita sabedoria. Seria de grande valia se as autoridades responsáveis acordassem para essa questão. Em nenhum lugar do planeta os saberes seculares são apequenados e desprezados como pretende o nosso super- hiper secretário.

Pagamos caro, todos os anos, pela tecnologia das reservas no Pantanal, também uma tecnologia às avessas. Para esses absurdos, grandes verbas e nenhuma penalidade. Tecnologia e tratamento às avessas.
Mas, estaria este pantaneiro a bradar no deserto? Estariam os povos da planície realmente ultrapassados culturalmente?

Não e não! Mil vezes não!!!

E para demonstrar o que afirmo, indico ao master secretário a  consulta, mesmo às escondidas, para não alarmar a sua plateia de desinformados, aos trabalhos da Embrapa Pantanal sobre a recomendação do uso do fogo na planície, vez que se trata de uma savana e que tem, portanto, em seu manejo essa especificidade.

Abro espaço para transcrever um trecho do que se considera o entendimento daquele centro de pesquisa a respeito do fogo no Pantanal:

“CARACTERISTICAS ECOLÓGICAS DO PANTANAL”.

O Pantanal é uma savana inundável. Como uma savana, o fogo é um dos principais fatores que determinam a biodiversidade, a estrutura da vegetação e a sucessão da vegetação.

O Pantanal, neste sentido, possui paisagens moldadas a fogo e a água.

O Pantanal, não por acaso, é classificado como um ecossistema dependente do fogo (Hardesty et Al.2005).

NECESSIDADE DE MANEJO.

Corredores de biodiversidade devem ser manejados, inclusive com o uso do fogo, assim como as áreas de reserva legal e APPs.

A manutenção das características ecológicas destas áreas depende tanto do fogo quanto de outras práticas, incluindo o pastoreio e a manutenção de campos, quando este tipo de vegetação estiver presente.

O desafio é grande, já que a política de exclusão do fogo é altamente negativa.

É preciso adotar boas práticas para este tipo de manejo, abordando a época, a periodicidade e os tipos de vegetação passíveis de queima.”

CQD.

Assim é, senhor secretário, que o desconhecimento da ciência e a arrogância com que trata a cultura pantaneira em nada acrescenta ao debate sadio que vise, acima de tudo, a verdadeira conservação do nosso inigualável bioma.

Esta política passará, este governo passará, o senhor, certamente, passará e a cultura pantaneira aqui estará encantando todos aqueles que, sinceramente, e não por outros motivos, se dizem preocupados com o Pantanal.

(*) Cidadão nascido e criado na inigulável cultura  pantaneira.

Publicado primeiro pelo site Lugares.Eco em 25 FEV 2024 – 11h34

Imagem do destaque: Cristian Dimitrius/NatGeo – Fonte: Agência Senado

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