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Pomares de laranja vão se espremer entre boi, soja e eucalipto

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Estudo diz que MS, PR e MG deverão responder por um terço da produção brasileira de laranja

Por Agência 24h

Estudo inédito do Robobank divulgado pelo site TheAgriBiz em reportagem sobre as novas fronteiras da citricultura diz que Mato Grosso do Sul, Minas e Paraná devem representar um terço dos pomares brasileiros em três anos. A razão é o greening, praga com a qual os produtores de São Paulo e do Triângulo Mineiro lutam há décadas. As dificuldades de controlar a doença estão provocando a migração para MS, Minas, exceto no Triângulo, e Paraná. Com a expansão da citricultura no Sudeste e Centro Oeste, Mato Grosso do Sul terá um quarto item de peso na balança comercial com a industrialização do suco de laranja. Hoje os principais produtos exportados são celulose, soja e carne.

De acordo com a reportagem, na tradicional região produtora de laranja — formada por São Paulo e pelo Triângulo Mineiro —, a contaminação vem comprometendo os pomares. Quando sobrevivem, as árvores têm a produtividade afetada, pressionando as margens dos produtores.

Na safra 2025/26, a área de laranja formada nos três estados deve atingir 73 mil hectares e a projeção é de que até 2028/29, deve atingir 100 mil hectares, com as maiores expansões em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

Renato Bassanezi, pesquisador do Fundecitrus, a associação de citricultores e indústrias de suco, prefere falar em expansão, e não em migração, “porque a estrutura continua forte aqui em São Paulo”. Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, que reúne os exportadores de laranja, vê “um movimento natural e necessário”:

“É uma decisão de investimento diante da inviabilidade de replantio em áreas com incidência alta de greening”.

Perdendo a guerra?

O greening é causado por uma bactéria, a Candidatus Liberibacter asiaticus, que é transmitida às plantas por um inseto, o psilídeo Diaphorina citri. A doença chegou ao Brasil em 2004 e começou a se alastrar com mais força em 2018. Hoje, é a maior restrição para a cadeia da laranja, segundo os especialistas.

“Estamos perdendo essa guerra. É muito difícil de controlar, a ciência ainda não deu conta”, contextualiza Cesar de Castro Alves, gerente da consultoria agro do Itaú BBA em entrevista ao Portal TheAgriBiz

Em São Paulo, principal produtor e exportador de suco de laranja, o greening afeta 44% dos laranjais. Em algumas regiões do estado, já está em mais de 70% das plantas, segundo o Rabobank. A previsão do Fundecitrus, que já vê uma desaceleração no aumento, é que a contaminação cresça por mais alguns anos antes de começar a ceder.

Enquanto isso não acontece, a praga colabora para ampliar os custos de produção. Segundo o Cepea, eles devem aumentar entre 15% e 16% na safra 2025/26 devido à “intensificação dos tratamentos fitossanitários” contra a doença.

Em MS, crescimento de três dígitos

Diante desse cenário, abrem-se duas opções. Uma delas é lutar contra o greening. Nesse sentido, o Fundecitrus anunciou a criação, em parceria com Fapesp e Esalq/USP, do Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA), com investimento de R$ 200 milhões em cinco anos.

Para Bassanezi, do Fundecitrus, o horizonte é positivo. “Em 2020, o psilídeo começou a desenvolver resistência aos inseticidas, e o greening cresceu muito. Desde então, os produtores passaram a fazer a rotação dos inseticidas, e a população do inseto caiu drasticamente. Não será do dia para a noite, mas estamos retomando as rédeas.”

Outro caminho, escolhido por cada vez mais produtores, tem sido levar a produção a regiões onde o greening ainda não chegou ou está sob controle.

Com isso, laranjais estão sendo instalados em outros estados. Segundo o Rabobank, o “vencedor” desse processo é a porção sul-sudoeste de Minas, pela combinação de proximidade do polo industrial paulista, clima favorável, disponibilidade de mão de obra e infraestrutura. “Minas Gerais deve atingir 15% da área plantada em SP até 2027/28, contra 10% em 2021/22”, diz o estudo.

Ainda segundo o banco, o Paraná deve seguir crescendo em ritmo “lento, mas consistente”, e o Mato Grosso do Sul vem ganhando destaque.

No estado, as plantações saltaram de 2,5 mil hectares em abril de 2023 para 18 mil hectares, segundo a engenheira agrônoma Karla Bethânia de Nadai, coordenadora da Secretaria Executiva de Desenvolvimento Econômico e Sustentável do estado.

A estimativa oficial, agora, é chegar a 30 mil hectares até o fim de 2026. Caso ela se concretize, o Mato Grosso do Sul passará a hospedar o equivalente a quase 10% da lavoura monitorada pelo Fundecitrus, que será de 362 mil hectares em 2025/26. Segundo o governo estadual, que assinou um convênio com o Fundecitrus para troca de informações e treinamento sobre a produção e o combate ao greening, os números incluem 4,8 mil hectares da Cutrale em Sidrolândia. A Citrosuco, outra gigante do setor, planeja um plantio experimental em Três Lagoas.

Além delas, a Cambuhy Agrícola, do Grupo Moreira Salles, anunciou no fim de 2024 um plantio de 1,2 mil hectares em Ribas do Rio Pardo; a AGT Citrus vai plantar 1,6 mil hectares em Bataguassu; a Frucamp vai plantar 3,2 mil hectares em Cassilândia; e o Grupo Junqueira Rodas iniciou plantios em Paranaíba (1,5 mil hectare) e em Naviraí (2,5 mil hectares).

Bassanezi, do Fundecitrus, ressalva que mudar de região por si só não resolve o problema. “Além de comprar ou arrendar terra, vai ter o preparo do solo, a compra das mudas e as etapas do plantio, incluindo o controle do greening. Além disso, nesses locais é preciso ter irrigação, e falta mão de obra para a colheita.”

Migração da indústria não é garantida

Como a indústria está toda em São Paulo, as novas lavouras terão o desafio de deslocar a produção. “Talvez a gente veja esmagadoras indo para outros estados, pode ser um caminho para produzirmos mais”, diz Castro Alves, do Itaú BBA.

O Rabobank também ponderou a conexão entre lavouras e polo industrial: “A indústria no Brasil é baseada nas processadoras de suco. Só 40 a 50 milhões de caixas são vendidas frescas, enquanto 200 a 250 milhões de caixas são processadas. Como resultado, a proximidade das plantas fabris é um elemento crítico”.

O estudo do Rabobank aponta o Mato Grosso do Sul como o candidato mais forte a receber uma nova fábrica, por estar além da distância máxima viável do polo industrial em São Paulo, estimada pelo banco em 450 km a 500 km. A partir daí, faz sentido erguer uma nova processadora, já que os custos com frete seriam impraticáveis.

“Mas há outros fatores, como qualidade das estradas, topografia, mão de obra e acesso a água e eletricidade para irrigação”, ressalva o trabalho.

Entre os governos dos estados com novas lavouras, a expectativa é grande de que o desenvolvimento da citricultura represente a chegada de novas fábricas.

No papel, a conta fecha. Uma indústria tem capacidade de processar cerca de 30 milhões de caixas por ano, explica Netto, da CitrusBR. Tomando por base a projeção de produtividade do Fundecitrus em 2025/26, de 869 caixas por hectare, e assumindo que os novos pomares tenham a mesma capacidade, na teoria ficará justificada a instalação de uma fábrica quando a lavoura local atingir 34,5 mil hectares.

Na prática, porém, pode demorar para o crescimento da porteira para dentro tornar essa opção atraente também da porteira para fora, diz o diretor-executivo da CitrusBR.

“Temos uma capacidade ociosa nas indústrias em São Paulo, e a lavoura em Minas Gerais é maior do que na Flórida, mas lá não tem fábricas. Me parece que ainda é mais viável arcar com os custos de frete.”

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