Projeto de iniciação científica da Escola de Administração e Negócios foca protagonismo feminino na desenvolvimento do turismo pela comunidade quilombola
Por Alíria Aristides – UFMS
No turismo de base comunitária, a população local é protagonista da experiência. É promovido em especial em comunidades tradicionais, onde os próprios moradores recebem os visitantes, planejam atividades e apresentam sua cultura. Um exemplo no Mato Grosso do Sul é o da comunidade quilombola Furnas do Dionísio, situada no município de Jaraguari. No local, o turismo de base comunitária passou a ser desenvolvido como uma atividade econômica de forma organizada e sustentável.
Um projeto de iniciação científica da Escola de Administração e Negócios (Esan) decidiu olhar a experiência com um enfoque em especial: o protagonismo das mulheres para consolidar o empreendimento turístico de base comunitária.
“São elas que lideram a associação local, são elas que estudam, são elas que abrem caminho para os jovens da comunidade, sem perder a ancestralidade e o respeito dos mais velhos. Principalmente, são elas que priorizam a identidade e o pertencimento, fazendo com que a luta pela continuidade das comunidades quilombolas seja sustentável”, relata a professora da Esan e orientadora do trabalho, Denise Barros de Azevedo.
A professora explica que empreendimentos turísticos de base comunitária, como Furnas do Dionísio, permitem uma experiência autêntica e real ao turista. “Seja numa vila de pescadores, de rendeiras ou artesãs, o turista quer conhecer um modo de vida diferente do seu, outra cultura, um ambiente que o faça distanciar-se do seu cotidiano e aproximar-se de outro”.
Para a realização da pesquisa, foram feitas entrevistas com empreendedoras da comunidade, além de observação e visita local, que permitiram o levantamento do perfil das protagonistas, características do negócio, mecanismos de atração do turista e a sustentabilidade do negócio. O trabalho evidenciou que o turismo de base comunitária realizado em Furnas do Dionísio é fundamentado na vida no campo, experiência gastronômica e atividades na natureza, protagonizado em especial por mulheres.
“Em Furnas do Dionísio, as empreendedoras investem nisso com visitas agendadas, podendo ou não ser acompanhadas de história oral, trilha e banho de cachoeira, além de proporcionarem refeição no tacho, à moda da casa. Com isso em mente, vê-se crescer o interesse das pessoas pelo turismo de base comunitária já que o mesmo proporciona ambientes naturais, que tratam a natureza com sensibilidade e carregam história, cultura e costumes particulares, proporcionando experiências únicas”, conta a professora.
A estudante do Curso de Turismo e integrante do projeto de iniciação científica, Valéria Oliveira, conta que a pesquisa também revelou que existem barreiras para as mulheres envolvidas no empreendimento. “Por gerações as mulheres são inovadoras no que tange ao empreendedorismo, mas a liderança feminina exerce um protagonismo marcado pela invisibilidade. Apesar de uma atuação preponderante nas decisões, a mulher para se fazer ouvir tem que se manter no anonimato”, relata.
“A luta pela ancestralidade, manutenção da identidade étnica e o sentimento de pertencimento são objetivos perseguidos pela comunidade quilombola independente do gênero. Mas, através da ressignificação e mantenimento de sua própria cultura, do empreendedorismo e do turismo de base comunitária, a comunidade de Furnas do Dionísio pode proporcionar o espaço para que as mulheres saiam da invisibilidade, sem esquecer um passado de histórias que é a base da futura geração”, finaliza a estudante.
Fotos: Alíria Aristides