Ao custo de R$ 472,4 milhões – recursos do governo federal, via novo PAC -, o anel viário será concluído num prazo estimado de dois anos e quatro meses
Por Silvio de Andrade
Nove meses após a assinatura da ordem de serviço, ocorrida em 19 de dezembro do ano passado, está previsto para iniciar ainda em setembro a obra de construção do anel viário que ligará a BR-267 à ponte bioceânica que está em construção no Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e a cidade paraguaia de Carmelo Peralta. O canteiro do grupo de três empreiteiras (Paulitec, DP Barros Pavimentação e Construtora Caiapó) começa a ser instalado ao lado da rodovia federal.
O contorno de 13,1 km de extensão é uma das obras estratégicas para viabilizar a Rota Bioceânica, projeto transfronteiriço de grande magnitude que abrirá um novo corredor comercial entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile com destino aos mercados da Ásia, Oceania e Costa Oeste das Américas, interligando os oceanos Atlântico e Pacífico. O transporte, hoje feito pelo Canal do Panamá, reduzirá 8 mil km de distância ou cerca de 15 dias.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ainda não tem uma data precisa em relação ao início da obra do contorno, informando, por meio de nota, que “será em breve”. Pela movimentação já adiantada na instalação dos alojamentos e outros compartimentos do canteiro, estima-se que o serviço começa em setembro a todo vapor. O pool de empresas (Consórcio PDC Fronteira) vai gerar, inicialmente, 280 postos de trabalho diretos e 160 indiretos.
O superintendente regional do Dnit, Euro Varanis, explicou que a contratação da obra, no ano passado, sob o regime de RDCI (Regime Diferenciado de Contratações Integradas), incluiu desde a elaboração dos projetos básico e executivo à execução do serviço de implantação e pavimentação do acesso. o contrato prevê ainda a construção de um Centro Aduaneiro de Controle de Fronteira, para atuação dos diversos órgãos envolvidos nesse tipo de atividade.
Ponte fica pronta em 2025; o acesso, um ano depois
Ao custo de R$ 472,4 milhões – recursos do governo federal, via novo PAC -, o anel viário será concluído num prazo estimado de dois anos e quatro meses (final de 2026), caso o cronograma seja cumprido. Isso significa que o acesso à ponte sofrerá um atraso de um ano em relação a entrega da travessia de concreto sobre o Rio Paraguai, que está com mais de 60% da obra concluída e será finalizada pelo governo paraguaio em dezembro de 2025.
Os sucessivos adiamentos da licitação e longos processos de engenharia e desapropriação da área, ocupada por fazendas e sítios, implicaram nesse impasse quanto a falta de acesso à ponte no ato de sua inauguração. O mesmo ocorre no Paraná, onde o trânsito de veículos do lado brasileiro pela segunda ponte de integração (ligando Foz do Iguaçu a Presidente Franco, no Paraguai), já concluída, será liberado em um ano devido às obras estruturantes em andamento.
“Temos que evitar o mesmo equívoco na ponte de Porto Murtinho-Carmelo Peralta, essa hipótese existe”, manifestou-se pelas redes sociais o interlocutor do Ministério das Relações Exteriores no projeto da Bioceânica, diplomata João Carlos Parkinson. O descompasso de prazos é um fato concreto, no entanto, os governos federal e estadual já admitem a efetivação da rota (logística e acordos aduaneiros) para o final de 2026 – ou meados de 2027.
No Paraguai
O cumprimento do cronograma da obra do contorno vai depender de vários fatores, dentre os quais o climático. O trecho rodoviário a ser implantado é em terreno plano do Pantanal (solo argiloso) e o período de chuvas na região ocorre, normalmente, entre setembro e fevereiro, com possibilidade de ocorrência de cheia do Rio Paraguai e inundações. Por essa razão, o projeto de engenharia prevê a construção de seis pontes de concreto para vazão da água.
A obra do lado brasileiro não será a única pendência da infraestrutura logística da rota que será concluída somente em 2026. No Paraguai, o mesmo prazo de 26 meses foi anunciado para pavimentar o terceiro e último trecho da rodovia-tronco do corredor (PY 15) dentro do país, de 224 km, entre Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo, já na fronteira com a Argentina. A ordem de serviço foi dada ao consórcio binacional formado pelas empresas Tecnoedil, Paulitec e Cidades.
“Cada etapa vencida é uma conquista”
Apostando na viabilidade da Rota Bioceânica e na transformação de Porto Murtinho como hub logístico rodo-hidroviário, o empresário do setor de transportes Neodi Vicari é hoje o maior investidor privado na região fronteiriça. Ele construiu na BR-267, ao lado do futuro anel viário, um terminal com estacionamento para 400 caminhões, que regulará o fluxo de cargas para a ponte e para os terminais portuários, e pretende expandir seus negócios.
“A expectativa é a melhor possível, ainda mais agora sabendo que vai começar a obra do contorno. O ideal seria ter o acesso pronto junto com a ponte e abrir as portas desse corredor, mas o importante é que o projeto está andando e vai ser concluído. Todos os países envolvidos estão empenhados e cada etapa vencida é uma conquista”, diz ele. “O canteiro da obra do contorno está sendo montado aqui ao lado do terminal, estamos vivendo uma realidade.”
Depois de integrar a expedição da Rila (Rota de Integração Latino-Americana), organizada pelo setor de transportes de Mato Grosso do Sul, em 2017, numa viagem de Campo Grande a Antofagasta (Chile), Vicari investiu R$ 40 milhões na implantação do terminal, incluindo restaurante e um posto de combustível. Ele projeta um novo estacionamento para mais 500 caminhões e um hotel. “Até 2026, com certeza, estaremos rodando pela bioceânica”, pontua.