Presidente da Petrobras diz em Três Lagoas que fábrica de fertilizantes será retomada, mas falta definir modelo de parceria
Por Agência 24h, JPNews e Semadesc*
A Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN 3), em Três Lagoas, será retomada. A afirmação é do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. No entanto, a estatal ainda não definiu como será essa retomada. Prates não descarta a parceria com empresas, como a chinesa Sinopec ou a Yara Brasil Fertilizantes, para a conclusão e operação da fábrica. A declaração foi feita na manhã desta sexta-feira (26), durante visita às instalações da UFN 3, em Três Lagoas. Prates veio acompanhado da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e foi recebido pelo governador Eduardo Riedel e o prefeito Ângelo Guerreiro, além de outras autoridades locais e do Estado.
“A Petrobras vai retomar e já está retomando. Estamos aqui para isso. A planta é da Petrobras. Parte do processo da análise de viabilidade econômica e da formatação de como será todo os projetos de fertilizantes, é análise e parcerias”, declarou o presidente da estatal, adiantando que, existem sete grupos diferentes interessados na UFN3.
“Não necessariamente com a Sinopec, temos sete grupos diferentes, da Suíça a Arábia Saudita, passando por Índia e China. São questões confidenciais que ainda estão em andamento, mas temos empresas que querem e podem fazer a parte de investimentos para finalização da obra, em troca de equity, participação no projeto final, até aqueles que querem se juntar e operar, essa ou outras plantas”, explicou.
A Petrobras estuda ainda a possibilidade de formar um round de fertilizantes, uma nova petrofértil, que ficaria com todas as participações, nessas e novas plantas. “E cada planta pode ter um sócio diferente. Essa pode ser uma estratégia válida. Por quê sócio é importante? Além das características usuais, em diluir riscos, diminuir exposição financeira, trocas técnicas tecnológicas, aprendizado, etc… tem uma quarta razão importante, que soma a essas três, que é validar as nossas decisões, porque o processo político natural é esse, e contesta a nossa decisão e a própria decisão do presidente Lula, de fazer investimentos em fertilizantes através da Petrobras. Quando trazemos um sócio, diminuiu muito a impedância da contestação sem sentido. Todas as avaliações da Petrobras, todos os projetos, principalmente os novos, todos temos a tendência de buscar uma parceria tecnológica com alguém, ou uma sociedade, mesmo que minoritária com uma empresa com grife naquele seguimento”, detalhou o presidente da Petrobras.
MINISTRA
A ministra do Planejamento Simone Tebet aprova o atual planejamento da Petrobras para a retomada da UFN 3. “O caminho mais rápido, podemos tropeçar no meio e paralisar a fábrica novamente, como aconteceu no passado. Estamos optando por um caminho mais seguro, que é rápido, só que requer, obviamente, mais cuidado”, disse Tebet ao defender os processos adotados pela Petrobras para retomada da fábrica. “A planta já está no Plano de Investimentos da Petrobras, ou seja, de alguma forma temos que retomar. Segundo passo, é essa visita na UFN 3”, destacou Simone, ressaltando que, a UFN 3 vai produzir fertilizantes e não será apenas uma misturadora, como cogitado no governo passado, quando a fábrica foi colocada à venda.
A ministra e o presidente da Petrobras explicaram que um levantamento de viabilidade técnica e econômica já está em andamento. Após isso, o processo de retomado da UFN 3 tem que ser aprovado pelo conselho administrativo da Petrobras. “Acredito que, até dezembro todas as respostas em relação a UFN 3 estarão respondidas”, disse a ministra.
“CICLO POSITIVO”
O governador Eduardo Riedel ressaltou o “ciclo positivo” que a região e todo Estado de Mato Grosso do Sul vivem, com o anúncio de vários investimentos dos setores público e privado. O governador lembrou da ferrovia que está em vias de ser construída ligando Aparecida do Taboado e Três Lagoas para escoar a produção de celulose. A ferrovia também é complementar à produção de fertilizantes da UFN-III, disse Riedel. “Um grande ganho e um diferencial competitivo para a operação dessa fábrica aqui”, completou o governador.
Histórico
As obras da fábrica em Três Lagoas começaram em 2011 e deveriam ser concluídas em três anos e meio, mas foram paralisadas em dezembro de 2014 com 81% concluídas, quando a estatal rescindiu contrato com o consórcio responsável pela construção alegando não cumprimento de compromissos trabalhistas e com fornecedores. A construção ficou paralisada desde então.
Em fevereiro de 2018 a Petrobras engendrou negociações para vender a planta ao grupo russo Acron. Executivos da empresa chegaram a visitar a Bolívia para negociar diretamente com o país vizinho o fornecimento de gás natural. Em fevereiro de 2022, a Petrobras chegou a confirmar, por meio de comunicado de mercado, que havia fechado acordo para as minutas contratuais da venda da UFN3 ao grupo russo.
Executivos da empresa chegaram a visitar a Bolívia para negociar diretamente com o país vizinho o fornecimento de gás natural. Em fevereiro de 2022, a Petrobras chegou a confirmar, por meio de comunicado de mercado, que havia fechado acordo para as minutas contratuais da venda da fábrica ao grupo russo. Entretanto, ao ser divulgado o Plano de Negócios da Acron, ficou claro que o grupo não tinha intenção de concluir a fábrica de fertilizantes e, sim, instalar apenas uma misturadora do produto. O Governo de Mato Grosso do Sul e a Prefeitura de Três Lagoas, que concederam incentivos fiscais para a atração do empreendimento, opuseram-se ao Plano de Negócios e a Petrobras cancelou a venda.
Por fim, em novembro do ano passado, a Petrobras decidiu retomar a construção da fábrica. Ao divulgar os detalhes do plano estratégico de investimentos para o período de 2024 a 2028, a petrolífera deu destaque à retomada da construção da UFN3 com a expectativa de concluir as obras num prazo de até dois anos. Agora, a previsão de retomada das obras passou para fim de 2024.
A UFN3 ocupa uma área total de aproximadamente 965 mil metros quadrados (o que equivale a 116 campos de futebol), sendo que somente a área construída corresponde a 667 mil metros quadrados. Na fase de obras a empresa projetou a contratação de cerca de 5 mil trabalhadores, enquanto na fase de operação, está prevista a geração de aproximadamente 505 postos de trabalho.
Assim que concluída, conforme descrito no EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental), a unidade deverá produzir aproximadamente 2.200 toneladas de amônia por dia e 3.600 toneladas de ureia por dia, ou seja, essa será a maior fábrica de fertilizantes nitrogenados no Brasil.
A UFN3 terá um papel fundamental na redução da dependência sul-mato-grossense dos nitrogenados, contribuindo também para o País atingir a autonomia no setor de fertilizantes. Em 2022, Mato Grosso do Sul importou 145,8 mil toneladas de ureia e 205 mil toneladas de sulfato de amônia; em 2023 aumentaram as importações: 177,17 mil/ton de ureia e 211 mil/ton de amônia.
O Brasil também é grande importador de fertilizantes. Em 2022, conforme dados apurados pela Assessoria de Economia e Estatística da Semadesc, foram importados 7,09 milhões de toneladas de fertilizantes a base de ureia e 5 milhões de toneladas de sulfato de amônia; em 2023 os números passaram para 7,3 milhões/ton de ureia e 5,11 milhões/ton de amônia.
(*) Com reportagem de Ana Cristina Santos – JPNews/Grupo RCN e Rosana Siqueira e João Prestes, da Semadesc
Fotos: Mairinco de Pauda
(Matéria reeditada para acréscimo de informações)