Enquanto o Estado reforça bases dentro do Pantanal com mais bombeiros, Governo federal instala sala de crise para enfrentar período de seca e incêndios.
Por Agência 24h*
O governo do Estado está reforçando o plano de atuação no combate ao período de incêndios, que começou bem mais cedo. As bases avançadas instaladas em áreas de difícil acesso serão reforçadas com mais bombeiros, que concluíram treinamentos especiais nesta sexta-feira.
Enquanto o Estado reforça o plano estadual, o Governo federal decidiu também nesta sexta instalar sala de situação de crise, para monitorar e determinar ações de enfrentamento da seca e incêndios florestais, especialmente no Pantanal e na Amazônia.
De acordo com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, há um agravamento dos problemas de natureza climática e as consequências chegarão mais cedo este ano, com repercussão ambiental “muito grave”.
No entanto, destacou que as ações emergenciais já estão sendo praticadas desde outubro do ano passado, com operações em campo do Ibama e ICMBio, junto com os governos estaduais. Ressalvou que ainda não há razão para decretar situação de emergência.
Leia também:
Incêndios no Pantanal chegam a 1.193; na área situada em MS são 698 focos
“Em função disso, já estamos agindo na lógica da gestão do risco e não apenas do desastre”, disse Marina, após reunião da Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas, no Palácio do Planalto. “Estamos agindo dentro de um cronograma para que tenhamos uma ação preventiva, por entendermos que o custo de prevenir é sempre menor do que aquele de remediar”, acrescentou.
Pacto – A ministra reforçou ainda que há um esforço de agir de forma previdente não apenas do governo federal, mas de governos estaduais, alguns municípios, a sociedade civil e uma parte da iniciativa privada, “que trabalha também em colaboração quando se trata do Pantanal”.
No início do mês, o governo federal e os governos do Pará, Acre, de Mato Grosso do Sul, Roraima, Rondônia e Mato Grosso assinaram um pacto para planejamento e implementação de ações colaborativas para prevenção e combate aos incêndios florestais e destruição de vegetações nativas no Pantanal e Amazônia.
Transpantaneira – O Pantanal já vive uma estiagem severa, com escassez hídrica em toda a bacia. Historicamente, a escalada de incêndios acontece em agosto, mas já há, agora, pelo menos, 15 focos identificados.
Segundo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, o Pantanal nunca teve fogo no primeiro semestre do ano. “No primeiro semestre do ano, o Pantanal sempre esteve embaixo da água. Pela primeira vez a gente está com o Pantanal completamente seco no primeiro semestre […]. A crise está começando agora, o Ibama já contratou mais de 2 mil brigadistas para atuar em todo o Brasil com o foco no Pantanal e na Amazônia e nós vamos fazer aquilo que for necessário”.
Agostinho relatou que o Ibama está combatendo incêndios no entorno de Corumbá, onde a situação é mais grave, na Transpantaneira e a oeste do Rio Paraguai. “São os focos hoje que despertam a maior parte da atenção e esse trabalho está sendo feito junto com os estados”.
A reunião extraordinária da comissão foi coordenada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin. O órgão é composto por 19 ministérios do governo. Já a sala de situação para seca e queimadas será coordenada pela Casa Civil da Presidência, com coordenação-executiva do Ministério do Meio Ambiente, e participação dos ministérios da Integração e do Desenvolvimento Regional, da Defesa e da Justiça e Segurança Pública.
Questões legais
A primeira reunião ocorre na segunda-feira (17), quando os integrantes tratarão questões legais, como processos de simplificação de contratação de equipes de brigadista, equipamentos e aeronaves, bem como a possibilidade de buscar recursos extraordinários.
“No caso do Pantanal, nós temos uma combinação de incêndios provocados pelo homem e incêndios naturais que dificultam muito a ação porque temos áreas de difícil acesso. Por isso a necessidade, inclusive, da mudança de normas para que, se tivermos que pedir apoio a parceiros internacionais, podemos ter essas aeronaves operando em território brasileiro”, explicou Marina.
“Tudo isso são planejamentos preventivos, para que a gente possa fazer frente ao que sabemos, em função da estiagem severa, em função da grande quantidade de matéria orgânica no ponto de combustão, e ao mesmo tempo do Pantanal não ter atingido a cota de cheia e de que na Amazônia os rios também não atingiram a cota de cheia. Vamos precisar ter um planejamento que já vem sendo feito de forma antecipada”, acrescentou.
No caso da Amazônia, o Ministério do Transporte já está a se antecipando com obras de dragagem e abastecimento das comunidades. “É preciso nos anteciparmos ainda mais com suprimentos de combustível, de oxigênio, de alimentos, enquanto os rios ainda não baixaram”, disse.
Marina explicou que, apesar de tratar de Pantanal e Amazônia nesse primeiro momento, a sala de situação será dinâmica. “Nós estamos com cheia no Rio Grande do Sul, mas daqui a pouco teremos seca, nós já temos situações de seca no Nordeste. Então, vai tratar dos vários assuntos, para os vários biomas. O foco no Pantanal e na Amazônia é porque o período de estiagem já está posto, nós já temos ele identificado e é preciso agir dentro de um cronograma para poder fazer frente”, destacou.
Orçamento
Nesse primeiro momento, os recursos utilizados para prevenção são do orçamento de cada ministério envolvido na ação, mas o governo já avalia as possibilidades, em caso de necessidade de recursos extraordinários. A ministra enfatizou, entretanto, que o objetivo da prevenção é, justamente, evitar um gasto de recursos mais volumoso.
“Vai ser anunciado no tempo certo, houve um pedido, uma demanda que foi feita e a junta orçamentária está fazendo a sua avaliação. Ontem conversei com o ministro [da Fazenda] Fernando Haddad, já tinha conversado com a ministra [do Planejamento] Simone Tebet, com a ministra Esther [Dweck, da Gestão] e todos eles, junto com a Casa Civil, estão conscientes da celeridade do processo e da viabilização desses recursos”, disse Marina.
Reforço no Plano Estadual
A fumaça densa que pode ser vista de longe é sinal de incêndio florestal. No campo, as chamas baixas na vegetação verde e com certa umidade são controladas com aceiros (faixas de terra que impedem a propagação do fogo). Na tentativa de atuar em sincronia, as mãos em treinamento impõem o abafador no solo ao mesmo tempo que cada um entoa um som ritmado, quase cantarolado e em cadência que é fundamental para extinguir o fogo.
Todo o cenário é elaborado para que os 187 alunos do curso de formação de soldados do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul) possam atuar em um incêndio florestal. Mas mesmo durante o treinamento – realizado na fazenda modelo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), localizada em Terenos –, as dificuldades para o combate a incêndio florestal já se mostram extremas para os alunos.
“As maiores dificuldades que estamos encontrando é carregar os materiais, que são muito pesados, fazer a confecção e a manutenção deles. No combate tem a fumaça, que é muito densa e acaba dificultando o nosso deslocamento. O racionamento de água também, porque a gente tem que transportar tudo que vamos comer ou beber durante o percurso, e são longos quilômetros combatendo o fogo. Isso tudo dificulta o nosso desempenho e a logística em si dos alunos para se adaptar a situação e fazer o combate de forma eficiente”, explicou a aluna soldado Izabelle Delaterra.
“Tivemos muitas instruções teóricas, de manuseio de abafadores, várias ferramentas utilizadas nesse ambiente. E agora podemos executar, aplicar de forma prática, é muito importante para futuramente podermos exercer a atividade com eficiência. É interessante saber que de forma conseguimos entrar num ambiente que é hostil, difícil e arriscado, mas aplicando todas essas atividades de forma correta, usando os EPIs, conseguimos efetivamente o resultado que é apagar os incêndios florestais”, disse o aluno soldado Luan Amorim.
A simulação dá segurança e, durante o trabalho, as técnicas de combate são ensinadas e aplicadas. Em uma situação real, tudo que é passado durante a formação da força tarefa de combate a incêndio florestal se faz essencial para o sucesso da missão e a garantia da segurança das equipes.
“Os alunos estão tendo contato com a parte de prevenção e combate a incêndios florestais. Eles tiveram toda a parte teórica, fundamentos, e participam pela primeira vez da prática, com a situação controlada e simulada de incêndio real. Eles têm que ter essa noção, sentir um pouco da proximidade da situação real para que depois saibam o que poderá ocorrer nas operações reais”, afirmou o tenente Ícaro Tomazini, responsável pelo treinamento.
A preparação dos alunos soldados para situações reais é importante para que consigam atuar de forma eficiente nas missões futuras de combate a incêndios florestais em todos os biomas presentes no Estado – Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica.
“A ideia é a gente simular uma situação real de incêndio em vegetação, então eles têm contato com a dificuldade de terreno, ambiente, fumaça, calor. Coisas que até então os alunos não têm essa vivência e quando se formarem, já tendo esse contato prévio, vão estar muito mais capacitados”, afirmou Ana Brites, bombeira militar e especialista em combate a incêndio florestal.
“Esta ação de capacitação das noções de combate a incêndio florestal para os alunos soldados é de suma importância e é mais uma etapa do investimento do Estado de Mato Grosso do Sul na capacitação dos nossos profissionais. Assim que formados eles já podem estar a pronto emprego nas atividades de proteção ao meio ambiente. Esse ambiente controlado é para a gente fazer a capacitação e eles entenderem a técnica, mas chegando mais próximo do que é a realidade”, explicou a tenente-coronel Tatiane Inoue, diretora de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar, responsável pelo monitoramento e ações de combate aos incêndios florestais no Estado.
O treinamento dos alunos soldados teve início em janeiro deste ano, com carga horária de 1.599 horas/aula distribuídas ao longo de nove meses. Eles são preparados para atuar em busca e salvamento terrestre, aquático e em altura, além do combate a incêndios florestais e urbanos, entre outras diversas ocorrências.
O módulo de incêndios florestais durou uma semana e terminou nesta sexta-feira (14). Como parte da preparação para a temporada de incêndios florestais, em Mato Grosso do Sul, o Governo do Estado já poderá contar com o trabalho dos soldados.
“Antes mesmo do período crítico da temporada de combate a incêndio florestal, a gente já está trabalhando essas técnicas com eles para que futuramente consigam entrar em combate nos incêndios florestais. São 187 alunos que estão recebendo esta capacitação e que findando a formação deles já estarão aptos a atuar no combate aos incêndios em Mato Grosso do Sul. Esperamos, ainda nesta temporada, contar com o apoio dos alunos, futuramente soldados, com a capacitação que estão recebendo”, finalizou a tenente-coronel.
(*) Informações da Agência Brasil e Natalia Yahn – Comunicação Governo de MS
Fotos: Saul Schramm