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Manoel de Barros, o pantaneiro mais carioca dos poetas brasileiros

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Aspectos da vida do poeta trazidos pelo jornalista Bosco Martins são considerados por acadêmicos e intelectuais de Mato Grosso do Sul como com um resgate importante da memória de Manoel de Barros, porque permite ao público entender até onde a genialidade do poeta pode ser compreendida.

O Rio de Janeiro era o “quintal” do poeta Manoel de Barros, de onde se comunicava ao pequeno mundo. Cuiabano de nascimento, passou a primeira infância no Pantanal sul-mato-grossense e se fez descobrir no Rio, tornando-se o “mais carioca” dos poetas. 

Em 2017 foi homenageado pela Escola de Samba Império Serrano, com o enredo “Meu quintal é maior que o mundo”, frase pinçada do intrigante vocabulário do poeta que abominava o gentílico pantaneiro por entender que a poesia não tem território, embora o Pantanal fosse uma de suas fontes inspiradoras.

Manoel de Barros viveu no Rio por mais de 30 anos. Fazia uma leitura do mundo de um ponto de vista insólito ou encantado ao recorrer ao Pantanal das cores fantásticas, das águas lentas e das criaturas miúdas para falar de sonhos, impressões e gestos que se encontram em toda parte do mundo, da Nhecolândia à Avenida Paulista.

Como o poeta vivia o circuito Pantanal-Rio e como ele se relacionava com o mundo literário e a “ociosidade criativa”. As intimidades de Manoel de Barros estão nas páginas do livro “Diálogos do Ócio”, do jornalista Bosco Martins, a quem por 30 anos o poeta confiou seus segredos e passava grande parte do tempo conversando “sobre nada e inutilidades”. 

Na publicação, que agora está sendo lançada na versão impressa, Bosco Martins cita que “em momentos variados o poeta relembrava passagens da mocidade, ainda solteiro, no Rio de Janeiro. Conheceu Vinícius de Morais, arriscou uma aproximação com Manuel Bandeira, vibrou com Clarice Lispector e “flertou” com Leila Diniz, precursora do topless. Manoel de Barros dizia que tudo que inventava era falso, mas o fato é que ele se divertia contando suas intimidades, adorava falar de casos em que havia certa picardia”. 

As revelações do íntimo e como o poeta Manoel de Barros viveu a fase mais fértil de criação pensando palavra por palavra enquanto praticava o ócio e como lidava com a trajetória de assombro e descobertas no mundo literário vêm a público nove anos após a sua morte.

Semente no Rio – Manoel de Barros estudou, se formou, casou e construiu sua trajetória literária no Rio. Viveu seus últimos dias em Campo Grande, onde mantinha o seu “escritório de ser inútil”. A casa onde a família viveu virou “museu”. No Rio ficou a semente, Martha Barros, única filha que restou do casamento com Stella Barros.

Martha mora na Barra da Tijuca. É bibliotecária, mas dedica-se às artes plásticas e cuida dos direitos autorais do pai. Carioca, Martha frequentou o atelier de Hélio Rodrigues e frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lange. Herdou do poeta o lirismo e o gosto de coisas pequenas. A artista vem colocando suas preciosas ilustrações nas obras do pai. Curiosamente, assim como as poesias de Manoel de Barros, poucos conseguem entender a pintura da filha Martha.

Douglas Diegues

LEITURA PRAZEROSA

A versão digital de “Diálogos do Ócio foi lançada em 2022 pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Agora, em dezembro, em que se comemora os 107 anos de nascimento do poeta, o jornalista Bosco Martins lança a edição impressa, pela editora independente Los Bugres. A publicação deve chegar também, em alguns anos, ao Paraguai e à Argentina, traduzida em espanhol. O autor trata a publicação como um inventário dos 30 anos de amizade com o poeta, mas no meio editorial a obra está sendo recebida como uma protobiografia, por trazer revelações desde o antes. 

O diretor da Editora Los Bugres, escritor e poeta Douglas Diegues, diz que o diferencia o livro de Bosco Martins das chamadas obras clássicas, é a “bricolagem”, permitindo ao leitor uma leitura prazerosa de uma coletânea com apresentação de José Hamilton Ribeiro e participação do próprio Manoel de Barros e de vários colaboradores. “Bosco Martins fez uma espécie de bricolagem e o resultado ficou excelente, porque a obra não ficou maçante, chata, sentimentalóide ou pretensiosa. Muito pelo contrário: ficou divertida e de leitura prazerosa, acessível aos especialistas, mas também aos leitores comuns”.

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