Paradoxalmente, a Geração Z manifesta preocupação com o meio ambiente, mas usa o sistema de transporte mais poluente
Por Aurélie Thépaut – Meteored/França
É fato: a Geração Z, a geração mais jovem nascida entre 1998 e 2007, pega mais avião do que as outras — os millennials (ou geração Y) nascidos entre 1988 e 1997, a Geração X entre 1968 e 1987 e os baby boomers nascidos antes de 1968. Dois estudos comprovam isso.
O primeiro foi liderado pela Cátedra Pégase, vinculada à Montpellier Business School e dedicada ao transporte aéreo e à indústria aeroespacial. O estudo, realizado em uma amostra representativa de 1.810 pessoas, tem como objetivo analisar as práticas dessa geração em comparação com as dos mais velhos. Com idades entre 15 e 24 anos, esses jovens representam 30% da população mundial e 12% da população francesa. Em 2021, a Geração Z voou em média 1,1 vezes, em comparação com 0,7 vezes para a Geração X e 0,4 vezes para os Baby Boomers. “Esta é uma geração que nasceu com a liberalização do transporte aéreo, que sempre o conheceu como um meio de transporte relativamente democrático“, analisa Paul Chiambaretto, professor da Montpellier Business School e fundador da Cátedra Pégase.
O segundo estudo, realizado pela Autoridade de Aviação Civil (CAA), revela que quase 75% dos britânicos entre 18 e 34 anos terão voado até 2024, em comparação com pouco mais da metade daqueles com mais de 55 anos. Dois quintos da Geração Z planejam voar com ainda mais frequência no próximo ano – uma taxa duas vezes maior que a dos baby boomers.
Uma lacuna entre crenças e práticas de viagem
No entanto, um estudo da Deloitte realizado no ano passado entre a Geração Z e a geração Y descobriu que a sustentabilidade ambiental continua entre suas principais prioridades. « É uma preocupação pessoal que continua a pesar muito sobre eles, com quase seis em cada dez da Geração Z e da geração Y relatando que se sentiram preocupados ou ansiosos com as mudanças climáticas no mês passado”, disse o estudo. A maioria deles toma medidas para minimizar seu impacto ambiental.»
74% deles reconhecem que o setor da aviação é poluente. 66% deles estão convencidos de que ele desempenha um papel importante no aquecimento global. Essa tendência reflete, portanto, uma potencial lacuna entre os valores ambientais expressos pela Geração Z e suas escolhas de viagem.
Preço como prioridade máxima
Além disso, o preço do ingresso está no topo da lista de preocupações. De fato, a pesquisa da CAA destaca que tarifas altas são o maior impedimento para menores de 35 anos, superando as preocupações ambientais. No entanto, a outra pesquisa revela que quatro em cada cinco jovens dizem que estariam dispostos a pagar mais para voar com uma companhia aérea mais ecológica.
Curiosamente, os viajantes mais jovens esperam que as tarifas aéreas mais altas sejam absorvidas pelos contribuintes em vez de repassadas ao preço das passagens para esforços de mitigação ambiental, enquanto um terço dos consumidores mais velhos aceita essa ideia. Outro paradoxo com as crenças expressas. De acordo com o estudo da Deloitte, « Eles acreditam que os governos devem desempenhar um papel maior em incentivar as empresas a enfrentar as mudanças climáticas. As empresas, por sua vez, poderiam e deveriam fazer mais para permitir que os consumidores tomem decisões de compra mais sustentáveis.»
Por fim, os viajantes da Geração Z demonstram maior confiança no comprometimento da indústria da aviação em abordar questões ambientais do que os mais velhos. Quase 60% deles expressaram confiança na capacidade do setor de enfrentar os desafios da sustentabilidade — um sentimento compartilhado por menos da metade dos baby boomers.
Referência da notícia
Voyage en avion, les aspirations contradictoires de la génération Z, Le Figaro, 25 mai 2024
