quinta-feira, novembro 21, 2024
0.8 C
Brazil

Faltou o “dever de casa” e desmatamento contribuiu para incêndios, diz ministra

Data:

spot_img
spot_img

Marina Silva diz que o mundo e o Brasil ignoraram medidas propostas pela Convenção do Clima de 1992, restando agora a “gestão do desastre”

Entre as ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), governador Eduardo Riedel anuncia reforços (Foto: Saul Schramm)
Por Agência 24h

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, culpou o desmatamento e a falta de “gestão dos riscos” pelo alto índice de incêndios no Pantanal. Para a ministra, que esteve em Corumbá para ver de perto das ações de combate aos incêndios e anunciar as providências do governo federal, os dados mostram que “os municípios que mais desmataram são os que mais têm incêndio”.

Após sobrevoo no Pantanal de Corumbá na manhã desta sexta-feira (28), as ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, concederam entrevista coletiva e atribuíram a ação criminosa humana como a principal responsável pelo alto índice de incêndios na região.

Referindo-se a levantamento que aponta aumento de 50% no desmatamento no Pantanal de Corumbá, afirmou que “não por acaso está respondendo agora por 50% dos incêndios”.

Durante a visita em Corumbá, o governador Eduardo Riedel anunciou mais reforço para o combate ao fogo, com a chegada da aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) KC-390 Millennium, com capacidade para transportar de 12 mil litros de água, suporte de 280 pessoas do governo federal, do Ibama e do ICMbio, e o reforço de 82 militares da Força Nacional.

Não precisa de ajuda internacional

Tanto Marina Silva quanto Simone Tebet culparam a ação humana pela tragédia. “Os incêndios que estão acontecendo agora, eles têm uma junção perversa: mudança do clima, escassez hídrica severa e o desmatamento com uso de fogo. É isso que está fazendo o que a gente veja o Pantanal em chamas”, disse a ministra em coletiva de imprensa, afirmando que desde que assumiu o Ministério já esteve por três vezes em Mato Grosso do Sul, a penúltima na cerimônia de sanção da Lei do Pantanal.

Para Marina Silva, o fato de não se ter “feito o dever de casa”, que consiste na “gestão do risco”, agora é necessária uma enorme mobilização para “a gestão do desastre”.

A ministra descartou a necessidade de ajuda internacional. Segundo ela, o Brasil possui estrutura, recursos e “know how”, “nossos brigadistas têm uma grande expertise”, tendo atuado no Canadá, Portugal e no Chile, países a quem o governo poderia pedir ajuda, mas “não há necessidade”. A ministra citou parlamentares da bancada de MS e agradeceu a oferta de emendas parlamentares para o combate aos incêndios e disse que depois de quatro anos sem uma agenda ambiental, o Brasil parte, enfim, para adotar um Plano de Emergência Climática.

“Vivemos uma situação em que é preciso nos adaptar à mudança climática por ter permitido o aumento do desmatamento, a emissão de CO2”, ignorando a convenção assinada há 35 anos.

Maioria dos incêndios ocorre nas fazendas

Acompanhadas pelo governador Eduardo Riedel, ministras do Meio Ambiente e do Planejamento e Orçamento fazem sobrevoo em áreas do Pantanal atingidas por incêndios (Foto: Saul Schramm)

“Mão humana pode fazer muita coisa boa como estamos fazendo aqui, mas pode fazer também muitas coisas ruins, que é queimar um bioma único, como é o caso do Pantanal. 85% dos incêndios estão se dando em propriedades privadas”, afirmou Marina Silva, que foi acompanhada na mesma tese pela ministra Simone Tebet.

“Nós temos que reconhecer que além dos efeitos climáticos, lamentavelmente temos a mão do homem e é a mão do homem criminoso. Nós, óbvio, respeitamos e sabemos que muitos casos são de incêndios acidentais, é alguém que tá manejando e deixa o fogo se alastrar, mas tem muito da mão do homem criminoso”.

O presidente do Sindicato Rural de Corumbá, no entanto, Gilson de Barros, contesta a tese de que os produtores têm parcela de culpa em razão de manejos mal sucedidos.

“Será que os produtores das sub-regiões da Nhecolândia e do Paiaguás e outras áreas que o mapa mostra sem focos de incêndio, são mais bem intencionados ou cuidadosos do que os proprietários que margeiam a beira dos rios e as reservas e parques?”, diz o ruralista, que em artigo divulgado à imprensa afirma que “o que existe é a atividade pecuária de forma intensa diminuindo a macega, mantendo estradas e com produtores e funcionários de prontidão para atacar qualquer incidente ou acidente de fogo, assim que ele ocorrer – e eles ocorrerão”.

“É ingênuo pensar que uma vastidão de material inflamável não sofrerá ação de um cigarro, um fogo mal apagado, um fogão a lenha, ou mesmo de um piromaníaco de plantão. O que precisamos é estar preparados e com ações preventivas já efetivadas”, diz o presidente do Sindicato Rural de Corumbá.

Enquanto Marina Silva e a ministra do Planejamento Simone Tebet sobrevoavam a área atingida pelo fogo no Pantanal, o ambientalista Fernando Gabeira publicava nas redes sociais críticas à visita tardia. “Demorou demais, o Pantanal queima há 90 dias”, afirmou Gabeira, considerando muito simplista a lamentação “pelos hectares queimados”, sem se referir ao desastre ambiental, que não se resume aos recursos florestais e bens patrimoniais de produtores, mas também “aos animais, a biodiversidade”.

Indústria da multa não resolve,

O Sindicato Rural de Corumbá discorda de algumas medidas e garante que era preciso eliminar o volume de material orgânico acumulado, que contribui para a intensidade dos incêndios. Para o presidente da entidade, Gilson Barros, a queimada controlada ou prescrita, chamada de “fogo frio” é um instrumento importante.

“Tínhamos a cultura de queimar macegas após as chuvas umedecerem as matas e o solo em geral, proporcionando uma queima pontual e controlada de material desprezado pelo gado e por toda a fauna de herbívoros do Pantanal. Assim, sendo queimadas, essas macegas seriam consumidas após a rebrota e não serviriam de bucha para incêndio no próximo período seco”.

“Com taxações, multas distribuídas a esmo e um discurso de ódio a qualquer tipo de fogo, inviabilizaram as queimadas preventivas e expuseram o bioma aos incêndios florestais aonde a pecuária não está sendo tocada de forma mais intensa. Precisamos tomar medidas preventivas e mitigatórias para proteger essas áreas onde o boi não pasta, áreas como as reservas ambientais, parques, beira de rios e regiões que acumulam muita matéria seca”, diz Gilson Barros.

“O fogo sempre existiu no Pantanal, algumas plantas necessitam de fogo para quebrar a dormência de suas sementes e ou aumentar seu florescimento (pirófilicas). O que precisamos não é imaginar um Pantanal sem fogo, e sim um Pantanal sem incêndios florestais”.

Carta branca de Lula

A ministra Simone Tebet disse que não faltarão recursos para combater os incêndios no Pantanal, mas ressalvou que, por enquanto, nenhum ministério envolvido na força-tarefa de combate aos incêndios florestais manifestou a necessidade de recursos extraordinários.

“Trago uma mensagem final do presidente Lula. Não faltarão recursos nem orçamento, ainda que com crédito extraordinário, para que possamos ter mais efetivos, mais brigadistas, mais aeronaves, mais veículos. O presidente Lula nos deu carta branca, especialmente para a ministra Marina Silva, para não medir esforços diante dessa crise ambiental”, declarou Simone.

De 1º de janeiro a 26 de junho deste ano, foram detectados 3.426 focos de incêndio no Pantanal. Tebet destacou que, mesmo com todo o contingente do Corpo de Bombeiros do Estado, não seria suficiente para combater as chamas devido à extensão do território pantaneiro, que possui 11 milhões de hectares somente em Mato Grosso do Sul. “Entrar no Pantanal também não é uma coisa simples. Às vezes não tem estrada, tem que fazer picada, tem que andar um, dois, cinco quilômetros a pé para que os brigadistas possam cumprir sua missão”.

(Foto do destaque: Alex Machado)

Últimas notícias

spot_img

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui