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Estudo aponta riscos de degradação com expansão do agro em Bonito

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Estudos apontam que o cultivo de soja impacta escossistemas, com a perda de vegetação nativa, redução da qualidade da água e ameaças à biodiversidade

Áreas intocáveis na capital do ecoturismo são cada vez menores, segundo relatório de entidades ambientalistas (Imagem: Adobe Stock)
Por Agência 24h*

Situado no perímetro da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda (BHRM), o município de Bonito, um dos destinos turísticos mais disputados de Mato Grosso do Sul, tem sido alvo de crescentes desafios ambientais decorrentes da expansão agrícola, é o que aponta uma análise técnica apresentada pelo Instituto SOS Pantanal em parceria com a Fundação Neotropica do Brasil, o Instituto Libio, o SOS Mata Atlântica, e o Instituto Tamanduá.

Leia o relatório completo sobre os riscos de degradação ambiental: 

SOS PANTANAL

Entre outros alertas, a principal ameaça apresentada na Nota Técnica é a expansão acentuada do cultivo de soja em áreas sensíveis, que tem impactado a integridade dos ecossistemas, com a perda de vegetação nativa, a redução da qualidade da água e ameaças à biodiversidade, fatores que, somados, também podem afetar drasticamente a economia local pelo potencial impacto negativo às atividades de ecoturismo.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento da nota técnica divulgada pelo SOS Pantanal teve como base dados extraídos da Coleção 9 do MapBiomas, plataforma que disponibilizou informações detalhadas e robustas sobre as mudanças no uso e na cobertura do solo, sendo fundamentais para as análises das severas mudanças da paisagem percebidas no período de 1985 a 2023, com a base comparativa de dados também considerando apontamentos feitos em 2005.

O estudo abrange uma área que compreende 42 mil km² da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda (BHRM), cujo curso ocupa cerca de 12% do território de Mato Grosso do Sul e cruza 23 municípios, com destaque para Bonito, onde a bacia oferece benefícios ecossistêmicos essenciais tanto para a conservação ambiental da região quanto para a economia local.

A expansão da utilização do solo para a monocultura da soja revela um dos dados mais impactantes no estudo elaborado pelo SOS Pantanal. Em 1985, apenas 0,4% da área da BHRM era ocupada por esta cultura, totalizando pouco mais de 16 mil hectares. Em 2023, o cultivo da soja atingiu 7% da área da bacia do Rio Miranda, ocupando 300 mil hectares. A Nota Técnica também aponta uma redução de 39% para 26% da formação florestal da BHRM entre 1985 e 2023, percentual que representa uma redução de 562 mil hectares de vegetação nativa.

No recorte de 38 anos compreendido no estudo, a utilização do solo como pastagem apresentou uma sutil redução em relação ao dado aferido em 2005, caindo de 45% para 38% em 2023, mas acima do percentual registrado em 1985, 24%, o que evidencia a substituição de vegetação nativa de mais de 600 mil hectares, entre 1985 e 2023, sobretudo para a exploração da pecuária.

Os resultados apresentados no documento deixam claro que houve uma mudança substancial no uso e na cobertura do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Miranda. Em quase 40 anos de registro por imagens de satélite, fica evidente a redução dos remanescentes de vegetação nativa, seja ela de formação florestal, savânica ou de áreas úmidas.

A expansão das áreas de cultivo de soja, esclarece o estudo, deveu-se a uma combinação de fatores socioeconômicos, biofísicos e legislativos, somados à busca de diversos agricultores por maior rentabilidade, ignorando os riscos de impacto ambiental do cultivo de grãos, devido ao uso intensivo de agrotóxicos e da incidência de metais pesados que afetam a qualidade da água, com consequências graves para municípios como Bonito, situado no entorno do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, que também acolhe rios como Prata, Formoso, Mimoso e Salobra.

“A preservação dos remanescentes de vegetação e a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis são essenciais para mitigar os impactos negativos observados neste novo estudo. A implementação de um zoneamento ecológico-econômico, a proteção rigorosa das Áreas de Preservação Permanente e o monitoramento contínuo de agrotóxicos e metais pesados são medidas fundamentais para garantir a sustentabilidade ambiental e econômica da região”, defende Leonardo Gomes, Diretor-Executivo do SOS Pantanal.

Agrotóxicos, metais pesados e letalidade de tamanduás-bandeira

Criado por iniciativa do Instituto Tamanduá, o projeto Órfãos surgiu em resposta aos grandes incêndios no Pantanal entre os anos 2019 e 2020, com a finalidade de abrigar e reabilitar filhotes órfãos de tamanduá-bandeira.

O processo de recebimento dos filhotes e o planejamento da soltura envolveram diversas etapas. Após dois anos de intenso cuidado, os indivíduos foram soltos, monitorados por colete GPS/VHF, o que permitiu intenso monitoramento e identificação prontamente da causa mortis de 3 indivíduos.

O animal 1, uma fêmea com cerca de 26 meses de idade, liberada na região de Bonito (MS), veio a óbito de forma inesperada, pouco mais de 30 dias após sua reintrodução. Da mesma forma, o animal 2, também uma fêmea, liberada em Aquidauana (MS) com aproximadamente 33 meses, veio a óbito repentinamente após 19 dias de sua reintrodução. O animal 3, macho, após 9 meses de soltura, também em Aquidauana (MS), foi encontrado morto somente 48 horas após seu último avistamento.

O Brasil é um dos países mais permissivos na liberação de agrotóxico, onde o uso destes compostos está muito vinculado às monoculturas. Porém, todos os animais monitorados percorreram somente áreas de pastagem natural e plantadas para a pecuária extensiva e matas ciliares, áreas onde o uso de agrotóxicos é menos evidente.

No entanto, os exames necroscópicos com fragmentos de rins, fígado e conteúdo estomacal revelaram a presença de agrotóxicos como a causa provável do óbito, inclusive agrotóxicos proibidos no Brasil, além de metais pesados. O monitoramento frequente, a despeito de ainda não existirem estudos que chancelem o impacto dessas substâncias para espécies selvagens, reitera a hipótese de um quadro agudo de intoxicação, haja vista que valores encontrados de inseticidas como malation, diazinon, aldicarb e carbaril são próximos das doses letais para bovinos e ratos.

Conclusões e recomendações

Na conclusão da Nota Técnica, as instituições responsáveis pelo estudo apresentam sete recomendações que podem tornar mais efetivas as ações emergenciais coordenadas de entes governamentais, do terceiro setor e da sociedade civil.

Confira a seguir cada um dos tópicos com as recomendações do SOS Pantanal e das entidades parceiras. A íntegra da Nota Técnica pode ser acessada aqui.

  1. Cumprimento das Leis Ambientais: Garantir o respeito às leis que protegem áreas específicas, como a Lei Estadual nº 1871/1998 e a Lei Orgânica de Bonito, que estabelecem faixas de preservação ao longo dos corpos d’água
  2. Regularização de Unidades de Conservação: Regularizar o Parque Nacional da Serra da Bodoquena e respeitar sua zona de amortecimento, disciplinando as atividades no entorno conforme o Plano de Manejo.
  3. Novas Unidades de Conservação: Continuar os estudos para criar Unidades de Conservação nas zonas úmidas, protegendo nascentes importantes como as dos rios Perdido e Prata.
  4. Zoneamento Ecológico-Econômico: Implementar o Zoneamento Ecológico Econômico Municipal, considerando a fragilidade do relevo cárstico e a importância dos recursos hídricos e florestais para o turismo.
  5. Monitoramento de Substâncias Tóxicas: Estabelecer um sistema de monitoramento contínuo de agrotóxicos e metais pesados, incluindo estudos sobre sua presença em cadeias tróficas e impactos na saúde humana.
  6. Proteção à Fauna: Criar um programa de proteção à fauna com ações educativas, fiscalização contra caça e pesca ilegais, e medidas para mitigar atropelamentos de animais silvestres.
  7. Proteção à Flora: Desenvolver um programa de proteção à flora, identificando e conservando áreas com espécies ameaçadas, e reforçando políticas de compensação ambiental

Cidade Amiga do Pantanal

O SOS Pantanal também deu início à campanha Cidade Amiga do Pantanal, iniciativa que pretende ouvir propostas de 210 candidatos a prefeito nas 26 cidades que compreendem o Pantanal e seu entorno para avaliar seu engajamento e compromisso com o desenvolvimento de ações que promovam o uso sustentável dos recursos naturais, a gestão dos recursos hídricos e do uso do solo, atrelados à implementação transversal da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) nos 26 municípios pantaneiros. A ação teve início com o encaminhamento de uma série de perguntas que foram divulgadas no site do SOS Pantanal e ficarão disponíveis até o dia 30 de setembro para a livre resposta de todos os postulantes, em um espaço aberto onde os eleitores também poderão conferir as proposições de cada um dos concorrentes que aderirem à campanha Cidade Amiga do Pantanal.

Sobre o SOS Pantanal

Fundado em 2009, o SOS Pantanal é uma instituição de advocacy, sem fins lucrativos, que promove a conservação e o desenvolvimento sustentável do Pantanal por meio da gestão do conhecimento e a disseminação de informações do bioma para governantes, formadores de opinião, grandes empreendedores, fazendeiros e pequenos proprietários de terras da região, assim como para a população em geral. Ao longo das últimas duas décadas, o Instituto SOS Pantanal também impacta diretamente o ecoturismo ao promover iniciativas de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Por meio de incentivos à profissionalização, aliado a uma fiscalização mais efetiva e o consenso de boas práticas conjuntas entre os setores privado, público e terceiro setor, o SOS Pantanal tem contribuído para que o ecoturismo cada vez mais se apresente como um dos pilares do desenvolvimento sustentável do Pantanal. Para conhecer melhor o trabalho clique aqui!

(*) Informações divulgadas por OBSERVATÓRIO DO TERCEIRO SETOR

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