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Entenda como aprender português abre janela de oportunidades a imigrantes

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Suporte para adaptação de imigrantes e refugiados a um novo idioma ganha contorno de uma grande janela de oportunidades aos estrangeiros

Levas de imigrantes e refugiados chegam com mais frequência no Brasil (Foto: Saul Schramm)

Quando o mundo vive uma de suas maiores crises migratórias e inúmeras ações se associam a projetos e programas de acolhimento de imigrantes e refugiados, uma iniciativa lançada em 2017 pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) chama a atenção. O aprendizado da língua portuguesa pelos estrangeiros, com o método de acolhida adotado pela Universidade, desperta a autoestima e inspira os imigrantes a lutar pelo seu espaço e prosperar, seja no mercado de trabalho formal, seja como empreendedor. O que era para ser um suporte para permitir aos imigrantes sua adaptação a um novo idioma, acabou ganhando contorno de uma grande janela de oportunidades e perspectivas no horizonte.

O sentimento de pertencer ao seu novo mundo muda para quem chega, principalmente para aqueles que deixaram sua terra motivados por guerras. As pessoas também são expulsas pelos conflitos raciais e pela pobreza e miséria.

O que se entende do alcance do programa UEMS Acolhe, segundo reportagem publicada no portal da Universidade, é que o método de acolhimento que busca valorizar a dignidade e a capacidade pessoal, estimula e faz o imigrante enxergar um novo horizonte, oportunidade e perspectiva real de adaptação ao Brasil, ao idioma e vida social.

Suporte das políticas públicas

Grupo de haitianos em sala de atendimento na Secretaria de Cidadania

De qualquer forma, a adaptação ao idioma, com alcance além do proposto, é apenas um viés. Paralelo há o suporte das políticas públicas que ampliam as perspectivas não só do imigrante, mas também dos refugiados que desembarcam no Brasil e vêm a Campo Grande. Como todos humanos, o sonho do imigrante, e muito mais do refugiado, é ter um teto e um fonte de renda.

Desde 2019 o braço das ações de direitos humanos do Governo do Estado encaminha imigrantes às ofertas de trabalho. Essa iniciativa já empregou dezenas de estrangeiros de diversas nacionalidades. A fundação de Trabalho expõe o mercado e as políticas públicas amparam no processo de regularização migratória  e assistência médica, em um trabalho que envolve outros setores da sociedade, OAB-MS, Defensoria Pública e a UEMS, estrutura de saúde 3e assistência social da Prefeitura e entidades médicas e organizações sociais.

Na interface da questão migratória e o impacto social, comitê fecha a rede de acolhida e aos imigrantes, refugiados e apátridas, mostrando os desafios e apontando soluções. E a principal delas é tornar o estrangeiro um “cidadão”. Criado em 2016, o comitê, gerido pela área de assistência social do governo do Estado, concentra os pedidos de ajuda, desde auxílio de intérprete e legalização de documentos, à busca de um emprego.

A professora voluntária Rosa Asmus durante aula para imigrantes (Foto: Divulgação-UEMS)

No setor público as ações seguem normas definidas pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS), mas o dever do Estado sempre agrega trabalho voluntário. Em Campo Grande há vários exemplos de ações bem sucedidas de integração de cidadãos estrangeiros. E não são poucas as nacionalidades.

Já passaram pelos serviços de triagem da Secretaria de Assistência Social milhares de imigrantes haitianos, indianos, colombianos, guineenses, palestinos, paraguaios, ugandenses, senegaleses, espanhóis, uruguaios, alemães, peruanos, argentinos, bolivianos, cubanos, africanos, sírios, venezuelanos, portugueses, chilenos e panamenhos, entre outras nacionalidades. Os estrangeiros, de mais de 20 nacionalidades, não chegam apenas em Campo Grande, mas também no interior, em maior número nas cidades que fazem fronteira com o Paraguai e a Bolívia e na divisa com outros estados, como São Paulo e Minas Gerais.

Comunicar-se em português – o grande primeiro passo

Imigrantes chegam à sala de aula com dúvidas e poucas perspectivas, mas logo veem luz no fim do túnel (Foto: Saul Schramm)

O programa UEMS Acolhe, implantado em 2017, é uma ação que responde ao papel da Universidade, segundo o Prof. Dr. João Fábio Sanches Silva. Ele diz, segundo divulgação da instituição, que a iniciativa foi espelhada em método que já era desenvolvido pela UNB – Universidade de Brasília (uma das mais importantes do Brasil), quando fazia seu pós-doutorado, em 2017.

O projeto de “alfabetização” de migrantes e refugiados em situação de vulnerabilidade já era aplicado no Distrito Federal bem antes, em 2012.

Prof. Dr. João Fábio Sanches Silva

Como a questão não era regional, diz respeito aos quatro cantos do Brasil, João Fábio entendeu que a UEMS tinha seu papel a cumprir, dar às pessoas condições para se integrar e organizar socialmente. “É uma forma de dar o retorno à sociedade do investimento que recebemos do governo”, diz, reforçando a importância da transversalidade das ações, com as políticas públicas e iniciativas voluntárias e colaborativas interagindo.

O professor Vinicius Ezaú foi um dos 30 voluntários que atuaram nos primeiros anos do programa UEMS Acolhe, Aluno do mestrado em Linguística Aplicada, dedicava duas horas e meia por semana ao ensino da língua portuguesa para migrantes e refugiados. As aulas são tematizadas e voltadas para o contexto cultural, por isso havia uma especificidade fora dos padrões – “português diferente porque vai além das regras ortográficas”, pois o objetivo era ensinar o idioma de forma a promover inserção social e cultural.

O programa oferece três módulos de ensino chamados de “Módulo de Acolhimento”, cada um com duração de quatro meses. Nos dois primeiros as aulas têm papel de atendimento emergencial e afetivo da língua, com elementos básicos do dia a dia para que os imigrantes possam ter acesso a serviços públicos, com consulta médica.

Professor Vinícius Ezaú na sala de aula, um dos 30 voluntários a atuarem no programa de adaptação dos imigrantes e refugiados (Foto: Saul Schramm)

O principal alcance social do estrangeiro com fluência na língua portuguesa é a possibilidade de disputar uma vaga no mercado de trabalho. O idioma é o primeiro grande passo para esse objetivo. Mesmo para quem já está empregado e precisa se qualificar, pois são três níveis de conhecimento da lingua. A UEMS oferece o curso em Campo Grande e Dourados, onde é muito grande o fluxo de imigrantes e refugiados e unidades de outros municípios. Dourados, com a segunda maior população do Estado, é um polo universitário e berço da Universidade Estadual.

Janela aberta para as oportunidades

Por Eduarda Rosa – Comunicação UEMS

A migrante do Egito, Hager Farhat Mohamed, de 25 anos, nasceu em Fayoum e está há quase dois anos no Brasil. Ela reside em Nova Andradina com o marido e dois filhos.

Chegou ao país sem saber nada da comunicação em língua portuguesa e com as aulas do UEMS Acolhe no curso de “Português para Migrantes Internacionais: Módulo Acolhimento” ela aprendeu o idioma e agora pode produzir e vender pães árabes na cidade.

“Antes de ir para Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), eu não sabia de nada, então não poderia responder se me perguntassem meu nome ou de onde eu era. No curso me incentivaram a falar na frente das pessoas. Eu era muito tímida e não sabia falar, mas agora posso!”, conta Hager.

Ela iniciou vendendo pães na maior feira de Nova Andradina, mas agora vende apenas por encomendas diretamente em sua casa, pois precisa cuidar dos filhos pequenos. “Aprendi a fazer esse pão no Egito com minha avó e minha mãe, muita gente adora e vem em casa pedir. Agora não estou vendendo pães na feira, mas quero voltar”, ressalta.

Stênio é microempreendedor da área da Construção civil (Foto: Arquivo pessoal)

A história de Hager Mohamed demonstra que a inclusão social também é feita por meio da língua Portuguesa. O curso também contribuiu na vida de Stênio Archelus, de 35 anos, que está no Brasil há 12 anos. Ele é Haitiano e ao chegar no Brasil morou no Rio de Janeiro, um amigo que morava em Dourados indicou para ele a cidade, ele se mudou e está em Dourados há mais de quatro anos.

Stênio é microempreendedor da área da construção civil e o curso de língua portuguesa o ajudou a se comunicar melhor no trabalho e com seus clientes, “no curso eu gostei tudo,  me ajudou a conhecer mais a cultura, fazer novas amizades, me comunico mais. O curso é muito bom”, destaca.

Yulennys Melissa Luces Suniaga, 39 anos, é venezuelana e está no Brasil há um ano. Ela se mudou com sua família (marido e filha). Seu percurso até chegar em Dourados, no início de 2023, foi difícil, eles tiveram que vender muitos de seus bens na Venezuela para conseguir arrecadar o dinheiro necessário.

Ficaram em um  abrigo em Pacaraima, depois foram para Boa Vista, lá iniciaram o processo de interiorização durante quatro meses. Yulennys  conseguiu um emprego cuidando de uma senhora idosa e com isso conseguiram sobreviver durante a viagem. Chegaram em fevereiro de 2023 a Dourados e desde março ela e o marido estão trabalhando em uma indústria de alimentos.

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Yulennys deu os primeiros passos na língua portuguesa no UEMS Acolhe (Foto: Arquivo pessoal)

“Para mim o curso de português foi excelente, pois é muito participativo e me ajudou muito a dar meu primeiro passo na língua portuguesa. Me deu ferramentas para atuar no meu trabalho e com meus vizinhos, hoje sou capaz de me comunicar melhor com meus colegas e supervisores. Nas aulas de português todos nós temos interagir, isso nos ajuda a aprender muito mais rápido e todos os professores são excelentes, muito colaborativos com cada um de nós”, recordou Yulennys.

A professora da UEMS, Rosa Maria Farias Asmus, é voluntária do programa. Ela leciona há cerca de 32 anos e no segundo semestre de 2023 foi a primeira vez que teve a experiência de ministrar aulas para migrantes internacionais.

“Sou professora desde muito tempo, sempre com alunos brasileiros, no sistema de ensino praticado no Brasil. Trabalhar com alunos que não compreendiam nossa língua com clareza, muitas vezes, inicialmente, nada compreendiam, com diversidade de idades, vivências e distanciamentos da escola, mas com muita vontade de aprender, foi um grande e encantador desafio. Foi necessário entendê-los primeiro, cativá-los, criar pontes com temas comuns que ligassem nossas vivências e interesses. Foi uma experiência muito gratificante, que estimulou a vontade de continuar trabalhando para ajudar mais e melhor nas futuras turmas”, conta a professora.

O coordenador do programa, João Fábio Sanches Silva, ressalta que o UEMS Acolhe tem o potencial, enquanto uma tecnologia social, de favorecer, de promover, de incentivar cada vez mais a inserção social de imigrantes internacionais no estado de Mato Grosso do Sul.

“Na UEMS isso ocorre não só a partir dos cursos de português, mas pelo próprio sentimento de pertencimento a este local. E no âmbito do estado de Mato Grosso do Sul, o programa UEMS Acolhe vem já há anos contribuindo exatamente para o fortalecimento dessa comunidade. Porque não são apenas os cursos de português oferecidos, mas as orientações de caráter do cotidiano para essa população, junto com todos os nossos parceiros que fortalecem cada vez mais esse sentimento de solidariedade, de fraternidade e de acolhida. Com toda certeza a UEMS e o Governo do estado de Mato Grosso do Sul fazendo a diferença na vida dessas pessoas”, enfatiza.

Cerimônia de Certificação

A UEMS conclui nesta sexta-feira, 31, último dia do mês de janeiro, a certificação de mais 166 pessoas no Curso de Extensão “Português para Migrantes Internacionais: Módulo Acolhimento” em Dourados e Campo Grande.

Participaram do curso estrangeiros de 18 países: Argentina, Bolívia, Colômbia, Egito, Haiti, Iêmen, Inglaterra, Irã, Itália, Nigéria, Paraguai, Peru, Senegal, Síria, Suécia, Tunísia, USA e  Venezuela. Em Dourados participaram 79 alunos no total, com 38 colaboradores; em Campo Grande foram 83 alunos e 32 colaboradores; e em Nova Andradina foram 4 alunos e 5 colaboradores.

Inscrições para 2024 – Agora acontecerá a chamada para voluntários e capacitação.  Ainda em fevereiro também ocorrerá  a inscrição de alunos para o curso de português, com início das aulas na primeira semana de março.

O PROGRAMA UEMS ACOLHE

O Programa UEMS Acolhe – Acolhimento Linguístico, Humanitário e Educacional a Migrantes Internacionais – é o resultado de uma série de ações de extensão desenvolvidas no âmbito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul com a finalidade de promover atendimento diferenciado em diversas áreas de conhecimento a comunidade migrante internacional no nosso estado. O Programa UEMS Acolhe visa promover ações de extensão que possibilitem a inserção linguística, humanitária e educacional de migrantes internacionais, em especial a partir do oferecimento de cursos de extensão gratuitos de Português como Língua do Acolhimento.

POLOS – Campo Grande, Dourados, Corumbá, Nova Andradina e Cassilândia

INFORMAÇÕES SOBRE OS CURSOS:

1. Quem pode se inscrever para o curso de Português como Língua de Acolhimento?

Todos os migrantes internacionais podem ter acesso ao curso. Não são impeditivos para inscrição no curso:

A falta de documentos;
A situação migratória (migrante, apátrida, refugiado, etc.);
A nacionalidade.

2. Como é feita a inscrição para o curso de Português como Língua de Acolhimento?

A partir do preenchimento de uma ficha de inscrição disponibilizada on-line e também nos Polos de aulas.

3. Quais documentos podem ser apresentados no momento da inscrição?

Protocolos de Solicitação de Refúgio;
CRNM (Carteira de Registro Nacional Migratório);
Protocolo de CRNM (Carteira de Registro Nacional Migratório);
CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social);
CPF (Cadastro de Pessoa Física);
Documentos emitidos no país de origem como passaporte, carteira de identidade ou de qualquer outra espécie.

4. É necessário comprovante de residência para a inscrição?
As pessoas interessadas devem apresentar um comprovante de residência, que pode ser substituído por uma autodeclaração preenchida no momento da inscrição.

5. Qual é o horário de atendimento nos Polos?

O atendimento nos Polos é realizado no horário previsto para as aulas.

6. Quais os níveis de Português são oferecidos no curso de Português como Língua de Acolhimento?

Básico: recomendado para migrantes internacionais recém-chegados que não possuem conhecimentos básicos da língua portuguesa.
Intermediário: recomendado para migrantes internacionais com noções básicas de fala e escrita da língua portuguesa.
Avançado: recomendado para migrantes internacionais com algum grau de domínio da fala e da escrita que queiram aprimorar seus conhecimentos da língua.

7. Como é feita a definição do nível de cada aluno?

É realizada uma avaliação diagnóstica no início das aulas. Essa avaliação não é um critério de classificação ou desclassificação para o curso.

8. Quantas vagas são ofertadas para o curso de Português como Língua de Acolhimento?
Não há limitação de vagas. As turmas e o número de alunos ficam sob avaliação da coordenação geral do Programa e da capacidade de oferecimento de turmas nos Polos.

9. Em que dias e horários são ofertados o curso de Português como Língua de Acolhimento nos Polos?
Os cursos são oferecidos preferencialmente no período noturno, conforme a demanda recebida ou a disponibilidade do Polo acolhedor. Para saber mais detalhes, é preciso acessar a página do Programa ou pelo e-mail uemsacolhe@uems.br.

10. Qual a carga horária do curso de Português como Língua de Acolhimento?
O curso tem a carga horária de 60h.

11. Em quais cidades são ofertadas o curso de Português como Língua de Acolhimento em Mato Grosso do Sul?
Nas cidades de Campo Grande, Dourados, Nova Andradina e Cassilândia.

12. O curso de Português como Língua de Acolhimento tem alguma taxa?
Não. Não há nenhuma taxa de inscrição ou mensalidade, o curso é completamente gratuito.

13. Posso utilizar o certificado do curso de Português como Língua de Acolhimento para fins de naturalização?

Sim. O certificado do curso pode ser usado como certificado oficial de proficiência em língua portuguesa para fins de naturalização. O certificado é expedido pela Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

14. Como posso atuar como colaborador do Programa?

Basta entrar em contato com a coordenação geral (uemsacolhe@uems.br) para obter informações sobre os períodos de capacitação específica.

(Com informações da UEMS, Comunicação Governo MS)
(Foto do destaque: Saul Schramm Jr)

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