Do amanhecer ao entardecer, quando o céu explode em tons avermelhados e os pássaros saem dos ninhos e depois se aninham, voando de um lado para outro em movimento sincronizado, é possível ter a dimensão da beleza dos ecossistemas em Mato Grosso do Sul
O Pantanal, as grutas de Bonito e a biodiversidade com espécies como tamanduá-bandeira, onça-pintada, capivaras, tucanos, tuiuiús e araras fazem do Mato Grosso do Sul uma região de pura natureza e um espetáculo de vida, propícia para atividades turísticas em áreas rurais, onde o turista tem experiências incríveis.
Não é à toa que os destinos aumentam cada vez mais para os visitantes, que chegam em levas a Campo Grande e se dirigem ao Norte, Oeste e Sudoeste de Mato Grosso do Sul, para contemplarem e desfrutar das belezas dos ecossistemas nos três biomas presentes no Estado – Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica.
O ecoturismo já é a terceira principal atividade econômica de Mato Grosso do Sul. Ecologia, pesca, eventos, patrimônio histórico, flora e fauna tornam o Estado um imenso território turístico, realçado pela Rota Bonito Pantanal, onde a biodiversidade é um espetáculo de vida.
Caminhar por trilhas no mato e margear rios de águas transparentes. Observar animais e contemplar a natureza. Nunca gestos tão simples se tornaram atrações tão disputadas em Bonito, paraíso ecológico onde os turistas encontram sossego, aventura, prazer e, sobretudo, reflexão sobre os ganhos proporcionados pela natureza preservada.
Com projeção de ultrapassar o público recorde do ano passado, Bonito mantém a alta taxa mensal de visitantes. Em janeiro, foram 143.866 visitações, 6.788 a mais do que no mesmo mês de 2023. A taxa de ocupação da rede hoteleira também superou as expectativas (81%), com alto índice de satisfação dos hóspedes.
O boletim de janeiro do Observatório do Turismo de Bonito (OTEB), coordenado pelo BCVB, apontou que os passeios preferidos dos visitantes continuam sendo os balneários (66.671 visitações), flutuação (23.719), cachoeiras (15.99) e as grutas (12.856). O total de visitações representa aumento de 4,95% em relação a janeiro do ano passado. O movimento no aeroporto estadual também cresceu, com 3.572 desembarques (1.088 a mais do que em dezembro de 2023) nos voos da Azul e Gol.
O fluxo se deve às belezas naturais de um dos principais destinos da Rota Pantanal Bonito e, também, pelo forte calendário de eventos nacionais e regionais captados e promovidos pela prefeitura e iniciativa privada, onde se destacam esportes de aventura, congressos e festivais.
Encravada na Serra da Bodoquena, a cidade de Bonito é o principal destino ecoturístico do Estado e internacionalmente conhecida pelas grutas, balneários de águas azuis, aquário natural cheio de piraputangas, pintados, piaus e curimbas, flora nativa, cavernas, trilhas e rapel.
Mantendo a tendência desde o ano passado, o número de visitações aos mais de 40 atrativos de Bonito e região está em elevação. Perto dali, há outro paraíso – Jardim, cidade também protegida pela Serra da Bodoquena e caminho para o Pantanal do Nabileque.
O Parque Nacional da Serra da Bodoquena tem características florestais da Mata Atlântica, onde se concentram as nascentes do rio Formoso, principal afluente de Bonito, e o rio da Prata, de águas calcárias e cristalinas, na cidade de Jardim, onde também os turistas praticam mergulhos, passeios pelas grutas e de barco, além de esportes radicais.
O circuito mais procurado nas duas cidades é formado pelas grutas do Lago Azul, o Abismo de Anhumas e o Aquário Natural Baía Bonita. Em Jardim também é possível praticar o mergulho de superfície no rio da Prata, que permite a observação de uma riquíssima vegetação aquática e peixes de variadas cores e espécies.
As cavernas são verdadeiras obras de arte, muitas brilham e deslumbram milhares de reflexos espalhando-se no lago de águas calcárias e cristalinas. A gruta do Lago Azul, uma das mais admiradas, com suas águas muito azuis e com mais de 80m de profundidade, é um convite ao mergulho. Cardumes de piraputangas e de curimbas são observados e admirados.
Não é possível contemplar tantas belezas em apenas um dia. A exploração de trilhas, grutas e cavernas leva um dia. No abismo Anhumas o turista precisa de um dia e meio – uma parte só em treinamento. Anhumas é uma cavidade no chão com profundidade de 72 metros, onde o turista desce e sobe de rapel. No fundo há um lago. Araras se aninham em suas paredes rochosas para se proteger dos predadores.
A flutuação é uma modalidade de mergulho leve, de pequena profundidade, em que a diversão se faz apenas com um snorkel e uma máscara – dependendo do lugar, nadadeiras e lanterna também podem fazer parte dos apetrechos necessários. Exige-se apenas um rápido treinamento, permitindo que, com o auxílio de um instrutor, até mesmo quem não saiba nadar aprecie a beleza dos peixinhos coloridos no fundo dos rios.
Para realizar as flutuações no rio da Prata e no Aquário Natural, o visitante deve caminhar pelas trilhas da mata ciliar. No caminho, se observa animais silvestres e árvores centenárias, como os ipês, as aroeiras e as perobas. Ao chegar até as nascentes dos rios, começa uma das experiências mais interessantes de Bonito. O turista entra em um imenso aquário de águas cristalinas e se desloca tranquilamente em meio a dezenas de espécies de peixes e de plantas aquáticas, com cores e formas de infinita beleza.
A mais alta das cachoeiras do Estado, com 156m de altura, fica a 55 km do centro de Bonito e é ideal para praticantes e apreciadores de esportes radicais: o rapel de 90 metros de altura é pura aventura. Uma plataforma de 34 metros de comprimento projeta-se no abismo, proporcionando uma descida repleta de adrenalina pelo paredão com inúmeras grutas e um magnífico visual sobre o cânion do rio Salobra.
As águas de Bonito oferecem excelente visibilidade graças à alta concentração de calcário, que funciona como agente purificador. Em certos pontos, a transparência ultrapassa os 30m, proporcionando visão de rara beleza, entre peixes coloridos como piraputangas, dourados, pintados e piaus, além da interessante flora aquática.
Espetáculo de vida
Na Nhecolândia, a seis horas de carro de Campo Grande, está concentrada a porção mais rica em fauna do Pantanal. Por estar numa zona de baixo relevo e altitude, dezenas de rios confluem para essa área, formando lagos e vazantes que servem de bebedouros para os animais o ano todo, inclusive no período da seca, de junho a novembro.
O Pantanal abriga 650 espécies diferentes de pássaros, 300 de peixes, 167 de répteis, 35 de anfíbios, além de 95 de mamíferos. Em um simples passeio a pé, a cavalo ou de barco, é possível avistar jacarés, capivaras tamanduás e veados convivendo em harmonia com milhares de pássaros como tuiuiús, araras azuis, tucanos e ariranhas. Esse ecossistema é ainda mais rico em microelementos e insetos, já tendo sido catalogadas, por exemplo, mais de mil espécies de borboletas.
Considerado Patrimônio Natural da Humanidade e reserva da Biosfera pela Unesco, o Pantanal chama a atenção do mundo inteiro não só por suas belas paisagens, mas pela riqueza de seus ecossistemas e de sua biodiversidade, formados por três biomas: Cerrado, Chaco Boliviano-Paraguaio e Floresta Amazônica, contando ainda com a presença de espécies da Caatinga.
O Pantanal é um dos mais delicados e valiosos patrimônios naturais do Brasil. A dinâmica que regula o ciclo das águas, a fauna e a flora pantaneira, comprova uma interdependência de vida. Basta que um elemento diferente interfira para que a cadeia se fragmente ou se modifique.
Através dos anos, a população local foi aprendendo a conviver harmoniosamente com a sua privilegiada natureza. Inicialmente, com as lições dos povos indígenas, depois, com o desenvolvimento de uma consciência ecológica que permeou toda a cultura regional. O Estado tem um extraordinário patrimônio hídrico, formado pelas bacias do rio Paraguai e do rio Paraná, e sob o Aquífero Guarani.
Corumbá é conhecida como a Capital do Pantanal e destaca-se no turismo de pesca às margens do rio Paraguai, que possui uma grande diversidade de espécies de peixes. Há ainda mergulhos, turismo contemplativo (Estrada Parque) e visitas às minas do Urucum, além de safári fotográfico, treking, passeios de barcos e a cavalo.
A pesca esportiva no Pantanal de Corumbá é considerada a melhor do Brasil em água doce. Não apenas pela piscosidade do rio Paraguai e seus afluentes, mas também pela estrutura das embarcações (camarotes com ar condicionado, internet, banheiros privativos, piscinas), as quais proporcionam um show de classe e estilo, comodidade e total segurança.
A abundância de animais faz da região do Pantanal um dos lugares mais propícios do Brasil para observação da flora, fauna e para a prática da pesca esportiva, além de passeios em barcos-hotéis. A área total é de 230 mil quilômetros quadrados, abrangendo 12 municípios dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ao Norte, estão as serras dos Paracis, Azul e do Roncador. A Leste, a Serra de Maracaju. Ao Sul, a Serra da Bodoquena.
Turismo Rural
Engana-se quem acredita que já conhece tudo o que o Estado pode oferecer. Agora, será possível conferir na 19ª edição nacional da Ruraltur, a maior feira de turismo rural do Brasil, quais os melhores destinos de ecoturismo, além de painéis, palestras e atrações culturais. Pela primeira vez no Estado, o evento acontecerá nos três últimos dias da primeira quinzena de dezembro, na Feira Central de Campo Grande.
Promovido pelo Sebrae, em parceria com o Sistema Famasul, por meio do Senar/MS, e apoio da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur) e da prefeitura da Capital, a última edição da Ruraltur trouxe como tema “Isto é Mato Grosso do Sul”, no ano em que Campo Grande foi reconhecida como a Capital do Agro.
Cidade espaçada e bem estruturada, arborizada e com ares de interior, Campo Grande é rica em fauna e flora. Um dos diferenciais do turismo rural é permitir a integração com o cotidiano da lida no campo, uma vez que, no Mato Grosso do Sul, o agronegócio é uma das alavancas da economia.
O turismo rural permite a integração entre homens e mulheres do campo junto ao meio ambiente, a valorização dos produtos locais e a atração de investimentos em infraestrutura para as regiões onde se desenvolve. É a primeira vez que Mato Grosso do Sul recepcionará o evento, uma oportunidade para mostrar a potencialidade do Estado e seus destinos turísticos.
Momento do espetáculo
Na primeira semana de novembro do ano passado um grupo de organizadores de eventos e articuladores da observação de aves no Brasil se reuniu em uma viagem ao longo do rio Paraguai para observar aves e discutir a importância da atividade para a conservação socioambiental e o turismo.
A FundturMS, junto com a Joicetur, Avistar Brasil, Instituto Homem Pantaneiro e da Icterus Ecoturismo, deu apoio ao encontro idealizado e coordenado pelo Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo.
“Aviturismo: um horizonte de eventos” foi o primeiro Evento Fluvial de Observação de Aves no Brasil e aconteceu a convite do Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo. O grupo de 20 pessoas embarcou no porto de Corumbá e navegou até a Serra do Amolar, ao longo do rio Paraguai, principal responsável pela dinâmica de secas e cheias da planície pantaneira.
O Pantanal sul-mato-grossense está entre os principais destinos de turismo de pesca do país. No entanto, esta atividade é interrompida na piracema, período importante para a reprodução dos peixes e que garante a sustentabilidade do segmento. E é neste momento que a observação de aves se coloca como alternativa para manter o fluxo turístico. o turismo ativo na região.
Ao longo do percurso do rio, observadores avistaram cerca de 200 espécies de aves, além de mamíferos e répteis. Ao longo da expedição, cada percurso, entre o rio Paraguai, corixos e baías, incluindo caminhada por trilha na RPPN Eliezer Batista, gerou listas de espécies com aves muito singulares como o rapazinho-do-chaco, o cara-suja-do-pantanal, a papa-taoca-do-pantanal e a choca-da-bolívia.
Essas espécies têm ocorrência bastante restrita no Brasil e se o turista quiser encontrá-las com mais facilidade, certamente terá como destino o Mato Grosso do Sul e a região pantaneira. Sem contar as centenas de cabeças-secas, tuiuiús, garças, marrecas e biguás que, justo nessa época, pincelam intensamente a paisagem com cores e vida.
É o ritmo das águas dando passagem aos seus protagonistas. Se é hora de darmos um descanso aos peixes, a fim de assegurar sua reprodução e permanência futura, pode ser o momento ideal para se deslumbrar com as belezas cênicas preenchidas com milhares de aves que aproveitam o momento das águas rasas para garantir seu alimento.
Principais pontos turísticos no Pantanal
Aquidauana
Localizada no Pantanal Sul, Aquidauana é um autêntico paraíso povoado por exuberantes espécies da fauna e flora que se espalham por uma imensa planície inundável, formada por baías, colinas, cordilheiras, vazantes e corixos. É um dos portões de entrada para o lado Sul do Parque Nacional do Pantanal e tem localização privilegiada na região da Serra de Piraputanga. No século XVI, os espanhóis fundaram o povoado de Xaraés, que deu origem à cidade, às margens do Rio Aquidauana. Os índios da região chamam a planície local de Mar de Xaraés.
Miranda
Miranda é considerada o Portal do Pantanal Sul, visto que a grande planície alagadiça começa praticamente dentro da cidade. Desde a sua entrada, o turista já encontra uma flora tipicamente pantaneira nos dois lados da rodovia – assim como várias espécies da fauna, com destaque para as aves. E aí começam os atrativos colocados à disposição dos turistas, como áreas de camping, hotéis e pesqueiros.
Rio São Lourenço
No coração da região pantaneira, o rio tem pacus, pintados e cacharas. A temporada de pesca começa em fevereiro e nem acabou o ano as agências já comercializam pacotes para 2024, de tão grande é a procura pelo turismo de pesca.
A pesca retoma em fevereiro de 2024, na modalidade pesque e solte, e de março a novembro a legislação permite levar um exemplar – embora em Corumbá prevaleça a devolução do peixe ao rio, medida adotada pelas empresas que comercializam os pacotes e apoiada pelos pescadores esportivos. A captura e o transporte do dourado, um dos exemplares mais cobiçados, estão proibidos.
Rio Paraguai
A espinha dorsal do Pantanal é o Rio Paraguai, que corta a região de norte a sul e recebe as águas dos rios Miranda, Aquidauana, Taquari e Cuiabá. De outubro a abril, as cheias fazem surgir enormes lagos, baías, braços de rio e corixos – canais de escoamento.
Instituto Luiz de Albuquerque
No museu podem-se encontrar animais empalhados, peças de várias tribos indígenas da região, sessões de artes plásticas e de artesanato em couro e barro, utensílios usados nas fazendas centenárias, objetos pessoais dos primeiros desbravadores do Pantanal e do Marechal Cândido Maria da Silva Rondon. O prédio de arquitetura francesa, construído em 1922 para abrigar um grupo escolar, foi restaurado para dar espaço, além do museu, a duas bibliotecas.
Forte Coimbra
Localizado numa área de difícil acesso – apenas avião ou barco chegam ao local – foi construído em 1775 para defender o território brasileiro contra as invasões espanholas. Foi cenário de batalhas também na época da Guerra do Paraguai. Tombado em 1975, hoje é sede da artilharia de costa da 18º Brigada de Infantaria de Fronteira do Exército.
Casario do Porto
Em 1814, o Porto foi o 3º maior da América Latina. Desembarcavam transatlânticos com mercadorias para compra e venda da Europa para o Brasil. Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1992, o cartão postal da cidade ainda guarda vestígios de um período de grande prosperidade. Os prédios abrigavam grandes empórios, 25 agências bancárias internacionais, curtumes e a primeira fábrica de gelo do Brasil. O prédio Wanderley Baís & Cia, construído em 1876, é um dos mais belos do porto. No local funciona hoje a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Turismo e a Fundação de Cultura do Pantanal. Outro casarão de igual valor arquitetônico é a casa Vasquez & Filhos, construída em 1909 pelo arquiteto italiano Martino Santa Lucci.
Forte Junqueira
Construído em 1871, logo após a Guerra do Paraguai, está localizado numa área privilegiada de onde se avista o Pantanal. Os 12 canhões fabricados na Inglaterra nunca foram usados. As paredes são de calcário e têm meio metro de espessura. O Forte, situado dentro do Quartel do 17º Batalhão de Caçadores, tem esse nome em homenagem a José Oliveira Junqueira, ministro da Guerra na época de sua construção.
Estrada Parque
Pode-se ver, ao longo dos seus 120 Km e 87 pontes de madeira, aves, mamíferos e jacarés. Na Estrada Parque está Porto da Manga, que se destaca pela mostra maravilhosa da flora dos ipês, das bocaiúvas e animais vivendo em perfeita harmonia. O acesso pode ser feito pela BR-262, a partir do Buraco das Piranhas, seguindo o sentido do Passo do Lontra; ou a partir de Corumbá, seguindo para Porto da Manga.
Outros atrativos – Ao Norte do Estado, Rio Verde, Coxim e Costa Rica oferecem opções de passeios ecológicos, pesca esportiva, safáris fotográficos ou de contemplação.
Texto: Edmir Conceição e Silvio Andrade
Fotos: Silvio Andrade e Agências de Turismo