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Combate ao fogo no Pantanal é uma batalha sem trégua e nem trincheira

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É preciso o esforço de todos, só os bombeiros e Defesa Civil não podem vencer os incêndios, diz o governador Eduardo Riedel

Ponte na Estrada Parque atingida pelo fogo
Por Agência 24h*

Pensar que só os bombeiros e a Defesa Civil são suficientes para vencer os incêndios no Pantanal é uma grande ilusão. Combater o fogo em um ambiente seco e grande quantidade de combustível orgânico, exige um esforço sem tamanho, é uma batalha sem trincheiras em que só um exército de voluntários, brigadistas, produtores e a população pantaneira, junto com as estruturas governamentais, pode enfrentar com a perspectiva de reduzir ao máximo os danos ao bioma.

Essa é a percepção que o governo do Estado tem sobre os incêndios que seguem consumindo áreas do Pantanal. Desde os primeiros focos, no final de maio, já são aproximadamente 400 mil hectares consumidos pelo fogo. O luta, segundo governador Eduardo Riedel, é impedir que o desastre alcance proporções daquelas vividas em 2020 e que assombraram o país.

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Em entrevista à CNN na segunda-feira (17), o governador disse que o Estado começou em janeiro a se preparar para o alto nível de estiagem, que era esperado para começar em agosto mas que chegou mais cedo. “Todos os indicadores climáticos e de nível de água, não só no Pantanal, mas no Mato Grosso do Sul por inteiro, vinham prevendo e está acontecendo aquilo que nós prevemos por conta do alto nível de seca que a gente tem enfrentado”, afirmou.

Esforços conjuntos

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O governador reforça que o combate aos incêndios demanda esforços conjuntos de diversos atores, não apenas do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil. “É uma missão de todos, achar que o corpo de bombeiro sozinho, que a Defesa Civil vai conseguir [apagar os incêndios], a gente vê isso de tempos em tempos na Califórnia, em Portugal, na Austrália, são situações climáticas extremas que levam a isso”, disse.

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Riedel destacou a colaboração do setor privado, com produtores rurais com maquinário e equipamentos, de comunidades ribeirinhas e ONGs que atuam na região. Além disso, o governo federal está mobilizado para auxiliar no combate aos incêndios, com apoio da Marinha e do Exército Brasileiro.

Para contribuir no combate aos incêndios florestais no Pantanal, ONGs, entidades do terceiro setor e sociedade civil destacam a união e o trabalho conjunto que é realizado ao lado do Governo de Mato Grosso do Sul. Essa ação coletiva envolve articulação, capacitação, investimentos e planejamento dos próximos passos para proteger este bioma tão importante ao Brasil e ao mundo.

O trabalho conjunto é feito de forma contínua e começou lá atrás, com ações e planos de prevenção. Reativado desde 2017, o Comitê do Fogo é um dos espaços coletivos que tem a participação de todos estes entes (Poder Público e sociedade) para promover discussão, monitoramento, avaliação e prevenção aos incêndios florestais.

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Diretor-executivo do SOS Pantanal, Leonardo Gomes, ressaltou que o momento é de unir esforços e que esta parceria com o Governo de Mato Grosso do Sul é fundamental. “Este é um ano especialmente preocupante em função da seca, mas o que temos diferente em relação a 2020 é a preparação, os recursos e pessoas capacitadas para responder a altura. O uso eficiente dos investimentos é que vai fazer a diferença”, comenta.

Gomes lembrou que este planejamento para combater os incêndios florestais no bioma não foi feito apenas agora e sim com uma articulação anual. “As ações não param, principalmente dentro do Comitê do Fogo, com as câmaras técnicas, preparação, prevenção e capacitações. O objetivo agora é integrar os trabalhos para ter velocidade na articulação e em ações mais rápidas”.

Esta também é a avaliação do presidente do Instituto do Homem Pantaneiro, Ângelo Rabelo. Ele destacou que a soma de esforços é importante neste momento crítico. “Um trabalho em conjunto, reconhecendo o papel de cada ator, pois o nosso desafio é muito grande. Esse é o momento de juntar a capacidade técnica de cada um, com objetivo de ajudar o Pantanal”.

Bombeiros e equipamentos seguiram em barcaças para as bases avançadas em regiões de difícil acesso

Rabelo cita que foi feito um trabalho de prevenção e planejamento por parte do Governo do Estado, em conjunto com as ONGs e entidades da sociedade civil, mas que a questão climática surpreendeu a todos, já que o ponto crítico sempre fica para o segundo semestre, a partir de agosto.

“Acredito que os esforços devem recorrer a tecnologia e uma logística adequada para controlarmos estes incêndios. Temos ainda que respeitar a capacidade humana, que tem restrições devido ao local e altas temperaturas”, afirma.

Para o diretor institucional da Ecoa, Alcides Faria, o Governo do Estado tomou decisões importantes em relação a prevenção e combate aos incêndios, em um cenário e condições climáticas das mais difíceis que está ocorrendo no Pantanal.

“Com as informações disponíveis apresentadas por membros das secretarias e do Corpo de Bombeiros sabemos dos esforços que estão e serão desenvolvidos. Temos muito trabalho pela frente. A hora é de somar forças e continuar a luta em defesa do Pantanal”, concluiu Faria.

O governador Eduardo Riedel destaca os preparativos ao enfrentamento da temporada de incêndios por conta da condição climática adversa.

Preparativos para o combate ao fogo começaram no início de maio

“Por esta razão desde o ano passado estamos se estruturando, com a compra de equipamentos, aviões, implantação de bases avançadas e helicópteros das forças de segurança à disposição. Agora é uma missão de todos, temos que nos unirmos, fazer uma força conjunta para este enfrentamento. As ONGs estão se mobilizando, temos ajuda dos produtores e de quem mora na região. É uma união em torno desta causa”, ressalta Riedel. O investimento do Governo até o momento é de R$ 50 milhões nesse trabalho.

Contenção

O trabalho de controle e extinção dos incêndios florestais realizado pelo Corpo de Bombeiros no Pantanal está sendo efetivo em diferentes áreas do bioma, impedindo que as chamas destruíssem moradias, pontes e também a vegetação.

Apesar do aumento dos focos de incêndios, especialmente devido as condições climáticas extremas – sem chuvas, com altas temperaturas e velocidade dos ventos acima de 50 km/h, o que facilita a propagação do fogo –, as ações de combate foram eficazes em diversas situações.

Multas aos incendiários – Em outro lado, também está a aplicação de multas pelo Governo de Mato Grosso do Sul por incêndios florestais considerados criminosos no Pantanal. As punições já chegaram a R$ 53,8 milhões, resultantes de 94 autos de infração feitos pelos órgãos de fiscalização ambiental do Estado. Cada auto representa uma área queimada, que pode compreender milhares de hectares.

Quase 100 bombeiros foram enviados para bases avançadas dentro do Pantanal

Está em execução a Lei do Pantanal, legislação inédita no bioma. Também há outras medidas de prevenção e fiscalização (incêndios florestais). Imasul e PMA são os responsáveis por esse trabalho.

Uma das ações efetivas são as imagens de satélite para monitorar em tempo real o território sul-mato-grossense. Quando um foco de incêndio é detectado, a imagem é aproximada e busca-se informações sobre a propriedade do imóvel e em seguida é investigada a origem do fogo.

Situação atual e comparativo com 2020

Atualmente, o Pantanal tem cerca de 350 mil hectares queimados, mas o governador destacou que, em 2020, ano com condições climáticas semelhantes, 3,5 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas até o final da temporada. “Vamos trabalhar muito com todas as nossas forças para não deixar chegar nesses índices que foram tão agressivos para o bioma como naquela época”, afirmou Riedel.

O governador ainda mencionou que as origens dos focos de incêndio são diversas, desde acidentes até ações criminosas, mas ressaltou que a principal causa é a condição climática de seca extrema no estado.

Fumaça já afeta populações de municípios sob influência do Pantanal

Devido a uma nuvem de fumaça causada pela grande quantidade de incêndio no Pantanal sul-mato-grossense, cerca de 9 municípios poderão sofrer com as consequências no ambiente atmosférico, que deve ter uma asfixia do ar, e em razão disso, diminuir o oxigênio.

Entre os municípios estão: Porto Murtinho, Caracol, Miranda, Bodoquena, Bonito, Jardim, Nioaque, Aquidauana e Corumbá. O meteorologista, Vinicius Sperling da Cemtec, explicou ao Correio do Estado que a piora da situação, se dá devido a soma dos fatores, do chamado “Regra dos 30”, que consiste em:

  • 30 dias sem chuva
  • Umidade abaixo de 30%
  • Ventos acima de 30km
  • Temperaturas acima de 30°C

“Quando você tem essa combinação dos ‘trinta’, aliado à condição climática de longo prazo, o ambiente atmosférico fica ideal para queimar”, ressaltou. De acordo com Sperling, a condição climática de longo prazo são as faltas de chuva desde novembro de 2023. Por fim, o meteorologista alerta para que não coloquem fogo nas matas.

Queimadas

O secretário Extraordinário de Controle de Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente (MMA), André Lima, alerta que as causas dos incêndios não são por geração espontânea, e a maioria pela prática criminosa de ateamento de fogo no bioma.

Sobre a logística e investimentos do governo federal no combate as chamas no Pantanal, Lima explicou que os recursos devem vir do Ministério da Defesa, porém, o mesmo, está empenhado em outras duas frentes, enviar recursos para o povo do Rio Grande do Sul devido as enchentes, e no combate ao garimpo ilegal nas terras yanomami, na Amazônia.

De acordo com dados do Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais (Lasa), do departamento de meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), até o dia 16 de junho deste ano já foram consumidos pelo fogo no Pantanal 486.425 hectares do bioma, valor que já representa quase o dobro do que foi devastado no mesmo período de 2020, ano em que o bioma registrou a pior queimada da história.

Naquele ano, até o dia 16 de junho, foram consumidos 247.400 hectares, o que representa, que neste ano, o aumento é de 96,6% na área devastada. Em todo 2020 foram destruídos 3.632.675 hectares do bioma.

Combate

Grandes incêndios espreitam o futuro da maior planície alagável continental do planeta. Foto: Jean Fernandes Jr.

Atualmente o efetivo do Corpo de Bombeiros no Pantanal sul-mato-grossense é de 85 militares, e se espera um aumento de combatentes do fogo que se espalha na região, que deve ultrapassar de 100 bombeiros que trabalham na brigada ou nas 13 bases avançadas de combate, que ficam dentro do bioma. Já os voluntários e brigadistas somam mais de 300.

Em entrevista para o Correio do Estado, o Subcomandante-Geral do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso do Sul, coronel Adriano Noleto Rampazo, elencou algumas dificuldades que a corporação passa no combate aos incêndios no Pantanal.

“Os locais que estão pegando fogo são de difícil acesso. Um dos incêndios, que passou pela Estrada Parque Pantanal, derrubou uma ponte e conseguimos proteger outras duas pontes que não cairão. Estes danos são prejuízos importantes, que impedem a nossa locomoção pela rodovia”, disse o Subcomandante.

Além da dificuldade terrestre, o coronel Rampazo também informou que os pontos no Pantanal onde pegou fogo, junto com as condições climáticas, são outros fatores que dificultam.

“Para combater o incêndio, depende do acesso e das condições do vento e do tempo. Eles [incêndios] começaram simultaneamente na beira do rio, local este de difícil acesso. E a força do vento na semana passada fez o fogo aumentar, deixando o trabalho de combate inviabilizado. Não estamos na nossa força máxima ainda, mas vamos reforçar para continuar combatendo e, assim, diminuir os prejuízos ambientais”, enfatizou.

(*) Com informações do Governo MS, Corpo de Bombeiros, CNN, Correio do Estado, ONGS, ABr e Redação da Agência de Notícias 24h
Fotos: Saul Schramm, CBMMS e reprodução internet

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