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Campo Grande 126 anos: Migrantes e imigrantes, os propulsores do progresso

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Cidade assumiu ao longo do tempo um pouco de cada costume e moldou uma identidade cultural miscigenada

Eddson Carlos Contar
Por Eddson Carlos Contar*
Mal se fincaram os primeiros nove ranchos no nascente arraial de Santo Antônio de Campo Grande, começaram a chegar por aqui outros mineiros, muitos deles, a caminho das terras de Vacaria ,acabando por ficar no que seria uma simples parada para descanso e reabastecimento.
Depois vieram alguns paulistas e a seguir gaúchos, estes de direção inversa, já que alguns deles habitavam terras da fronteira e resolveram deslocar-se para o povoado que já se fazia conhecer pelos comentários dos que por aqui passavam. Depois, alguns goianos vindos de Baús, e com o tempo, os nordestinos. Antes de findar o século XIX alguns estrangeiros começavam a chegar.
Os primeiros , de acordo com testemunho de meu avô Antônio Luiz (filho de José Antônio Pereira, e co-fundador) ,teriam sido um português de nome Manoel Augusto de Carvalho e logo depois o italiano Bernardo Franco Baís, seguido de um árabe de sobrenome Maluf que retornou a Corumbá para desfazer-se de seus bens e estabelecer-se em definitivo em Campo Grande. A seguir vieram Amam Scaff, Marão Abalém e na primeira década do novo século os Saad, Contar, Abdala, Rahe, Name, Bunazzar, Mansour, Raslan, Bechara,Bedoglin ,Mastoub, Abrão e outros que deram início a formação da grande colônia sirio-libanesa e os Mardin ,a maior existente na cidade até os dias de hoje.
Ao mesmo tempo, chegavam por aqui os espanhóis , Caminha, Lafuente, Rodrigues, Domingues, Cavanelas, Peres, Vasquez, Cubbel , Gomes, Sobral, Pettengil, Madrid , Peron, Escudero e outros. Dos portugueses, vieram os Rosa, Ferreira, Thomé, Sacadura, Avelino dos Reis, Gaspar, Batista Fernandes, Vendas, Santos Pereira, Louzinha, Chita, Leal Junior, Gonçalves Gomes. Ainda no início do século, nossos irmãos paraguaios começavam a chegar e influir fortemente em nossa cultura com seu espírito poético, liderados por Eugênio Escobar.
Os japoneses que representam hoje a segunda maior colônia na Capital, chegaram com a estrada de ferro, muitos deles participando da construção da ferrovia., sendo a maioria de origem Okinawa. Os alemães, vindos mais tarde, fixaram-se em sua maioria na colônia de Terenos, a exemplo de russos, polacos ,lituanos . Desses, ficaram registrados na história da Cidade os Wulfes, Wehner, Schrader, Cohrs, Kussarev, Darmanchef, Chicoll, Ujacov, Ballaniuc, Ilgenfritz. Os Armênios representam também uma significativa parcela de nossa história, ocupando lugar de destaque no comércio da Cidade, bem ao estilo árabe, demonstrando aí, a sua passagem pelos países que os acolheu nos amargos dias de sua história. Passaram e ainda estão por aqui os Sarian, Kodjaoglanian, Demirdjian, Balabanian, Puxian, Balian, Orondjian Altonian, Balian, Telian, Arakelian, Chimzarian, e outros.
Ao longo da história de Campo Grande existem registros de estrangeiros de mais uma vintena de países. São chineses, coreanos, tchecos, franceses, belgas e até indús ,como o velho professor Tanu Pilai. Quanto aos italianos precedidos por Baís , são lembrados os Moliterno, Panutti, Lacava, Angello, Setti, Mandetta, Gazanneu, Lamônaco, Sarubbi, Leteriello, Giordano, Oliva, Interlando , Palmieri, Giugni, Cienteli, Carrara,Tognini, Tessitori, Maymone , Zeola, Cândia e muitos outros que formaram uma das mais importantes colônias participantes no desenvolvimento da Cidade. Gregos também estiveram presentes nos primórdios da Cidade. Entre outros, Palieraqui, Vavas, Haralampides, Procopiou. De todos esses alicerces é que surgiu, por seus descendentes a grande Cidade que hoje nos abriga e orgulha.

COSTUMES & INFLUÊNCIA

Migrantes e imigrantes carregam consigo sua cultura, seus costumes e sua identidade e geralmente vão assimilando as características do lugar que os acolhe. Em Campo Grande, no entanto, as coisas acontecem na contramão. A Cidade assumiu ao longo do tempo um pouco de cada costume e, o que de inicio se formou no tradicionalismo mineiro , desfez-se na formação de uma cultura miscigenada que vai da culinária à música, do comportamento ao sotaque.
Como exemplo patente, observa-se no campo da música a forte influência paraguaia, tendo como paralelo o nosso rasqueado que nada mais é que a polca paraguaia mais lenta e com leve batida diferenciada. Assim mesmo, o rasqueado teve como berço Três Lagoas e aqui é difundida graças ao maior número de artistas regionais existentes . Somado a isto, vemos aí uma verdadeira “baianização” do nosso carnaval e o domínio do vanerão nos bailes que em pouco se chamarão “bailanta”. Nossa culinária é um verdadeiro festival, gaúcho, árabe, ítalo-japonês com pitadas de Minas. O sotaque também acompanha ,aos poucos, a chaira gaúcha (do Mato Grosso do Sul ao invés de :de Mato Grosso do Sul etc).
Com o caminhar da carruagem deveremos ter aqui uma cultura diferenciada que acabará por se identificar como própria, incluindo-se salamaleiques com saudação oriental ,gesticulação italiana e linguagem gaucho-guarani. À mesa será servido uma mistura de sopa paraguaia, quibe, sobá e pizza. E jantaremos ao som um conjunto formado por tocadores de harpa, alaúde, thorê, durbaque, e bandoneona. E, tome dabki-guarânia-xote e tarantela!
(*) Eddson Carlos Contar, bisneto de Jozé Antônio Pereira, é historiador, escritor, poeta, jornalista e compositor

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