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Bienal Pantanal: O desafio de inspirar jovens leitores e colocar MS no mapa literário nacional

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Primeira Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul será realizada em Campo Grande entre os dias 4 e 12 de outubro

Secretário de Cultura, Marcelo Miranda, os diretores da Bienal Pedro Ortale e Carlos Porto, e o produtor cultural Belchior Cabral, em reunião sobre os preparativos da Bienal Pantanal
Por Agência 24h

Entre homenagens ao poeta Manoel de Barros e apresentações do renomado violeiro Almir Sater, a primeira Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul, a Bienal Pantanal, promove debates urgentes sobre território, cultura, geopolítica, inovação e inteligência artificial. O evento, no entanto, carrega uma missão ainda mais crucial: conquistar o público jovem e reverter os alarmantes índices de leitura no país.

Num mundo dominado pelas telas, a criação de ambientes interativos e “instagramáveis” é fundamental. A Bienal se propõe a ser esse espaço, oferecendo aos jovens a oportunidade de encontrar seus autores favoritos e vivenciar a literatura de forma única. Essa imersão é um passo essencial para despertar o gosto pela leitura, desenvolver a imaginação, estimular a apreciação pelas artes e revelar talentos ocultos.

O desafio, porém, é monumental. Dados da edição 2024 da pesquisa Retratos da Leitura, a mais completa do país, pintam um cenário preocupante: pela primeira vez, os não leitores (53%) superam os leitores na população brasileira. Isso significa que 6,7 milhões de pessoas deixaram de ler nos últimos quatro anos. Considerando apenas livros inteiros lidos nos três meses anteriores à pesquisa, o percentual de leitores cai para apenas 27%.

Diante desse contexto, os obstáculos de uma primeira edição tornam-se ainda mais complexos. É necessário definir o público-alvo, organizar a logística de um evento de grande porte, atrair expositores e autores renomados, captar patrocínios e, acima de tudo, construir uma identidade sólida que garanta sua perenidade.

“É extremamente complexo realizar um evento dessa magnitude, envolvendo inúmeras variantes, desde profissionais até financiamento. Mas encaramos esse desafio pela importância de fomentar a leitura e valorizar a produção literária”, afirma Pedro Ortale, diretor-executivo da Bienal. “A Bienal Pantanal nasce sob o signo da integração cultural, um instrumento a serviço da aproximação dos povos e promoção da paz.”

O evento, que ocorre de 4 a 12 de outubro de 2025, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande, é organizado pelo Instituto Imole e conta com patrocínio dos governos estadual e federal. A programação promete ser diversificada, com conferências, homenagens, lançamentos de livros, seminários, oficinas, mostras de audiovisual e gastronomia regional.

Tecnologia e Juventude: Um diálogo necessário

Os debates da Bienal apontarão para um futuro inevitavelmente tecnológico. A inteligência artificial e suas implicações para o mercado editorial estarão em pauta, com a presença de editores e escritores. Dois expoentes da literatura sul-mato-grossense já estão confirmados: James Jorge Barbosa Flores, contista e pesquisador apaixonado pela história regional, autor de seis livros como “Na Fronteira” e “ITATIM”; e Bosco Martins, jornalista e escritor, que acaba de lançar “Diálogos do Ócio, um inventário de amizade com o poeta Manoel de Barros” (Editora UFMS 2024).

Para Bosco Martins, a questão central é: “Como transformar MS em um estado de leitores?”. Ele acredita que a resposta está no círculo virtuoso: “Com mais leitores, o mercado se fortalece; com o mercado mais forte, formam-se mais jovens leitores”. Sobre a IA, ele destaca a necessidade de “um investimento significativo do setor editorial na formação de seus colaboradores, aspecto fundamental para que a indústria do livro se atualize e utilize todo seu potencial tecnológico”.

Homenagem a Manoel de Barros e a Consciência Pantaneira

Em recente encontro, Bosco entregou seu livro sobre Manoel de Barros ao icônico jornalista José Hamilton Ribeiro, que prefaciou a obra. Na troca de autógrafos, Zé Hamilton presenteou o amigo com a nova edição do livro O Gosto da Guerra

A homenagem ao poeta Manoel de Barros não será apenas simbólica. Ela servirá como espelho e inspiração para afirmar a literatura regional e levar o apelo do Pantanal à consciência ambiental em sua plenitude. O livro “Diálogos do Ócio”, de Bosco Martins, promete revelar o íntimo do poeta, explorando tanto o lado humano e inquieto quanto o ser literário e sua “incompletude”.

A celebração conta com o endosso de uma lenda do jornalismo brasileiro, José Hamilton Ribeiro, que recentemente completou 90 anos. Zé Hamilton, que teve um papel crucial em apresentar o Pantanal e Manoel de Barros ao país, destacou a homenagem: “Falar do Manoel de Barros é fácil porque ele era um poeta. E poeta é uma coisa indefinível. O poeta não tem limite, ele não acaba”. Sobre o livro, ele comenta: “É uma preciosidade, reunido por duas personalidades tão ricas, de substância humana muito forte”.

Em mensagem aos 90 anos de Zé Hamilton, Bosco Martins refletiu: “Vivemos em dois mundos… o mundo digital se completa com o analógico, como a memória. Mas o que humaniza todo esse processo é a literatura. Viva a Bienal Pantanal!”.

Premiação e Legado

Coincidindo com as comemorações do aniversário de Mato Grosso do Sul (11 de outubro), a Bienal Pantanal será palco de importantes premiações literárias. Estudantes de escolas públicas participarão de concursos, e autores residentes no estado concorrerão ao Prêmio Tuiuiú de Literatura, cementando o legado do evento como um pilar para o fortalecimento das políticas públicas do livro e da leitura em MS.

Evento multifacetado

As autoridades do setor cultural e todos os segmentos da área estão sendo mobilizados para o evento, que é visto como uma das grandes iniciativas para a afirmação da vocação literária de Mato Grosso do Sul, que tem uma rica produção regional e mantém duas academias – a Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL-MS) e  a Academia Feminina de Letras e Artes (Aflams-MS).

No site da Bienal, os organizadores destacam o desafio, mas comemoram a receptividade à proposta de fazer do evento um grande encontro de integração cultural. “Será um evento multifacetado, celebrando a literatura e suas interações com outras formas de arte e cultura. Além da comercialização de livros, ocorrerão conferências com escritores nacionais, internacionais e regionais, homenagens, lançamento de livros, mostras de cinema, gastronomia pantaneira, seminário e encontros. Atividades complementares, como cinema, teatro, música e dança, também integrarão a programação, criando um ambiente cultural rico e inspirador”.

Belchior Cabral, Carlos Porto, Marcelo Miranda e Pedro Ortale: expectativa de um grande evento de integração cultural

“A primeira edição do evento está organizada em dois eixos temáticos que abordam questões culturais, sociais e tecnológicas. Territórios: culturas e geopolítica explora o Pantanal como paisagem que molda identidades e transcende fronteiras, refletindo temas como colonização e diversidade cultural, tendo o poeta pantaneiro internacionalmente reconhecido Manoel de Barros como figura homenageada. Nesse campo também são abordados os Estados modernos e os desafios do multiculturalismo e a inclusão de minorias em Estados historicamente “monoculturais”.O segundo campo Tecnologias Digitais sociedade e Mercado: o mundo contemporâneo aborda o papel das novas tecnologias na produção literária e na preservação de identidades locais em um mundo globalizado, além do impacto das Big Techs nas mais diversas dimensões da vida nos tecidos sociais”.

 

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