Caso seja fechado o negócio bilionário, Suzano teria que ter espaço contábil para aumentar dívida e tomar até US$ 19 bilhões em empréstimos
Por Agência 24h*
Todas essas especulações, no entanto, foram afastadas pela Suzano há um mês, no início de maio. Após as ações da empresa despencarem, foi divulgado desmentido sobre as negociações. A empresa ressalta, porém, que está “permanentemente” analisando oportunidades de mercado e investimentos alinhados com a sua estratégia de negócios.
Em maio, quando a oferta da Suzano pela IP foi noticiada, o banco já havia sinalizado que via a operação como positiva. Agora os analistas calculam que, a um múltiplo de 6,5 vezes, a operação poderia adicionar cerca de R$ 15 por ação ao valor de mercado da Suzano. Além da recomendação de compra, o banco tem como preço-alvo R$ 75, um prêmio de 54% sobre o valor atual.
Em Mato Grosso do Sul – A International Paper foi a primeira empresa do setor de papel e celulose a instalar unidade em Mato Grosso do Sul, adquirida pela VCP (Votorantim Papel e Celulose) ainda durante as obras de construção, em operação de troca de ativos. Mais tarde os ativos da VCP passaram para a Fibria, depois adquirida pela Suzano.
Em Três Lagoas, onde foi instalada a primeira unidade, a empresa, que tem sede nos Estados Unidos, a IP só operou no setor de papel, adquirindo a celulose da fábrica instalada na mesma área, beneficiando-se dos preços de custo.
As operações da IP em Três Lagoas começaram em 2009. Em 2021 tornou-se independente e mudou de nome. Antes de iniciar as operações em MS, em 2006, a VCP e a companhia norte-americana assinaram acordo de troca de ativos.
O acordo resultou em transferência para a VCP dos ativos da fábrica de Três Lagoas, que estava em construção, incluindo uma base florestal de 121 mil hectares. Com a IP ficou apenas o controle da fábrica de papel, instalada ao lado da indústria de celulose.
AS ESPECULAÇÕES
De acordo com a Bloomberg, a Suzano poderia tomar emprestado até US$ 19 bilhões e ainda manter a dívida líquida da empresa combinada perto de cinco vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), disseram as pessoas, que pediram anonimato porque as discussões são no campo privado. Esse é um nível de alavancagem que a Suzano, maior produtora de celulose do mundo, alcançou algumas vezes desde que a obteve sua classificação de grau de investimento em 2018.
Segundo a Bloomberg, não fica claro se a Suzano está disposta a ir tão longe pela International Paper. Ainda assim, a matemática mostra quanta margem de manobra a empresa controlada pela bilionária família Feffer tem para aumentar sua oferta.
A Suzano vê uma combinação com a International Paper de Memphis, no Tennessee, como a criação de uma potência global capaz de gerar dinheiro suficiente para desalavancar rapidamente um balanço patrimonial endividado.
A empresa se recusou a comentar na sexta-feira A volta das especulações. As ações da International Paper subiram até 4,3%, para US$ 46,34, com a notícia. As ações da Suzano reverteram um ganho anterior e negociam pouco alteradas.
A Companhia, que tem cerca de US$ 12 bilhões em dívida líquida, garantiu aos investidores que não fará nenhuma oferta que possa comprometer sua classificação de grau de investimento, segundo fontes.
A International Paper rejeitou uma oferta inicial de US$ 42 por ação, que teria avaliado a empresa em quase US$ 15 bilhões. A fabricante de embalagens provavelmente rejeitará qualquer oferta abaixo da marca de US$ 50 por ação, ou um total de US$ 17,3 bilhões, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.
Além da dívida, a Suzano estaria cogitando usar ações e parte de seus US$ 3,7 bilhões em dinheiro para ajudar a financiar uma oferta.
A Suzano e a International Paper gerariam lucros combinados de US$ 7,2 bilhões no próximo ano, excluindo quaisquer economias e ganhos de receita de uma combinação, de acordo com estimativas atuais de analistas compiladas pela Bloomberg. A Suzano está se aproximando da conclusão de um projeto de US$ 4,2 bilhões que aumentará sua capacidade de produção de celulose de fibra curta em 20%, aumentando sua capacidade de geração de caixa.
O plano de aquisição da Suzano enfrentaria obstáculos significativos, incluindo elevados custos de financiamento. O rendimento exigido pelos investidores para manter os US$ 1,75 bilhão em notas da empresa com vencimento em 2029 saltou para 6,2%, ante 5,1% em dezembro. Suas ações também estão perdendo valor rapidamente. A capitalização de mercado da Suzano despencou mais de 20% desde 6 de maio, antes de a Reuters informar pela primeira vez que a empresa brasileira havia abordado a International Paper, para ofertar US$ 12 bilhões. Enquanto isso, a International Paper saltou mais de 20%, para quase US$ 16 bilhões.
(*) Com informações da Bloomberg, Reuters, InfoMonew, Terra, G1, Estadão e Exame