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Acendeu a luz. O Aquífero Guarani dá sinais de esvaziamento

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Maior reserva de água doce da América do Sul e terceira maior do mundo pode sim esvaziar se o uso das águas subterrâneas fósseis não desacelerar e for bem gerido

Por Agência 24h*

O Aquífero Guarani é um importante corpo hídrico subterrâneo transfronteiriço formado na era Mesozoica, localizado sob as bacias dos rios Paraná, Uruguai, Paraguai, Pilcomayo, Bermejo e Salado. As águas fósseis se acumularam por dezenas de milhares de anos. Mas em tempo muito menor, sem comparação, e a crescente extração dessas águas significa algo muito preocupante, a sinalização de que elas podem se esgotar.

O Aquífero Guarani possui uma área aproximada de 1.194.000 km² e sua localização está sob parte dos territórios da Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. No total, cerca de 24 milhões de pessoas vivem no território do SAG. Cerca de 1.500 municípios pertencentes aos quatro países constituintes estão localizados na área do SAG. Nove milhões são abastecidos pelo aquífero.

Um estudo realizado pelo Banco Mundial e pela Organização dos Estados Americanos identificou mais de 2 mil poços perfurados nesta reserva de água doce. A maior parte deles é utilizada para abastecer a cidade de São Paulo, que consome 80% da água extraída..

Texto publicado na Revista da USP detalha artigo sobre o desafio que se impõe diante da perspectiva de as águas do Sistema Aquífero Guarani se esgotarem.

Para especialistas do Centro de Pesquisa em Águas Subterrâneas (Cepas) da USP (Universidade de São Paulo), prolongar o uso do SAG depende de uma gestão adaptativa baseada em estudos e monitoramento, que fomentem estratégias que integrem outras fontes de água, introduzam a recarga manejada de aquíferos, para dar sustentabilidade ao recurso. Os atores locais, que sofrem diretamente os impactos do esgotamento dos aquíferos, devem ser integrados à governança das águas subterrâneas.

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O Sistema Aquífero Guarani está sob o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, em uma região com 15 milhões de pessoas, que usam suas águas para o consumo humano, agrícola e industrial. O Estado de São Paulo é responsável por 80% das extrações, com centenas de milhares de habitantes sendo abastecidos por esta fonte, em municípios como Ribeirão Preto, Sertãozinho, São José do Rio Preto, São Carlos, Bauru e Franca. Porém, boa parte das águas do SAG são fósseis, ou seja, foram recarregadas há dezenas de milhares de anos, com lenta reposição. Assim, as extrações têm causado quedas nos níveis de água do aquífero e, se não controladas, poderão exaurir o recurso.

O artigo From global to local scale: How international experiences contribute to the fossil water management of the Guarani Aquifer System, de pesquisadores do Cepas, busca na experiência de outras regiões, como os Estados Unidos, a Espanha, o Norte da África e o Oriente Médio, ideias e contribuições para a gestão das águas fósseis do SAG no Brasil.

Mapa do Aquífero Guarani (retirado do artigo)

Através de uma revisão bibliográfica abrangente e da experiência de trabalho dos autores no SAG, o artigo destaca a necessidade de ampliar o monitoramento e estudar o uso de águas subterrâneas fósseis, particularmente em regiões que enfrentam custos crescentes de captação, pelo rebaixamento dos níveis do aquífero. O estudo enfatiza a necessidade de se avaliar cenários possíveis de extração futura, compreendendo os impactos econômicos e soluções para prolongar o tempo de vida das captações, bem como o papel da recarga artificial de aquíferos – prática quase inexistente no País.

O artigo destaca a necessidade de identificar áreas críticas de elevada extração, da ampliação dos sistemas de monitoramento, do desenvolvimento de modelos numéricos e do reforço das capacidades institucionais. Essas ações ainda são incipientes no Brasil. Assim, como pontua Fernando Rörig, um dos autores, “buscamos chamar a atenção da sociedade e dos gestores do SAG sobre o problema do esgotamento do aquífero, que precisaremos enfrentar no futuro próximo, a partir de ações que precisam começar agora”. Daniela Barbati, também autora do artigo, complementa: “As experiências mapeadas destacam o desafio que é gerir as águas fósseis do SAG, perante a fragmentação das responsabilidades entre órgãos governamentais, exigindo uma abordagem cooperativa envolvendo múltiplos atores sociais.”

Fernando Rörig - Foto: Linkedin
Fernando Rörig – Foto: Linkedin
Já Ricardo Hirata, outro de seus autores, conclui que “os aquíferos são uma conta de poupança que a natureza nos dá. Saber equilibrar o benefício dessa gigantesca acumulação com as suas extrações exige sabedoria.A gestão, baseada em uma governança justa, fará com que os benefícios do uso do aquífero sejam perenes e tenham o correto alcance social e econômico, com mínimos impactos ambientais negativos possíveis”.

Ricardo Hirata - Foto: Linkedin
Ricardo Hirata – Foto: Linkedin

O estudo deixa evidente a necessidade de aprimorar a gestão e a governança das águas fósseis no SAG para garantir a segurança hídrica no Brasil, principalmente no Estado de São Paulo.

A pesquisa não só contribui para o avanço das ações de gestão do SAG, mas também oferece recomendações para que os formuladores de políticas e as partes interessadas possam navegar pelos desafios da exploração das águas subterrâneas fósseis.

Para os autores, o trabalho ressalta a importância da colaboração internacional e das estratégias de adaptação para proteger o futuro de um dos maiores sistemas aquíferos transfronteiriços do mundo.

Daniela Barbati - Foto: Linkedin
Daniela Barbati – Foto: Linkedin

O trabalho é parte do Sacre, Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes, Projeto Temático da Fapesp que irá investigar com detalhe o uso do SAG na região de Bauru, que depende em mais de 75% desse manancial.

Um modelo de fluxo transiente está sendo preparado e soluções para prolongar o tempo de vida do SAG serão discutidas. O Sacre está pesquisando sobre soluções de engenharia, baseadas na natureza e de gestão para aumentar a segurança hídrica dos municípios paulistas, e conta com a participação da USP, Unicamp, Unifesp, UFSCar, órgãos de gestão de recursos hídricos e meio ambiente e as Universidades de Hiroshima (Japão) e Waterloo (Canadá). Para conhecer, acesse projetosacre.org.

Fonte: Jornal da USP com acréscimo de informações pela Agência 24h
Imagem do destaque – Aquífero Campeche (SC) – Foto: André Ganzarolli Martins

(*) Mais informações: e-mails fernandoschuh@usp.br, rhirata@usp.br e danibarbati@hotmail.com, com os pesquisadores Fernando Schuh Rörig, Ricardo Hirata e Daniela Barbati, respectivamente

**Arte: Beatriz Haddad – Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

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