Advogados disseram ter anexado “uma foto do soldado que demonstra sinais incompatíveis com a versão oficial do Exército”
Por Celso Bejarano – Agência 24h
A advogada Gisele Marques, coordenadora do movimento Juristas pela Democracia e o advogado Lairson Palermo, Coordenador da Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania, protocolaram nesta quinta-feira (9) na sede da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, um pedido de providências, recurso em que apelam pela “eficiente e correta” apuração acerca da morte do recruta do Exército, Vinícius Ibanhez Riquelme, 19, ocorrida 13 dias atrás no 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista.
O rapaz, que havia ingressado dois meses antes no Exército, participava de treinamento e passou mal. Ele foi levado para hospital da cidade fronteiriça, depois trazido para Campo Grande, onde morreu. Atestado de óbito indica a causa de morte pelo militar por ter sido submetido a “exercícios físicos rigorosos”.
PROVIDÊNCIAS
No pedido de providências, os advogados disseram ter anexado “uma foto do soldado que demonstra sinais incompatíveis com a versão oficial do Exército”. Mães de soldados que estão no mesmo comando teriam procurado apoio, pois temem pela integridade física e até mesmo pela vida dos seus filhos. Elas mencionaram que os soldados já liberados afirmam ocorrerem exageros e até mesmo tortura nos treinamentos”, diz trecho de nota divulgado por Gisele e Lairson.
“Não há garantias de lisura nas investigações se o acusado [Exército] tem as testemunhas sob sua custódia”, afirmou Giselle Marques, que também afirmou: “Solicitamos que a OAB-MS instaure um grupo de trabalho para acompanhar as investigações”.
Ela crê que a OAB institua um procedimento administrativo para adotar providências.
Já o advogado Lairson Palermo disse que ele e Gisele pediram “que a OAB compareça para verificar in loco o que de fato está acontecendo no local”.
No recurso em questão, os advogados solicitaram:
1 – imediato afastamento do representado do Comandante 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista – Mato Grosso do Sul, a fim de propiciar a escorreita investigação quanto aos graves fatos aqui noticiados;
2 – formação de um grupo de trabalho formado pela OAB; pelo MPF; JC; ADJC, e outros membros;
3 – envio com urgência de uma equipe da OAB-MS à Bela Vista para a oitiva das mães [dos recrutas], e verificação “in loco” dos fatos narrados;
4 – encaminhamento de Ofício à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e à Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, a fim de que ambas auxiliem na investigação dos fatos.
Ninguém da OAB-MS manifestou-se até agora acerca da apelação dos advogados.
O QUE DIZ O EXÉRCITO
O general da 4 ª Brigada de Cavalaria Mecanizada de Dourados, Abelardo Prisco de Souza Neto, disse hoje, à imprensa de Dourados, que o Exército instaurou um processo administrativo para investigar a circunstância da morte do recruta.
O comandante informou que o treinamento em questão juntou 179 recrutas e 39 instrutores. Depois da morte, em torno de 80 militares que atuaram no treinamento, buscaram ajuda médica.
Também segundo o general, todos os militares já tiveram alta médica e que oito exames atestaram influenza e um diagnosticou dengue.
O desfecho da investigação militar deve durar um mês.
NA POLÍTICA
A morte de recruta mobilizou também a classe política. O deputado estadual José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, protocolou na Assembleia Legislativa um requerimento em pede explicação do Exército sobre a tragédia.
“O presente requerimento tem como objetivo dar resposta à sociedade sul-mato-grossense, principalmente à família do jovem soldado Vinícius Riquelme, que faleceu na Santa Casa de Campo Grande”, diz trecho da apelação do parlamentar petista.