Combatente na guerra contra os coureiros na década de 1988, policial militar ambiental completa 35 anos dedicados à missão de buscar atitudes e amplificar consciência ambiental
Por Silvio de Andrade – Lugares.Eco
Ex-combatente dos coureiros (contrabandistas de peles de jacaré do Pantanal) nos anos de 1980, integrando um grupo de heróis ainda não reconhecido por salvar uma espécie de extinção, o 2º tenente da Polícia Militar Ambiental Antônio Rondon da Silva assumiu recentemente o comando do pelotão da corporação de Porto Murtinho, cidade localizada no Pantanal do Nabileque e situada na fronteira seca com o Paraguai.
Com sua larga experiência em educação ambiental, pela formação pedagógica e vivência na difícil tarefa de conscientizar a sociedade pela preservação da natureza, o oficial tem um propósito de trabalho na nova função e sua passagem pela região pode mudar conceitos e atitudes hoje praticados na fronteira, onde a pesca predatória tem sido um grande desafio dos órgãos de fiscalização ambiental. Uma fronteira de grandes extensões e meandros.
Com 35 anos de serviços prestados à Polícia Militar, Rondon deve cumprir em Porto Murtinho a última missão de farda e voltar a Corumbá, sua terra natal. Aos 57 anos de idade, quer encerrar a brilhante carreira deixando um legado na cidade denominada Portal da Rota Bioceânica. Com a reorganização estrutural da Polícia Militar Ambiental (PMA) em andamento, foi designado para o comando pela sua capacidade de diálogo e envolver comunidades pela proteção ambiental.
Vencer pela sensibilização
“Vamos trabalhar com a prevenção por meio da educação ambiental, acreditamos muito nessa ferramenta como base de conscientização. Com bom relacionamento com as autoridades e com a população, dos dois lados da fronteira, vamos tentar conciliar os interesses ambientais de proteção e conservação pela sensibilização e menos repressão. Mudar atitudes vai ser o nosso grande desafio”, afirma Rondon, ex-diretor-presidente da Fundação de Meio Ambiental do Pantanal, em Corumbá.
A questão da pesca predatória nesta região da fronteira é um problema sem solução até agora pelo fato de o Paraguai não ter legislação rigorosa para disciplinar a pesca de subsistência e esportiva no Rio Paraguai – a linha imaginária desses limites. Como agravante, o país vizinho não tem o período de defeso (piracema) e de nada adianta os órgãos de fiscalização do lado brasileiro combaterem a pesca no período (novembro a fevereiro) se o rio é uma via internacional.
Para o novo comandante da PMA em Porto Murtinho, contudo, a interlocução com as autoridades paraguaias pode ser um caminho para conciliar os interesses preservacionistas. Ele cita que o Paraguai hoje já exige e emite autorização de pesca amadora e profissional, por meio da Marinha, o que considera “um grande avanço”. No entanto, na sua primeira missão – Operação Carnaval – a PMA apreendeu pescado fora de medida e barcos de pescadores paraguaios.
Resposta rápida e eficiente
Rondon está ciente dos desafios, porém acredita que por meio da educação ambiental e envolvimento das autoridades, as escolas e a população em geral seja possível reduzir a pesca predatória e incentivar o pesque-solte, proposta ainda resistente na região. Na parte operacional, conta com o apoio do comando-geral para reativar o posto de um grupamento na foz do Rio Apa, afluente do Paraguai, o pelotão recebeu viatura e equipamentos modernos e terá reforço policial.
“Estamos reestruturando o nosso pelotão, em breve teremos um alojamento, para atender inclusive outras forças policiais, e com a chegada de viatura e barcos novos e computadores, entre outros equipamentos, teremos melhores condições de trabalho e capacidade de resposta mais rápida e eficiente”, informa. A área sob jurisdição do pelotão é extensa: 180 km de Rio Paraguai, da foz do Apa ao Fecho dos Morros, no limite com Corumbá, e ainda o Pantanal.