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Os limites das certezas

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O “conjunto de valores, individuais ou coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens”

Por Léo Rosa de Andrade*
Leo Rosa de Andrade

No Facebook, a frase de Nietzsche extraída de Assim Falava Zaratustra: “Homens convictos são prisioneiros”. Do que seria prisioneira a pessoa convicta? Seria prisioneira dos limites da sua convicção.

Convicção é opinião assentada a respeito de alguma coisa. Nietzsche falava de convicções que opinioso\as adquirem e às quais se apegam obstinadamente: convicções (ideológicas) de pensamento.

Adriano Gregório comenta a publicação. Edito: “convicções como certezas inflexíveis certamente inviabilizam transição de ideias, então, barram a chegada do super-homem proclamada por Zaratustra.

Ocorre que são opiniões arraigadas que nos permitem acordar todos os dias e não encarar cada minuto de nossa existência como uma infinidade assustadora de possibilidades. Carecemos da certeza cotidiana.

Uma vida com ausência de certezas tem o fio de realidade no qual nos sustentamos rompido, e o que sobra é obviamente loucura. Assim, certezas são essenciais ao desenvolvimento da vida humana”.

Gregório se modula: “O problema não está em sustentar uma convicção, mas em nutri-la como verdade absoluta. Certezas engessam aqueles que se apegam a elas tão fortemente que, sem elas, não existiriam”.

Então remata com uma hipótese que, conjecturo, Zaratustra avalizaria: “Quem sabe se certeza significasse a ausência de uma melhor e mais sólida opinião, aí faríamos das barras da prisão uma escada”.

O comentário polemiza tema central em Nietzsche: as formatações ideológicas – as religiosas sobretudo – condicionam o humano a viver os valores morais circulantes sem indagá-los e, pior, convicto deles.

A moral estabelecida é mesmo um “conforto” existencial. Ela nos dá as certezas de que precisamos para tocar a vida. Forma as balizas do bem e do mal. É como uma fórmula oferecida pelo\as “sábio\as do mundo”.

A moral que nos vincula, todavia, nos adstringe as aventuras da existência. Quem tem prescrições morais como certezas torna-se cativo\a do prescrito e se esquece de sondar o mais, reprimindo até a imaginação.

Moral: o “conjunto de valores, individuais ou coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens” (Houaiss). O busílis está no “universalmente”.

Sistemas de valores são objeto de estudo da ética. A ética investiga os sentidos dos preceitos morais, buscando compreender as razões de sua validade; não defende um código moral, mas o faz objeto de estudo.

Inexiste moral universal. Moral é doxa: “sistema ou conjunto de juízos que uma sociedade elabora em um determinado momento histórico supondo tratar-se de uma verdade óbvia ou evidência natural” (Houaiss).

Ética é episteme: compromisso com o conhecimento, com o abandono, se for o caso, de juízos, valores, paradigmas. Um investigador sensato sabe que não terá neutralidade, por isso submete-se a métodos.

E Nietzsche tem razão: as mais seguras certezas são refutáveis. E quem tem certezas até pode ser ingênuo\a ou alienado\a, mas é, antes, autoritário\a, e se tiver meios impõe suas convicções ao mundo.

Neste momento em que o maniqueísmo político viceja, quiçá Nietzsche tenha razão: essa toda certeza – que refestela um e outro lado – talvez seja apenas a ausência de melhor e mais consistente reflexão.

(*) Léo Rosa de Andrade é doutor em Direito pela UFSC, psicanalista e jornalista.

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