Estudo divulgado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostra que o trabalho das pessoas é mais barato
Estudo sobre os temores de que a Inteligência Artificial (IA) pode substituir os seres humanos em diversos setores aponta que, pelo menos por enquanto, apenas 25% das tarefas realizadas pelas pessoas podem ser substituídas pelo modelo inovador de automação. O que impede o avanço mais rápido da IA é o alto custo. O estudo foi divulgado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
O MIT, ou Massachusetts Institute of Technology, é um dos principais centros de estudo e pesquisa em ciências, engenharia e tecnologia do mundo.
A experiência de introdução da IA no mundo do trabalho tem alcançado resultados positivos, especialmente em setores públicos, onde a questão de custo não interfere na avaliação custo-benefício, que norteia os investimentos na área privada. A adoção da IA em diferentes setores se acelerou no ano passado depois que o ChatGPT da OpenAI e outras ferramentas generativas mostraram o potencial da tecnologia.
Em Mato Grosso do Sul a IA tem sido uma grande aliada do Judiciário, onde era “humanamente impossível” vencer o numeroso volume de processos à espera de decisões apenas com o trabalho manual. Na linguagem popular, para um setor público de alta demanda por serviços, a IA tem sido “uma mão na roda” (ajuda no momento de grande importância).
Mão na roda – O presidente do Tribunal de Justiça do Estado (TJMS), desembargador Sérgio Martins, disse em entrevista ao jornal Correio do Estado que o foco tem sido investir em tecnologia e desenvolver novas ferramentas e possibilidades. “Entre os pilares da nossa gestão estão disponibilizar suporte e fazer com que os cartórios dos servidores e as pessoas tenham mais facilidade para trabalhar com equipamentos e com auxílio de todas as tecnologias”, afirmou.
Segundo Martins, a automação não suprime o trabalho humano, mas complementa e auxilia. A robótica de processos “é uma tecnologia que facilita a construção, a implantação e o gerenciamento de robôs de software que imitam ações humanas, interagindo com sistemas de softwares digitais. Assim, na medida do possível, essas tecnologias são implantadas na rotina de trabalho do Poder Judiciário, acelerando a prestação jurisdicional”.
A inteligência artificial opera “em tarefas que não demandam análise, assim são terceirizadas para o robô, deixando para os servidores tempo para cuidar de outros itens no trâmite do processo”.
Mercado de profissões
A adoção de IA no mercado das profissões, com todos os receios que a acompanham, não andaria longe daquela que foi a experiência da introdução da máquina no processo produtivo. Não desapareceram os empregos, havendo, porém, a necessidade de requalificação dos trabalhadores.
De acordo com os especialistas, se a IA pode deixar de ser vista como inimiga do mundo do trabalho, não é menos certo que são muitos os problemas que – para além da magna questão da perda de postos de trabalho – se podem colocar a este processo, principalmente em relação ao Direito do Trabalho, como a discriminação, intromissão na vida privada e precarização.
Leia também:
Inovação e IA tornam parte do trabalho do jornalista descartável
A convivência do jornalismo (e outras profissões) com a Inteligência Artificial
Uso de IA é ‘vantagem competitiva’ para empresas, diz MIT
A publicação do MIT mostra que os altos custos podem ser considerados momentaneamente, pois o mundo vive a primeira onda dessa tecnologia. O assunto foi tema de reportagem da Agência Bloomberg, com base em artigo assinado por Neil Thompson, juntamente com Maja S. Svanberg e Wensu Li do MIT FutureTech, Martin Fleming do The Productivity Institute e Brian C. Goehring do Institute for Business Value da IBM.
O artigo apresenta um modelo inovador de automação de tarefas de IA. Ele oferece uma estrutura de avaliação de ponta a ponta, com foco em determinar o desempenho técnico necessário para as tarefas, definir as características dos sistemas de IA capazes desse desempenho e tomar decisões econômicas sobre seu desenvolvimento e implantação.
Segundo a reportagem, em uma das primeiras sondagens aprofundadas sobre a viabilidade da migração de mão de obra para a IA, pesquisadores do MIT modelaram a atratividade do custo da automação de várias tarefas nos Estados Unidos, concentrando-se em empregos em que a visão computacional era empregada – por exemplo, professores e avaliadores de propriedades.
Eles descobriram que apenas 23% dos trabalhadores, avaliados em termos de salários em dólares, poderiam ser efetivamente substituídos. Em outros casos, como o reconhecimento visual assistido por IA, que é caro para instalar e operar, os humanos fizeram o trabalho de forma mais econômica.
O site Bloomberg Línea, da rede de televisão americana, diz que as empresas de tecnologia, desde a Microsoft (MSFT) e a Alphabet (GOOGL), nos EUA, até a Baidu (BIDU) e o Alibaba (BABA), na China, lançaram novos serviços de IA e aumentaram os planos de desenvolvimento – em um ritmo que alguns líderes do setor advertiram ser imprudentemente rápido. Os temores sobre o impacto da IA nos empregos têm sido uma preocupação central há muito tempo. Acreditar que “as máquinas vão roubar nossos empregos” é um sentimento frequentemente expresso em épocas de rápidas mudanças tecnológicas.
Essa ansiedade ressurgiu com a criação de grandes modelos de linguagem”, disseram os pesquisadores do Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial do MIT no artigo de 45 páginas intitulado “Beyond AI Exposure” (Além da exposição à IA).
Visão computacional, no varejo e na saúde
A reportagem da Bloomberg Línea sobre a publicação explica que a visão computacional é um campo da IA que permite que as máquinas obtenham informações significativas de imagens digitais e outras entradas visuais, com suas aplicações mais onipresentes aparecendo em sistemas de detecção de objetos para direção autônoma ou para ajudar a categorizar fotos em smartphones.
A relação custo-benefício da visão computacional é mais favorável em segmentos como varejo, transporte e armazenamento, todas as áreas em que o Walmart (WMT) e a Amazon.com (AMZN) são proeminentes.
Também é viável no contexto dos cuidados com a saúde, segundo o documento do MIT. Uma implementação mais agressiva da IA, especialmente por meio de ofertas de assinatura de IA como serviço, poderia ampliar outros usos e torná-los mais viáveis, disseram os autores do artigo.
Os pesquisadores lembram que o estudo mostra que haverá mais automação no varejo e na área de saúde, e menos em áreas como construção, mineração ou imóveis.
Bases do estudo
O estudo foi financiado pelo MIT-IBM Watson AI Lab e usou pesquisas online para coletar dados sobre cerca de 1.000 tarefas com assistência visual em 800 cargos. Atualmente, apenas 3% dessas tarefas podem ser automatizadas de forma econômica, mas isso pode aumentar para 40% até 2030 se os custos dos dados caírem e a precisão melhorar, segundo os pesquisadores.
A sofisticação do ChatGPT e de seus rivais, como o Bard, do Google, reacendeu a preocupaçãocom a substituição de empregos pela IA, já que os novos chatbots demonstram proficiência em tarefas que antes só os humanos eram capazes de realizar.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou recentemente que quase 40% dos empregos em todo o mundo seriam afetados e que os formuladores de políticas públicas precisariam equilibrar cuidadosamente o potencial da IA com as suas consequências negativas.
No Fórum Econômico Mundial em Davos, na semana passada, muitas discussões se concentraram no deslocamento da força de trabalho pela IA. O cofundador da Inflection AI e da DeepMind do Google, Mustafa Suleyman, disse que os sistemas de IA são “fundamentalmente ferramentas de substituição de mão de obra”.
Um estudo de caso do artigo analisou uma padaria hipotética. Os padeiros inspecionam visualmente os ingredientes para controle de qualidade diariamente, mas isso compreende apenas 6% de suas funções, disseram os pesquisadores. A economia de tempo e salários com a implementação de câmeras e um sistema de IA ainda está longe do custo dessa atualização tecnológica, concluíram.
“Nosso estudo examina o uso da visão computacional em toda a economia, analisando sua aplicabilidade a cada ocupação em quase todos os setores e indústrias”, disse Neil Thompson, diretor do Projeto de Pesquisa FutureTech no Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial do MIT.