quinta-feira, novembro 21, 2024
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ONGs defendem saída de fazendeiros do Pantanal para salvar o bioma

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Mato Grosso do Sul enfrenta os incêndios florestais há 162 dias. Combate é feito sem trégua em todos os biomas

Gado se desloca por estrada ecológica asfaltada. Ongs defendem apenas a manutenção da pecuária tradicional, extensiva

Por Agência 24h*

O custo da permanência de fazendeiros (agricultores de soja e pecuaristas) no Pantanal é mais alto (com prejuízos irreversíveis à biodiversidade) do que os benefícios econômicos. A previsão é de que com a permissão de atividades econômicas potencialmente impactantes, junto com as queimadas cíclicas, o Pantanal deve desaparecer ao cabo de 50 anos. O agro é apontado como um dos responsáveis pelo desmatamento. Agora, está entrando o setor florestal, com plantio de eucalipto no entorno e impacto do transporte de madeira destinada à produção de celulose pelas estradas parques. Tudo licenciado pelo Estado.

A agenda ambiental divulgada pelo governo do Estado é de permitir a exploração de atividades econômicas sustentáveis, ou seja, devem estar atreladas aos programas de práticas sustentáveis, como foi regulamentada no Pantanal e na Serra da Bodoquena. As concessões, de acordo com a política ambiental do governo, não podem ser permissivas e precisam atender aos critérios estabelecidos pela Lei do Pantanal sancionada este ano. Pela lei, as regras valem a partir de agora e quem já estava explorando áreas no Pantanal deve se adaptar.

O climatologista Carlos Nobre, referência internacional em assuntos relacionados ao aquecimento global, alerta para o risco que os biomas brasileiros correm de deixar de existir diante do avanço do desmatamento, das mudanças do clima e da contribuição da ação humana na crise climática.

Ao falar no programa CNN Entrevistas, Nobre cita, por exemplo, o prolongamento da estação seca no sul da Amazônia, que está de quatro a cinco semanas maior do que há 40 anos. “Se ela chegar a seis meses ali não tem condição de manter mais a floresta amazônica. Seis meses de estação seca é o clima do Cerrado”, disse.

Nobre concorda com a declaração dada na última semana pela ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, de que o Pantanal pode deixar de existir até o final deste século. “O Pantanal vai desaparecer até o final do século. Pode até desaparecer antes do final do século. A área coberta pela água do Pantanal já diminuiu mais de 30% desde 1985. Então a ministra está muito correta de chamar a atenção”, afirmou Nobre.

Fogo é mais intenso na medida que os anos passam e ocupação do Pantanal é problema para a sobrevivência do bioma.
(Foto Joédson Alves – ABr)

De acordo com o portal National Geographic, as mudanças climáticas que vem ocorrendo em todo o planeta e a ação humana, por conta do desmatamento constante – na maioria das vezes para a agropecuária -, tem afetado cada vez mais o Pantanal, fazendo com que o bioma não seja mais t~]ao alagadiço e sim, seco e inflamável, ameaçando a grande riqueza de sua biodiversidade de fauna e flora.

Em um novo estudo, publicado em 26 de junho de 2024, e chamado “MapBiomas Águas”, realizado pelo MapBiomas (rede multi-institucional que reúne universidades, instituições e empresas de tecnologia), foi constatado que a superfície de água em todo o Brasil ficou abaixo da média histórica em 2023. Segundo a entidade, os biomas brasileiros estão sofrendo com a perda da superfície de água desde o ano 2000.

Nesse contexto, o Pantanal é um dos que mais perde com a diminuição de chuvas e a consequente redução hídrica do solo. O recente levantamento afirma que a superfície de água no Pantanal, em 2023, chegou a 382 mil hectares, 61% abaixo da média histórica feita pela instituição, que faz análises desde 1985.

Conforme outros estudos do Mapbiomas, quase 60% do Pantanal já foi atingido por incêndios florestais nos últimos 38 anos. E a situação das queimadas no bioma é agravada por conta da falta de chuvas que desde maio de 2024 está em situação crítica de escassez de recursos hídricos declarada pela Agência Nacional de Águas (ANA).

Apesar do desmatamento na Amazônia ter tido uma queda de 21,8% no último ano (de 2022 a 2023), segundo uma análise do Projeto de Monitoramento do Desmatamento por Satélite (Prodes) divulgada em maio de 2024, as consequências da devastação sofrida há tempos na região amazônica seguem tendo grandes impactos na natureza – e consequências em todos os biomas brasileiros, principalmente o Pantanal.

O Pantanal recebe diretamente as consequências desse quadro na Amazônia. Isso porque é o bioma amazônico que é o maior responsável por distribuir água pelo Brasil graças aos chamados “rios voadores”, segundo o portal National Geographic Brasil. 

“A Amazônia e o Pantanal enfrentam uma grave redução hídrica, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e econômicos. Essas tendências agravadas pelas mudanças climáticas ressaltam a necessidade urgente de estratégias adaptativas de gestão hídrica”, destaca Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do novo relatório MapBiomas Água.

INCÊNDIOS SE ALASTRAM

Com a continuidade da estiagem – baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas, os incêndios florestais se intensificam em todos os biomas no Estado. A Operação Pantanal 2024, montada com apoio do governo federal e ajuda de voluntários de outros estados, completa 162 dias. Ontem o governo do Estado anunciou linhas de crédito pelo FCO (Fundo Constitucional do Centro Oeste) para fazendeiros que tiveram prejuízos com os incêndios.

Conforme o governo do Estado, atualmente o combate é feito nas regiões do Paiaguás, Paraguai Mirim, Nabileque, Porto Índio, Miranda, Aquidauana, Costa Rica, São Gabriel do Oeste, Porto Murtinho, Naviraí (Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema).

Já o monitoramento é realizado nas regiões de Aparecida do Taboado, Água Clara, Estrada Parque (Corumbá) e Chapadão do Sul, segundo nota da assessoria de comunicação do Estado. .

A região do Pantanal sul-mato-grossense enfrenta condições climáticas que potencializam o risco de incêndios florestais. A previsão para os próximos dias continua sendo de estiagem, baixa umidade relativa do ar e temperaturas elevadas. Diante deste cenário, as equipes mantêm as ações de vigilância nas áreas atingidas e também nas regiões onde estão instaladas as 12 bases avançadas.

As temperaturas na região estão em condições extremas, com registros que chegam a 40°C, vento com rajadas de quase 50 km/h e umidade relativa do ar em 10% na maior parte do Estado.

Com atuação para controle e extinção das chamas nos diferentes biomas presentes em MS – Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica – o trabalho do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar) é intenso em Miranda, onde foi realizado alijamento (soltura de água para contenção das chamas) com o apoio da aeronave KC-390, nas três frentes microrregião do Salobra, Betione e Retiro Chora, que contam com combatentes e como prioridade de proteger os moradores ribeirinhos.

Na região do Paiaguás, é realizado combate a focos ativos que estão próximos à divisa com o estado do Mato Grosso, onde o fogo está às margens do Rio Piquiri.

Na área do Paraguai Mirim desde terça-feira (9) os bombeiros fazem o combate aos focos que ameaçavam a comunidade local.

Outro local que demanda atuação constante das equipes é na região do Porto Índio, na fronteira com a Bolívia, onde os bombeiros atuam há sete dias. Um segundo foco – mais ao sul, também próximo ao país vizinho – tem acompanhamento dos militares desde domingo (8). A área em chamas no Porto Índio é de difícil acesso e mobiliza transporte de militares com uso de aeronaves.

(*) Com informações do governo do Estado e agências

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