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Terra de oportunidades, efervescência cultural e qualidade de vida

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125 anos depois, quase tudo em Campo Grande remete à sua história, moldada por uma diversidade de costumes e interação com o meio ambiente.

Lago do Parque das Nações Indígenas, principal cartão postal de Campo Grande (Foto: Edemir Rodrigues)
Por Agência 24h*

Campo Grande completa 125 anos em 26 de agosto. Segue preservando seus traços históricos e faz questão de cultuar tradições trazidas pelos imigrantes. Da mistura de raças e costumes nasceu a identidade da cidade, que também ganhou o nome de Morena devido ao solo avermelhado e ao clima tropical.

Com paisagens deslumbrantes, praças, parques e pontos turísticos que mantêm viva a cultura e a sua história, a Cidade Morena, como foi apelidada, tem muito a oferecer e contribuir com a qualidade de vida de seus moradores e exemplos de sustentabilidade aos visitantes. Sobre a sua história permanece a curiosidade sobre a origem do nome. São duas versões: A primeira está relacionada à existência de um vasto campo na região sudoeste da vila. Já a segunda diz que José Antônio falava para os visitantes que “o campo é grande”, referindo-se ao tamanho do território.

A cultura é muito diversa, rica e efervescente, por reunir elementos de diversas tradições e costumes, trazidos pelos povos portugueses, africanos, paraguaios, libaneses, japoneses, sem contar a cultura regional dos vários estados brasileiros e a herança indígena. Na capital são quatro aldeias – Água Bonita, Noroeste-Kaiowá, Inápolis e Marçal de Souza – urbanizadas, mas conectadas como extensões das etnias que vivem em seus territórios de origem.

A troca das reservas naturais pela vida na cidade não foi opção, mas sim necessidade. De qualquer modo, os indígenas preservam todas as tradições e assim permitem que a mestiçagem de costumes mantenha a diversidade que caracteriza a identidade cultural de Campo Grande.

Não é por menos que uma das curiosidades de Campo Grande são as diversas colônias de imigrantes que se espalham pela cidade, como a expressiva colônia japonesa originária da ilha de Okinawa Kenjin. Teria sido fundada nos anos 1920, porém existem indícios que mostram que antes dessa época já existiam colônias desses imigrantes. atraídos por oportunidades ou em fuga da guerra..

SUSTENTABILIDADE

Bioparque Pantanal – (FOTO: BRUNO REZENDE)

A possibilidade de contemplar animais na natureza e vislumbrar no horizonte imponentes torres indicando o progresso faz de Campo Grande uma das melhores cidades para se viver. Principalmente porque o progresso se busca não mais sem medir impactos, mas de forma harmônica, dentro de um novo conceito de desenvolvimento – a sustentabilidade.

De dois anos para cá Campo Grande afirmou em sua característica, também, a consciência ambiental, incorporando práticas sustentáveis e assim justificando seu aspecto cênico moldado pelos parques e monumentos que valorizam os recursos naturais.

Um exemplo de grande visibilidade é o Parque das Nações Indígenas, onde está instalado o Bioparque Pantanal, emoldurado como espaço da ciência e do conhecimento dos ecossistemas naturais e que precisam, de todas as formas, ser preservados às gerações futuras.  O maior aquário de água doce do mundo é, sem dúvida, o principal monumento de Campo Grande capaz de contribuir para a consciência ambiental, atraindo, por isso, grande número de visitantes, inclusive turistas de outras partes do planeta.

O Bioparque Pantanal foi mencionado pela Revista TIME como um dos 50 melhores lugares para se visitar, justamente pela grandiosidade como elemento ecológico, comportando 230 espécies de peixes (80% originários do Pantanal). O maior dos tanques, o Neotrópico, representa uma floresta inundada da Amazônia, com troncos de grandes árvores, cipós e plantas submersas. Alguns reservatórios abrigam espécies da África, Américas, Ásia, Europa e Oceania. Isso possibilita aos visitantes conhecerem a representação de diferentes ecossistemas do mundo, como a floresta boreal asiática.

Área central de Campo Grande vista de cima (Foto: Rachid Waqued)

Gestos tão simples como o passeio na Avenida Afonso Pena e a roda de tereré, repetidos por gerações, se tornaram tão emblemáticos que o local, além de palco político e de manifestações populares, virou cenário das expressões artísticas. E a cultura, tão miscigenada, se assentou também na revitalização do rico patrimônio histórico, valorização da culinária, do artesanato e da produção intelectual, através da música, dos monumentos retratando a fauna dos Cerrados e do Pantanal e das artes plásticas com traços da bovinocultura.

O início

Marco Zero – Cruzamento da rua 14 de Julho com a avenida Afonso Pena (Foto: Arquivo Público)

Primeiros dados sobre as origens de Campo Grande datam de 1867. Mas somente em 1872, vindo do Triângulo Mineiro, atraído pelas notícias de terras férteis, José Antônio Pereira aportou na região, montando um rancho com folhas de buriti à margem do córrego Prosa, onde se junta ao Segredo – hoje o Horto Florestal.

Aqui ele encontrou José Nepomuceno, que já possuía um rancho à beira da trilha, por onde boiadeiros passavam para ir até o município de Nioaque (ao Sudoeste) e Camapuã (ao Norte). 

No Instituto Histórico e Geográfico em Campo Grande há novas informações que indicam, segundo o historiador Hildebrando Campestrini, que os primeiros bandeirantes chegaram na região no século XVIII. Para a surpresa de muitos deles, já havia gente por aqui. “Desde caçadores, pré-históricos até índios habitaram por aqui”, diz o arqueólogo, Gilson Martins. 

Amplos parques colocam Campo Grande como a Capital da Sustentabilidade

Durante dois anos, o arqueólogo fez escavações na área do Parque das Nações Indígenas, descobrindo no local um dos maiores sítios arqueológicos de Campo Grande.

“Os índios também não tinham uma coexistência pacífica entre eles. Eram grupos e sistemas culturais bem distintos na língua, na mitologia, nos hábitos e também no espaço. Cada um tinha o seu território e defendia o seu território como qualquer povo faz”, conta o arqueólogo sobre a área onde, coincidentemente, está instalado o Museu Dom Bosco – da História Natural, também conhecido como Museu do Índio. 

Campos de Vacaria

 “Uma légua a mais e entramos em um campo grande. Esta extensa campina constitui o vastíssimo chapadão de mais de 50 léguas de extensão.” 

Relógio, que agora foi modernizado e é digital, é uma das principais referências de Campo Grande

Esta é a descrição de Campo Grande em 1867, feita pelo tenente Alfred Taunay – o Visconde de Taunay.
“Ele foi por cima de um morro comprido até onde, mais ou menos, fica a Universidade Católica Dom Bosco hoje. O caminho natural era passando aqui por esse terreno onde hoje fica o Colégio Militar”, conta o coronel e professor Francisco José Mineiro Júnior. 

Ninguém imaginava que a história tão distante poderia ter passado tão perto.  “É bom mostrar para os alunos que a história está no dia a dia. A importância dela não está em decorar um monte de datas e nomes, mas perceber o quanto esses nomes e fatos que aconteceram há 100, 200 ou 1 mil anos influenciaram no dia a dia”, ensina o professor. 

A história vista de perto parece ter deixado novas marcas. O padroeiro de Campo Grande é Santo Antônio até hoje. Fé trazida por José Antônio Pereira. 

Desbravamento

Casa onde morou José Antônio Pereira, fundador de Campo Grande, hoje Museu da História da cidade (Foto: Edmir Conceição)

Arraial de Santo Antônio – Toda cidade tem sua história ligada a um princípio, um porto ou uma estação de estrada de ferro.

Com Campo Grande foi diferente; nasceu em pleno sertão, por iniciativa do espírito arrojado e do pioneirismo de José Antônio Pereira.

A origem do nome Arraial de Santo Antonio vem de uma promessa feita por José Antônio a Santo Antônio de Pádua em razão de uma epidemia em Santana do Paranaíba (Bolsão), a caminho de campos de Vacaria. A promessa foi cumprida em 1877.

Após esse ano novas caravanas foram chegando ao povoado. A primeira escola foi aberta em 1889 pelo mestre José Rodrigues Benfica.

Notícias de Vacaria 

Avenida Afonso Pena se tornou cartão postal de Campo Grande desde a fundação da cidade

José Antônio Pereira nasceu em 19 de março de 1825, na cidade de Barbacena (antigo arraial de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo). Ainda jovem mudou-se para São João de Del Rei, onde se casou com Maria Carolina de Oliveira.

A existência de extensas áreas de terra devolutas ao sul da Província de Mato Grosso atraiu interesse de José Antônio Pereira. Em 4 de março de 1872 empreendeu sua primeira viagem vindo por fim a se estabelecer definitivamente pelos campos grandes de Vacaria. 

Emancipação do Arraial

26 de agosto de 1899 seria um dia de festa na Vila de Santo Antônio de Campo Grande. Na igreja do protetor, o dois sinos dariam um som festivo. Aglomerações, foguetórios, churrascos, folguedos, entrariam pela noite ao som de catiras e polcas paraguaias. Afinal depois de antigas e insistentes reivindicações, o governo estadual assinava a resolução de emancipação da vila, criando o município de Campo Grande. 

Essa festa, entretanto não aconteceu. Por uma razão muito simples: ninguém sabia.
Na época, não existia rádio, telefone estava longe. O telégrafo era um projeto que Rondon no começo do século faria a aventura de implantar. O correio já existia no papel, criado para a vila pela administração geral de Cuiabá, cinco anos antes da emancipação. Mas ninguém ficou sabendo… Pela falta de correio.

Após esse dia, Campo Grande iniciava a trajetória de pujança, atraindo cada vez maiores levas de habitantes de São Paulo, Paraná, Nordeste e região Sul.

A independência político-administrativa de Campo Grande veio em 26 de agosto de 1899, tendo como seu primeiro prefeito Francisco Mestre. Com a criação da comarca, em 1910, a cidade ganhou seu primeiro juiz – Arlindo de Andrade Gomes e o primeiro promotor de Justiça = Tobias de Santana. 

As ideias modernizadoras dos primeiros administradores influenciaram várias áreas, da pecuária ao urbanismo, e foi traçada a zona urbana com avenidas e ruas amplas e arborizadas.

A antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) teve, finalmente, papel indutor do desbravamento, com a ligação Leste-Oeste em 1914, integrando as bacias dos rios Paraná e Paraguai aos países vizinhos, fazendo de Campo Grande o grande centro de convergência. Com a criação do Estado em 11 de outubro de 1977, Campo Grande se torna Capital.

RELIGIOSIDADE

Catedral de Santo Antônio, a primeira igreja de Campo Grande

A religiosidade do povo campo-grandense tem forte apelo católico e se mantém presente nas tradicionais festas do Arraial de Santo Antônio e São Benedito, esta cultuada pela comunidade negra. 

Mas são predominantes, ainda, as religiões protestantes. Campo Grande possui uma das maiores populações evangélicas do País – Batista, Presbiteriana, Metodista, Luterana e Assembleia de Deus e templos pentecostais possuem muitos adeptos e apresentam crescimento mais acentuado do que o catolicismo. 

A imigração também impregnou a fé e atos litúrgicos do povo campo-grandense com suas crenças religiosas. Para a história de Campo Grande, a diversidade da religiosidade também reflete um pouco de sua história, como campo que se abriu a todas oportunidades e crenças.

O fundamental é estabelecer uma fraternidade, encontrando na natureza a compreensão do trabalho e as razões para a alegria mesmo em meio a uma vida muito dura.

Igrejas

A Catedral de Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio originou da a primeira igreja construída na cidade, por volta de 1880, em homenagem ao santo devotado por José Antônio Pereira. Foi demolida em 1922 para a construção da atual igreja matriz, que recebeu o título de Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio depois da bênção do Papa João Paulo II, em 1991. A criação oficial da igreja, no entanto, data de 7 de abril de 1912.

Anualmente os católicos promovem a Festa do Padroeiro, em 13 de junho, e as festas de Nossa Senhora da Abadia, em 15 de agosto, e de São Miguel Arcanjo, em 29 de setembro.

Igreja de São Benedito tem sua criação ligada à história da ex-escrava Eva Maria de Jesus, a Tia Eva. Líder de sua comunidade, ela construiu a igreja em 1910 para pagar uma promessa feita a São Benedito. 

A igreja foi decretada Patrimônio Cultural de Campo Grande em junho de 1998. A imagem de São Benedito, esculpida em madeira e trazida de Goiás por Tia Eva, permanece até hoje no local. Tia Eva faleceu em 1926 e seu corpo está sepultado em frente à capela. 

Desde 1905, os devotos do santo e descendentes da Tia Eva reúnem-se para a tradicional Festa de São Benedito, no mês de maio, que inclui eventos culturais, bailes, comidas típicas, leilões e jogos de quermesse, rezas e fogos de artifício, além da tradicional procissão.

As Paróquias mais antigas são de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, São José e São Francisco de Assis, esta localizada ao lado da Esplanada da NOB. E uma das poucas igrejas que ainda conservam sua arquitetura original. A Igreja São José foi erguida em 1938, possui belos vitrais e é uma das mais frequentadas na cidade.

IDENTIDADE CULTURAL

Afirmação cultural – Mestiçagem na música e na comida.

Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho, antigo Edifício das Repartições Públicas e primeira sede do Governo de MS

A música e a culinária são alguns dos componentes da ‘genética’ cultural. Pelo menos é isso que as características culturais do Brasil indicam e não poderia ser diferente em Campo Grande, centro de convergência de várias culturas.

Num país de tanta diversidade humana e ambiental, a cultura nos estados e nas capitais também é uma verdadeira colcha de retalhos de costumes e tradições.

Campo Grande é uma dessas cidades de identidade mestiça, que se afirma, sobretudo, pela música e suas comidas. As músicas associadas a polcas, guarânias e rock embalam um cardápio plural e exótico na culinária que nasceu híbrida, com produtos e preparos portugueses, indígenas, africanos, asiáticos e hispânicos.

Monumento ao sobá, iguaria trazida pelos imigrantes japoneses

Em Campo Grande é possível reunir, numa única mesa, o sobá da região central, o porco no rolete apreciado ao norte, a sopa paraguaia comum no sul, a linguiça típica do sudoeste, o peixe a pantaneira na telha do lado oeste e o arroz com gariroba e frango ao molho pardo com quiabo e pimenta malagueta, além do arroz com pequi herdados dos vizinhos mineiros e goianos.

Alguns pratos, no entanto, têm a preferência em todas as regiões – chipa (pão de queijo frito ou assado), churrasco com mandioca e “sopa” paraguaia, que na verdade é um bolo de queijo, milho e cebola, iguaria indispensável na mesa dos sul-mato-grossenses. Tudo isso depois de uma sessão de tereré, a bebida mais popular no Paraguai e também em Campo Grande, motivo para um bate-bate na roda de amigos.

A influência da culinária paraguaia tem razão de ser. O estado abriga 300 mil paraguaios, dos quais 80 mil concentrados em Campo Grande, região central, de onde essa cultura se espalha e impregna nos costumes sul-mato-grossenses, pois é cada vez mais aceita pela população.

O tereré se toma na guampa, mas não é chimarrão. Tem que ser supergelado, ao contrário do mate gaúcho, servido quente, na chaleira. Outros dois costumes ‘importados’ são a chipa e a sopa paraguaia. No auge da ferrovia, a cada estação os passageiros disputavam as vendedoras de chipa. Hoje ela é vendida nas ruas, em feiras e até pontos de ônibus por descendentes paraguaios.

A gastronomia reflete toda mestiçagem que existe na cultura campo-grandense. Se o tereré virou uma instituição, a chipa é frequente na mesa e a sopa paraguaia apreciada pela maioria, mesmo realçada com a regionalidade que altera, mas não muda a essência do prato.

Ao entardecer já virou coisa corriqueira as famílias e amigos irem para frente das casas tomarem a bebida e jogar conversa fora. Mesmo nas repartições públicas, escritórios e empresas particulares o tereré é apreciado.

Assim como o tereré virou instituição em Mato Grosso do Sul, o sobá vindo dos descendentes japoneses de Okinawa também é prato obrigatório nos restaurantes e é largamente consumido nas feiras livres da Capital, sempre às quartas-feiras e sábados. 

Música

Chamamé, bem imaterial de MS, é um dos componentes da genética cultural

Da época de ouro da música paraguaia à viola de Almir Sater, a música sul-mato-grossense tem muito a ver com o Pantanal e sofreu grande influência da viola do cocho na fronteira com a Bolívia e, sobretudo, do violão e da harpa. Não se faz festa sem uma dupla de paraguaios tocando harpa e violão. Mesmo não tendo destaque na grande mídia, a música do Paraguai influenciou demasiadamente os compositores regionais.

Artistas como Paulo Simões, Geraldo Roca, Geraldo Espíndola e Almir Sater flertam com guarânias, polcas e chamamés, misturam o guarani com o português e utilizam fatos da história como inspiração. Daí a referência em suas letras sobre ‘a fronteira em que o Brasil foi Paraguai’. Influenciados por esta trupe, surge a polca-rock levando ao extremo a fusão dos ritmos paraguaios com ska, reggae, funk, blues e rock’n roll

Chamamé – Outro costume que vem do Paraguai é o sapucai. A palavra quer dizer grito em guarani e são aqueles urros que se dá quando começa uma música agitada. Em MS bastam os primeiros acordes de uma polca paraguaia para alguém puxar os gritos. Os paraguaios usavam o sapucai também como sinais na lida do gado.
A pluralidade, especialmente da música, porém, é a grande motivadora da integração de culturas. Durante todo ano o estado promove essa integração, por meio de festivais e festas regionais. 

Imigração

A imigração, que se desencadeou no início do século XX em razão das necessidades de mão-de-obra nos campos e nas cidades também teve papel fundamental na construção da cidade e na afirmação da nova identidade cultural de Campo Grande. 

Uma afirmação tão forte que a Cidade Morena fez prosperar o Morenismo, movimento que busca realçar esse perfil nascido da miscigenação, formado a partir da junção das várias culturas, costumes e tradições de seus habitantes.

Festival do Japão,cultiva tradições incorporadas à cultura de Campo Grande

Campo Grande juntou as culturas dos espanhóis, italianos, portugueses, japoneses, sírio-libaneses, armênios, paraguaios, bolivianos, negros e índios e a qualidade de vida acabou por atrair pessoas de vários outros estados do Brasil, especialmente dos vizinhos São Paulo, Paraná e Minas Gerais, além Rio Grande do Sul.

Nas primeiras décadas do século XX, os espanhóis chegaram a Campo Grande. Depois vieram os italianos e os japoneses. Com o fim da construção da antiga NOB (Ferrovia Noroeste do Brasil), entre 1914 e 1915, muitos japoneses se fixaram em Campo Grande. 

Como havia deficiência na produção de hortifrutigranjeiros na região e os preços dos alimentos eram exorbitantes, um grupo de sete famílias formou um núcleo de colonização que se chamou Mata do Segredo, e foram estes pioneiros que impulsionaram o surgimento de outros núcleos de japoneses na região. 

A venda de frutas e verduras ainda hoje se concentra nas mãos dos japoneses no Mercado Municipal e na Feira Central com quase 80 anos de existência, que se transformou em ponto turístico da cidade, com suas barracas estilizadas, do sobá, yakisoba e espetinho de carne.

O deslocamento dos paraguaios para Campo Grande, no início do século passado, foi motivado pela busca de emprego e estabilidade econômica. Eles fixaram residência na Vila Carvalho, que já foi conhecida como Vila Paraguai. Dedicaram ao trabalho na lavoura, com a madeira, em serralherias e nas charqueadas. 

A influência de um povo alegre, festeiro e religioso hoje é percebida em nossa cultura, economia e gastronomia de forma significativa.

Finalmente, em 1912/1913 chegaram os sírios, libaneses e portugueses. Fugindo das guerras sangrentas que assolavam o Oriente, sírios, libaneses, turcos e armênios chegavam ao Porto de Santos. De Santos, partiram para o Porto de Corumbá, que era o portal de entrada para o Centro-Oeste e o polo comercial de Mato Grosso. Alguns seguiram para Campo Grande em lombos de burros e carretas puxadas por juntas de bois; outros, através da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. 

No início, mascateavam pelo interior do estado levando suas mercadorias ao mais distante vilarejo ou fazenda. O mascate virou comerciante e, na Rua 14 de Julho, Avenida Calógeras e Rua 26 de Agosto, começaram a montar suas lojas. Amim Scafe foi o primeiro comerciante árabe que chegou a Campo Grande, em 1894. A partir daí, outros foram chegando e se instalando.

Artesanato indígena

A cultura também é arraigada pelos costumes indígenas. Com uma das maiores populações indígenas, Mato Grosso do Sul tem muitas produções de artesanato, algumas delas tombadas como patrimônios imateriais, como a Viola do Cocho em Corumbá, a cerâmica terena, o artesanato Kadiwéu e as bugras de Conceição.

Artesanato indígena reúne produções de várias etnias

Toda essa produção se concentra nos pontos turísticos de Campo Grande, parada obrigatória dos turistas para seus destinos no interior do Estado.

As aldeias mais próximas dos centros urbanos abastecem as feiras com arroz, feijão, feijão de corda, maxixe, mandioca e milho, alimentos que formam a base de sua própria alimentação. Em Campo Grande eles estão ao lado do Mercadão Municipal.

A alternativa atual do artesanato Terena, como meio de subsistência, se dá, principalmente, através do barro, da palha, da tecelagem – atividades que representam um nítido resgate de sua arte ancestral indígena. A cerâmica é trabalho predominantemente feminino. 

Artesanato Terena (Foto: Edmir Conceição)

Os padrões dos grafismos usados pelos terenas são basicamente o estilo floral, pontilhados, tracejados, espiralados e ondulados. Eles produzem peças utilitárias e decorativas: vasos, bilhas, potes, jarros, animais da região pantaneira (cobras, sapos, jacarés que são chamados de bichinhos do pantanal), além de cachimbos, instrumentos musicais e variados adornos. 

O acabamento das peças é feito com ferramentas rudimentares: seixos rolados, espátulas e ossos.

O barro (massa) é preparado misturando aditivos (por eles chamados de temperos), para regular a plasticidade: pó de cerâmica amassado e peneirado, conchas trituradas e cinzas de vegetais. Numa fase anterior são retirados da argila resíduos como restos de vegetais e pedras. 

As queimas são feitas em fogueiras a céu aberto ou em rudimentares fornos, usando lenha como combustão. Os indígenas verificam o estado do ciclo da queima tilintando com um pedaço de taquara nas peças. Através do som obtido constatam o estágio da cozedura. 

  • As peças produzidas pelos Terena podem ser encontradas na Casa do Artesão de Campo Grande. Outras peças de artesanato indígenas estão expostos no Museu da História Natural.

Espaços públicos

Como a história só vale se for testemunha do tempo, a preocupação em resgatar a memória se reflete não apenas nas manifestações artísticas, mas na busca do resgate de sua memória, por meio da restauração de patrimônios históricos e construção de museus. Em Campo Grande há museus que trazem o passado ao presente e asseguram o registro atual para o futuro. 

Museu das Culturas Dom Bosco

O mais emblemático dos museus é também o mais simples. O Museu José Antônio Pereira, antiga sede da Fazenda Bálsamo, foi a casa do filho que ajudou o fundador a desbravar a região.

A casa, de arquitetura rural do século XIX, abriga pertences, utensílios e móveis da época, além de equipamentos rústicos, como peças de tear, monjolo, moinho de café, entre outros objetos, inclusive um penico. O carro-de-boi, que simboliza o desbravamento, está intacto num galpão ao lado da casa. A construção de barro de sopapo ou pau-a-pique foi restaurada, de modo a preservar suas características.

Um escultura em pedra granito no pátio do museu retrata Antônio Luiz Pereira, sua mulher Anna Luiza e a filha Carlinda. A casa foi construída por volta de 1880.

De apenas um único museu público e outros três museus privados, um deles mantido pela Missão Salesiana, Campo Grande ampliou seus locais históricos. A construção de museus públicos ocorre não apenas sobre novas edificações, mas sobretudo por meio da restauração de prédios históricos, do início do século passado, que têm relação com a cultura e processos de desenvolvimento econômico e social da cidade.

Museu de Arqueologia de Campo Grande

O Museu Arqueológico revela, por exemplo, que antes mesmo do descobrimento do Brasil os índios Guaicurus dominavam toda a região do Pantanal. 

Da agricultura de subsistência ao manejo do gado no Pantanal, dos rituais de caça e pesca ao artesanato. As atividades dos índios têm significado econômico e ganham incentivos do poder público. A presença é tão forte que Campo Grande tem até uma “aldeia urbana” – um núcleo de casas de alvenaria, mas com arquitetura semelhante a uma oca.

O principal parque leva o nome de “Nações Indígenas” e ali está o Museu da História Natural. Na entrada, os visitantes passam por um piso de vidro que reflete um cocar, símbolo do poder do cacique de uma aldeia. 

É por meio da produção artesanal, no entanto, que as principais etnias expressam seus costumes e moldam a cultura campo-grandense.

Monumentos

Morada dos Baís, museu que retrata a ocupação urbana (Foto: Denilson Secreta)

Os monumentos também preservam os elementos da formação cultural, como o Carro de Boi, que mostra a influência da bovinocultura e registra o início do povoado, por volta de 1872. 

Vindos de carros de boi, os pioneiros iniciaram a formação do povoado, construindo seus primeiros ranchos no local então conhecido como Mato Cortado. A obra no local onde acampou José Antônio, idealizada pela artista plástica Neide Ono, é composta de peças fundidas em alumínio e metal dourado sobre fundo de granito preto.

A figura do fundador de Campo Grande também está presente em uma placa no Obelisco e em um busto na esquina das avenidas Afonso Pena e Calógeras.

Busto de José Antonio Pereira, no cruzamento da avenida Afonso Pena com a avenida Calógeras (Foto: Edmir Conceição)

O processo de desbravamento e a ocupação, aliadas à vocação agropastoril, definiram o DNA cultural de Campo Grande, para onde se converge a maior parte das produções artísticas, seja pela música, seja por intermédio das artes plásticas, artesanato e dança.

A influência estética popular na maioria do artesanato regional pode ser percebida nas peças de cerâmica indígena (Terena e Kadiwéu) e nos trabalhos em madeira que pode ir de móveis aos utilitários em forma de gamelas, ou nos entalhes dos animais silvestres do Pantanal e do Cerrado.

Obelisco, primeiro monumento de Campo Grande

Os trabalhos em fibras naturais feitos com palhas de milho, juta ou salsaparrilha em traçados torcidos, são tão atraentes quanto os de tecelagem em redes, colchas, tapetes e faixas vindos de diversas regiões do Estado.

Conheça os espaços culturais

Concha Acústica Helena Meirelles – Inaugurada em 11 de outubro de 2003, sua estrutura foi planejada para que uma pessoa pudesse ser ouvida num raio de 30 metros sem elevar a voz. A Concha está localizada no Parque das Nações Indígenas, ao lado do Museu de Arte Contemporânea. 

Teatro Belas Artes: situado no Centro Municipal de Belas Artes.

Teatro de Arena da TVE – Situado no Palácio das Comunicações de Campo Grande.

Teatro de Arena do Horto Florestal – Possui capacidade para 2.000 pessoas.
Teatro de Arena do Parque Anhanduí – Localizado no Parque Anhanduí.

Teatro Dom Bosco – Parque das Nações Indígenas.

Teatro Fernanda Montenegro – Colégio Mace.

Teatro Glauce Rocha – Um dos principais e maiores teatros da cidade. Está localizado no campus da UFMS.

Teatro Manoel de Barros – Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo (Palácio Popular da Cultura).

Teatro Prosa – No Sesc do Horto Florestal.

Museu de Arte Contemporânea – Instalado no Parque das Nações Indígenas, o museu possui um espaço para exposição permanente com acervo de artistas plásticos.

Museu Dom Bosco – O Museu Dom Bosco foi criado em 1950 por padres salesianos e é conhecido como “Museu do Índio” ou “Museu da História Natural”. Fica no Parque das Nações Indígenas.

Praças e Parques

Cavaleiro Guaicuru, no Parque das Nações Indígenas (Foto: Edmir Conceição)

A qualidade de vida em Campo Grande se reflete no grande número de parques e praças, como o Parque das Nações Indígenas, Soter, Jacques da Luz, Ayrton Senna, Anhanduí, Prosa e Mata do Segredo.

Parque das Nações Indígenas – Considerado o maior parque urbano do mundo, com uma extensão de 119 hectares, o local oferece infraestrutura adequada para a prática de lazer e esporte. Possui uma pista asfaltada para caminhada de 4.000m, quadra de esportes, pátio para skate e patins, sanitários, lanchonetes, policiamento e um grande lago formado próximo à nascente do córrego Prosa. Disponibiliza também um local destinado a shows e apresentações. Cerca de 70% da vegetação do parque é formada por gramas e árvores ornamentais que fazem parte do projeto de paisagismo do parque. Uma grande quantidade de espécies de árvores são preservadas, como jenipapo, mangueira e aroeira.

Parque dos Poderes – Possui como característica a paisagem do cerrado. Os pequenos prédios que abrigam os diversos setores da administração estadual se espalham ao longo das avenidas, dando ao conjunto aspecto de perfeito equilíbrio ambiental. Destacam-se na paisagem a Torre da TV Educativa (apontada como a mais alta de alvenaria no País) e o Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, um dos maiores e mais bem equipados centros de convenções do interior do Brasil. Dirigir no parque à noite exige atenção para não atropelar algum animal (lobinhos, quatis e tatus) que mora na reserva vizinho. E também de dia, porque, principalmente nos fins de semana, o parque é tomado pelos ciclistas e adeptos de caminhadas.

Parque Ecológico do Sóter – Inaugurado no fim de 2004 e é um dos mais novos da cidade. Projetado como parque modelo, oferece área verde de 22 hectares, quadras poliesportivas, pista de skate e patinação, pista de cooper, ciclismo e quiosque com churrasqueira.

O Parque Estadual do Prosa – Anexo ao Parque das Nações Indígenas e Parque dos Poderes, possui área de 135 hectares onde fica a nascente do córrego Prosa. Local com trilhas para prática de esportes radicais. No mesmo parque estão situados o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) e espaços para exposições e venda de artesanatos regionais.

Parque Estadual Mata do Segredo – Possui 177,58 hectares e é utilizado também para fins de pesquisa científica, educação ambiental, recreação e turismo em contato com a natureza. Situado na zona norte de Campo Grande, pertence ao Exército.

Parque Florestal Antônio de Albuquerque – Conhecido como o Horto Florestal (desde 1956), possui uma área verde de 4,5 hectares. Abriga espaço de lazer e várias espécies de árvores nativas, preservando suas características próprias. O local dispõe de orquidário, espelho d’água com espaço para manifestações culturais, pista de bicicross, pista de skate, teatro de arena coberto para atividades múltiplas (capacidade para 2 mil pessoas), projeto de reflorestamento e paisagismo, biblioteca pública e centro de convivência para idosos.

Parque Jacques da Luz – Oferece um espaço amplo para eventos e exposições, além de contar com diversas quadras de esporte. Possui também oficinas culturais para diversas faixas etárias.

Praça Ary Coelho – Localizada no centro da capital, o local abrigou o primeiro cemitério de Campo Grande (na época, arraial de Santo Antônio), tornando-se praça em 1909 com o novo traçado da cidade. Em 1954 recebeu o nome de Praça Ary Coelho em homenagem ao Prefeito de Campo Grande, assassinado em 1952, em Cuiabá-MT.

Praça Cuiabá – Conhecida também por Monumento Cabeça de Boi, seu traçado topográfico foi feito em 1923, no início da construção dos quartéis e da Vila Militar do Exército. O local, na época da inauguração do Coreto (1925), ainda não era uma praça, mas apenas uma rotatória na confluência das ruas Dom Aquino, Marechal Rondon e Duque de Caxias.

Praça das Araras – Dispõe de quadra esportiva, espelho d’água, parque infantil e o monumento das araras. Também conhecida como Praça União, foi inaugurada junto com o Mercado Municipal em 1964. 

Praça Esportiva Belmar Fidalgo – Possuindo toda infraestrutura esportiva, foi construída em 1933 como estádio de futebol e, em 1987, tornou-se uma praça esportiva. Em 1994, o local passou por uma grande reforma. Possui duas quadras poliesportivas, arena para quadras de areia, pista de cooper, banheiros, duchas, campo de futebol suíço, playground infantil, área para ginástica, lanchonete, sede administrativa, muito verde e uma forte iluminação.

Praça dos Imigrantes – A praça é dividida em duas partes: uma com lanchonete e banheiros e outra com 30 estandes onde são vendidos trabalhos artesanais. Neste local, ainda há um minipalco que é utilizado para apresentações em dias comemorativos, como Dia das Mães, Dia do Artesão e Dia do Índio.

Praça Lúdio Martins Coelho – Conhecida também por Praça Itanhangá, é uma área verde onde podem ser encontradas nascentes de água. Possui pista de cooper, quiosques e um parque infantil.

Praça Oshiro Takemori – Na praça funciona a Feira Indígena, que possui três quiosques em formato de oca onde são comercializados produtos naturais (raízes medicinais, palmito, variedades de pimenta, milho verde, abóbora e conservas de pequi), além de peças de artesanato indígena. 

Parque Airton Senna

Praça da República – Conhecida como Praça do Rádio, por ficar em frente à sede do Rádio Clube. O terreno pertencia à Diocese de Campo Grande, que fez uma permuta com a Prefeitura Municipal para a construção da praça. No local, costumam acontecer feiras e shows musicais. A praça também abriga uma pequena loja de artesanato regional.

Praça Vilas Boas – Conhecida também como praça do peixe, por ter um formato semelhante ao de um peixe. Foi toda revitalizada e é mantida pelos moradores. O Bairro Vilas Boas concentra muitos artistas plásticos, artesãos e músicos.

Monumentos 

Os monumentos também são marcos da história de Campo Grande, com traços arquitetônicos que identificam épocas da evolução urbana de Campo Grande, como o Monumento do Aviador, ao Índio Guaicuru, Imigração Japonesa

Monumento Carro de Boi (Esquina das ruas Fernando Correa da Costa e Ernesto Geisel): conhecido também por Monumento dos Imigrantes, Carro de Boi, Pantanal Sul e Relógio Central.

Calendário de eventos tradicionais

Veja o calendário de eventos tradicionais de Campo Grande:

Janeiro

Festa de Santo Reis – Em Campo Grande essa folia é feita geralmente em bairros, pois guarda características culturais das zonas rurais e do interior.

Fevereiro

Carnaval de Rua – Costuma durar 4 dias, tendo quatro shows noturnos e duas matinês.

Maio

Festa de São Benedito – São Benedito, santo protetor dos negros, é homenageado com uma semana de terço. No sábado acontece uma festa e, no domingo, um churrasco comunitário. A festa se tornou uma das mais tradicionais de Campo Grande. Desde 1905, os devotos do santo e descendentes da Tia Eva reúnem-se para a realização de eventos culturais, bailes, degustação de comidas típicas, leilões e jogos de quermesse, rezas e espetáculo com fogos de artifício.

Junho

Arraial de Santo Antônio – Arraial é realizado no dia 13 de junho, em homenagem ao padroeiro de Campo Grande. São montadas mais de cem barracas de brincadeiras, comidas, artesanato e comidas, sendo grande parte organizada por entidades assistenciais. Também há concurso de quadrilhas, fogueira de 100 metros de altura e shows musicais de artistas regionais e nacionais.

Agosto

Bon Odori – Festa típica japonesa onde os descendentes se reúnem para dançar. As danças tradicionais, embora sejam uma diversão, simbolizam o respeito aos antepassados. O festival é uma confraternização simbólica entre vivos e mortos. Realizado desde 1983 em Campo Grande, o Bon Odori já se tornou uma festa tradicional na capital, visto que reúne não só descendentes de japoneses, mas pessoas de todas as raças e crenças.

Dezembro

Festa de Nossa Senhora do Caacupé – Acontece no dia 8 de Dezembro. Nossa Senhora do Caacupé foi trazida da cultura religiosa paraguaia – “Virgencita de Caacupé” – e recebe homenagens durante missas e rezas seguidas de almoços, jantares à base de pratos usuais da cozinha paraguaia e bailes.

 CULINÁRIA

Influências da culinária regional

A culinária de Campo Grande incorpora vários sabores. As receitas são desenvolvidas com produtos regionais. Um exemplo é o nhoque de mandioca com molho de carne-seca. Também se destaca o churrasco de carne bovina (por conta da forte influência gaúcha) com mandioca (hábito adquirido com os índios). Para completar umas gotas de shoyu, tempero japonês a base de soja (shoyu = soja em japonês), que se tornou popular entre os campo-grandenses. Do Japão também veio outro prato típico: o sobá. 

Os peixes também têm sua importância gastronômica, sendo muito comum o pacu, dourado, pintado e piranha. A sopa paraguaia, também muito comum, é um tipo de bolo com milho, cebola e queijo. Outros pratos comuns são a chipa, semelhante ao pão-de-queijo, os feitos com pequi, como arroz ou galinha com pequi, além de guariroba e arroz carreteiro com charque.

Como bebida típica há o tereré (feito com infusão de erva-mate e água gelada), servido numa guampa geralmente de chifre de boi e com uma bomba, de fácil preparo e tomado nos encontros entre amigos e familiares. Existem regras bem definidas numa roda de tereré e que devem ser respeitadas. A bebida é consumida especialmente nos fins-de-semana, acompanhada de música regional.

Bailes ao som de Polca e Chamamé: a polca e o chamamé foram enraizados em Campo Grande pela contribuição dos paraguaios desde o último quarto do século XIX. Graças a essa influência, criou-se na região um ritmo chamado Polca-Rock. Na festa há ainda um ritmo regional denominado rasqueado e viola pantaneira. 

Os pratos da culinária em Campo Grande reúnem também especialidades de todas as regiões do Estado onde se instalaram os primeiros habitantes. Das comunidades indígenas, vieram o sabor da guariroba e do pequi.

De acordo com o Censo de 1991, Campo Grande tem mais de 1.350 índios vivendo em aldeias urbanas, em sua maioria da etnia terena, que tem a segunda maior população, com 20 mil indivíduos. Os que sobrevivem nas cidades produzem palmito (guariroba), feijão verde, milho, mandioca, jenipapo, laranja, caju e pequi. 

Sobá – Iguaria adotada por Campo Grande, o Sobá é uma dos principais símbolos da identidade cultural da cidade.

Trazido pelos japoneses originários da ilha de Okinawa, no Japão, que chegaram à cidade em 1908, o Sobá passou a ser oferecido nas feiras-livres —primeiro, reservadamente a japoneses e seus descendentes, depois, a todos que se interessassem— e acabou se tornando uma iguaria típica da cidade, perdendo a ligação com a passagem do ano, pois é saboreada qualquer época.

Sopa paraguaia – É bem possível que uma das coisas mais estranhas para um sul-mato-grossense explicar seja a sopa paraguaia, principalmente para quem não é da terra. Por definição, sopa é o alimento líquido que consiste basicamente em um caldo (de carne, galinha, peixe, legumes, etc.), podendo conter pedaços desses ingredientes e/ou massas, cereais, verduras, ou ser engrossado com farinhas diversas, e que geralmente se come acompanhado de pão, torradas etc. (Pode constituir sozinho uma refeição ou ser servido como primeiro prato quente). É assim que está no Dicionário Houaiss.

Toda vez que um sul-mato-grossense convida alguém para comer uma das comidas típicas aqui da fronteira fica só esperando o “fora” e a cara de surpresa que fazem quando se coloca à sua frente a sopa paraguaia, uma sopa que não é sopa, e sim uma espécie de torta… Ou suflê! E até sua historia é engraçada. Era para ser um caldo, à base de cebola, queijo, ovos e gordura animal.

(*) Matéria publicada primeiro em 23 de novembro pela Agência 24h*
Imagem do destaque: Saul Schramm

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